Um homem foi CANCELADO na internet por ter abandonado seus cachorros de raça nas ruas do Rio de Janeiro. Dias depois, o país descobriu que essa notícia era FALSA e, PIOR, revelava um caso INACREDITÁVEL de desaparecimento, estelionato e MORTE.
Vale lembrar que todas as informações que daremos nesse episódio vem de registros públicos da imprensa e liberados nos veículos de mídia pelas autoridades competentes. Todos os dados, nomes e detalhes citados nesse caso estão disponíveis na internet e as fontes estão na descrição desse áudio.
Além disso, é um caso muito recente, e novas informações relevantes podem surgir a qualquer momento. Caso aconteça, vou atualizar nas minhas redes sociais.
Jefferson Machado é um jornalista e ator natural de Santa Catarina que se mudou para o Rio de Janeiro para perseguir oportunidades na sua carreira. O Rio de Janeiro é, para o Brasil, o que Hollywood é para os atores dos Estados Unidos: é o lugar em que você deve estar se quer participar das grandes produções da TV e do cinema nacional.
Se você tem perfil noveleiro, pode já ter visto Jeff Machado, como era conhecido, em novelas da Record e da Globo, emissoras que têm cidade cinematográfica no Rio e que são líderes de audiência entre seus públicos.
Em 2023, Jeff se tornaria um nome reconhecido em todo o território nacional. Infelizmente, pelo pior motivo de todos.
De janeiro até hoje, junho, quando estamos gravando esse episódio, o ator foi cancelado por abandonar seus cachorros na rua, antes que todo mundo soubesse que ele estava, na verdade, desaparecido. E, depois de quatro meses de buscas intensas, seu corpo foi encontrado dentro de um baú que decorava a própria casa.
Esse crime chocou o país e o mundo.
A história que vamos contar hoje revela uma narrativa digna de roteiro de filme de terror, de série de suspense. Jeff foi protagonista de uma história horrenda que não precisaria acontecer se houvesse mais sinceridade e menos ódio no mundo. Sua morte nos mostra que a vida imita a arte, tanto nas partes boas quanto nas piores possíveis.


Um menino gay em um estado de cultura conservadora. Assim foi a juventude de Jefferson Machado da Costa, que sempre teve o sonho de ser ator e viver de arte. Em um post seu no Instagram, ele contou que seu pai era amante da caça esportiva e, quando ele era criança, chegou a levar uma surra por ter chorado ao ganhar uma espingarda. Ele era amante dos animais e não queria, de jeito nenhum, matá-los. Nem por esporte.
Mas algo daquela época foi muito importante para ele: seu pai tinha cães de caça da raça setter, muito utilizados nas expedições armadas pelas florestas brasileiras com essa finalidade. Ele não gostava de caçar, mas amava os cães de caça – e isso ficou em sua memória por toda sua vida.
Assim como muitos colegas de profissão, ele se formou em jornalismo, que é uma das muitas formas de ingresso nas emissoras de televisão do Brasil.
Ele é um de três filhos de Maria das Dores, uma professora de ensino fundamental na cidade de Araranguá, no interior catarinense. Um de seus irmãos, o mais velho, morreu tragicamente em um acidente de carro no início dos anos noventa, quando Jeff ainda era um adolescente. Seu pai morreu pouco tempo depois, ainda na mesma década. Seu outro irmão, Diego, foi muito importante para sua recuperação emocional depois da perda – e foi imprescindível até o final da vida de Jeff.
O ator foi para o Rio de Janeiro no fim em noventa e oito, tentar a vida de ator, e voltou para Santa Catarina pouco tempo depois, onde trabalhou como jornalista em Florianópolis por boa parte dos anos dois mil. Ele também passou anos como produtor de TV e teatro em Santa Catarina.
Foi lá por dois mil e dezoito ou dezenove que a carreira de ator parecia dar uma guinada finalmente deslanchar. Pouco antes da pandemia, voltou ao Rio e participou de novelas como Reis, da Record, e Bom Sucesso, da Globo. Para mais oportunidades, resolveu ficar por ali, no Rio mesmo, onde fixou residência.
Nela, vivia com seus OITO cães, todos da raça SETTER, aquela raça que o falecido pai de Jeff usava para as expedições de caça, lembra? É um cachorro de pedigree, e caro, por isso todos eles, que tinham nomes de astros da música brasileira, tinham chip de identificação e raça. A título de curiosidade, cada filhote de setter pode custar de dois mil e quinhentos a cinco mil reais. Ou seja, não é um animal barato, que exige manutenção constante. Mas Jeff dava a eles muito mais que isso: dava MUITO AMOR.
Ele mesmo dizia, nas redes sociais, que vivia de favor na casa dos cães, que a casa era deles, e não de Jeff, e apenas era um humano autorizado a estar lá.
Era público e notório que esses cães eram a vida de Jeff. Então foi muito esquisito MESMO quando, no fim de janeiro de dois mil e vinte e três, uma veterinária, amiga dele, recebeu uma ligação da ONG Indefesos, do Rio de Janeiro, com uma denúncia: os cães foram encontrados abandonados nas ruas de três bairros da Zona Oeste do Rio de Janeiro.
O abandono dos cães já era uma bandeira vermelha. Algo estava errado. Ele JAMAIS faria algo assim. A veterinária, então, mandou mensagens para Jefferson, perguntando o que tinha acontecido, e recebeu a resposta do próprio Jeff de que ele tinha ido a São Paulo e deixado os cães com um casal de amigos.
A veterinária, então, disse para ele que os cães foram encontrados em uma situação horrível. Estavam desnutridos e um tinha uma fratura exposta na perna. Depois, viemos a saber que dois deles morreram. Mas essa troca de mensagens entre a veterinária e Jeff foi essencial para o desenrolar do caso.
Porque quando a ONG Indefesos rastreou pelo chip quem era o dono dos animais, publicou em um grupo de WhatsApp e essa veterinária se encarregou de falar com o dono, logo a história foi parar nas manchetes como,
“ator da Record abandona cães de raça no Rio”
A internet fez o que a internet faz e, com rapidez, começou a cancelar Jeff por essa terrível maldade. Que, de fato, seria uma maldade enorme, se fosse verdade.
Mas não tinha como ser. Qualquer pessoa que visse essa manchete e buscasse o homem no Instagram veria que ele nutria um amor imenso pelos animais. Logo a família e a própria veterinária, além de amigos do Jeff, começaram a desconfiar que tinha coisas muito estranhas acontecendo até ANTES dos cães serem encontrados.
Mas foi nesse exato momento, com os cães, que a coisa toda desandou.
Jeff completou quarenta e quatro anos no dia dezenove de janeiro de dois mil e vinte e três e seu futuro parecia brilhante. Graças a um amigo, o produtor Bruno Rodrigues, ele iria estrear em uma novela global em vinte e cinco de janeiro, com um papel incrível, realizando um sonho.
Mas, nas mensagens trocadas com a família e amigos, ele não parecia TÃO animado quanto deveria estar. Ele contou para a mãe que estava na expectativa de ser chamado para o teste da tal novela, ainda, mas que o pessoal da emissora não tinha nem pedido a placa de seu carro, um Duster branco, para passar na portaria.
Esse é um procedimento padrão e de segurança, e documentos pessoais e placa de carro são sempre solicitados com bastante antecedência, mas Jeff não estava confiante de que ia rolar, já que ninguém o pediu NADA.
Ele ligava para a mãe todos os dias, lá em Santa Catarina, para papear. Mas, na época de seu aniversário, começou a se comunicar apenas por mensagens. Seu irmão, Diego, também falava com ele, com frequência, mas em uma das mensagens ele disse que seu celular tinha quebrado, caído na privada, e por isso ele não podia fazer ligações ou enviar áudio. Não conseguia falar e mal conseguia ouvir. Expressou até a vontade de ter uma grana logo para conseguir mudar de telefone.
Quando o caso com os cães estourou, e a internet começou a borbulhar, Jeff pediu a Diego, por mensagem, que acalmasse a mãe e que não a deixasse ficar chateada com o que saía na internet. Que ele deixou os cães com amigos e que estava em São Paulo, trabalhando, aflito com essas notícias e que iria voltar ao Rio para resolver.
Mas Diego não estava comprando essa narrativa. Ninguém estava. Jeff estava esquisito. Suas mensagens tinham palavras que ele não utilizava no dia a dia – como PRIVADA, por exemplo.
Pediu ao irmão que ligasse urgentemente. Jeff disse que ligaria, mais tarde. E Diego foi enfático na mensagem. Ele disse,
“Jeff, se você não ligar, eu vou chamar a polícia e registrar desaparecimento”
Então, Diego recebeu, sim, a ligação que tanto aguardava, vinte minutos depois. Mas, do outro lado da linha, não era Jeff. Era Bruno. O produtor e amigo de Jeff, o que tinha o colocado em uma novela da Globo.
Bruno de Souza Rodrigues atuava como assistente de produção na Rede Globo e conheceu Jeff Machado em dois mil e dezenove. A amizade logo decolou: além da afinidade profissional, eles também pareciam ter outras coisas em comum.
Jeff, que estava longe da família, logo viu em Bruno um amigo-irmão, que poderia auxiliá-lo em qualquer coisa. Tanto que, segundo Bruno, foi por isso que Jeff deixou as chaves da própria casa com ele quando foi embora para São Paulo com um homem desconhecido.
Foi isso que ele disse para a polícia quando Diego e Bruno foram à delegacia registrar o desaparecimento do ator, no dia vinte e sete de janeiro. Foi Bruno quem abriu as portas da casa de Jeff para Diego quando ele saiu de Santa Catarina para buscar informações sobre o irmão.
E, nos quatro meses em que Jeff esteve desaparecido, Bruno apareceu de muitas outras formas nessa história, protagonizando um caso macabro de inveja e crime.
Porque o que Jeff poderia não saber é que Bruno já não era assistente de produção há muitos anos. Há fontes que dizem que um dos motivos pelos quais ele foi mandado embora foi justamente esse negócio de subornar as pessoas por vagas que não existem.
Só que foi assim que Bruno se vendeu para ele, e literalmente. A família e os amigos de Jeff sabiam que o ator tinha desembolsado VINTE MIL REAIS para que Bruno conseguisse uma vaga para ele em uma novela da Globo. em uma cidade distante de casa, buscando um sonho que é tão difícil, que é ser um ator famoso, ele acabou acreditando. Caiu no golpe.
Recentemente surgiram diversas informações sobre como foi esse pagamento, parcelado, e algumas fontes dizem que esse pagamento envolveu até dinheiro da herança do avô de Jeff, que também acreditava muito na carreira do neto. Só que Jeff, desempregado, com oito cães e morando numa cidade cara como o Rio de Janeiro, já não tinha mais de onde tirar grana para que Bruno fizesse suas supostas conexões e entrasse na tal novela.
Então Jeff fez o que qualquer pessoa faria se desconfiasse ser vítima de estelionato: pediu o dinheiro de volta com a ameaça de expor Bruno caso ele não fizesse o que tinha prometido.
Bruno, ofendido com esse tipo de pensamento do amigo, o acalmou e disse que estava tudo certo, e que em janeiro mesmo a emissora o chamaria para o trabalho. Só que os planos do autoproclamado assistente de produção eram outros, bem diferentes…
Como eu disse no início desse episódio, o caso é recente e ainda nem foi julgado. O Bruno, aliás, até o dia do fechamento do nosso roteiro, era considerado foragido da polícia. Então, sobre os planos dele, o que vou relatar aqui é um compilado do que tem saído na grande mídia, tentando fazer uma linha do tempo dos acontecimentos. Não trago nenhuma informação nova e nem procuro fazer juízo de valor de Bruno, do segundo suspeito de envolvimento ou de Jeff. Apenas quero contar a história como a polícia diz, aos poucos, que ela se desenvolveu.
[possível linha do tempo]
No fim de dois mil e vinte e dois, Jeff já estava ansioso pela oportunidade que Bruno tinha prometido e nunca chegava. Ele tinha pago, como falamos, cerca de vinte mil reais para quem acreditava ser assistente de produção, mas era de uma forma ou de outro enrolado por esse homem.
Que, até onde sabemos, Jeff considerava mesmo como um amigo. Bruno sabia, inclusive, que Jeff estava passando por dificuldades financeiras, tanto que precisava contar com uma mesada da mãe e do irmão, no valor de dois mil reais, para fechar as contas de suas despesas no Rio.
Enquanto isso, Bruno alugou, em seu nome, uma casa na região de Campo Grande, no Rio de Janeiro, e contratou um pedreiro para obras específicas no imóvel. Ele disse a Francisco Carlos da Silva que precisava levantar um muro no imóvel, em uma espécie de área privativa ainda MAIS privativa. O espaço já tinha um muro, e ele queria aumentar. E foi o que o pedreiro fez.
Em vinte e um de dezembro do ano passado Jeff trocou lembranças de natal com um amigo veterinário, chamado André Meirelles, e combinou com ele que talvez precisaria deixar os cachorros aos cuidados desse amigo enquanto fizesse uma viagem para São Paulo, em janeiro.
Durante o mês de janeiro, Jeff cobrou uma postura de Bruno. O ator falou inclusive com a mãe, Maria das Dores, que estava achando muito esquisito a forma como o amigo o estava tratando ultimamente. Ele disse que, depois que os pagamentos terminaram, Bruno passou a ignorar suas mensagens.
Ele já suspeitava que estava sendo vítima de um golpe, mas não disse isso com todas as letras. A mãe tentou ainda acalmá-lo, dizendo que Bruno poderia apenas estar ocupado, e Jeff começou a acreditar nisso, que ele estava só ocupado.
Foi quando deu o ultimato em Bruno, sobre colocá-lo na novela ou devolver o dinheiro, que o assistente finalmente deu uma data, a de vinte e cinco de janeiro, para começar a novela.
No dia dezenove de janeiro, Jeff recebeu várias ligações parabenizando o ator por seu aniversário e falou com todo mundo, naquele misto de alegria e desânimo, porque a data da novela estava chegando e ele ainda não tinha formalizado nada.
Até o dia vinte e um de janeiro, data da última ligação que fez para sua mãe, Jeff ainda falava com todo mundo, respondia às mensagens, tudo normal. Chegou até a parabenizar o amigo André, com quem deixaria os cachorros, no dia vinte e dois de janeiro.
No dia vinte e três de janeiro, seu Renault Duster branco é multado ao ultrapassar à noite uma barreira policial sem parar. E, depois dessa data, por todas as vezes em que foi tentado contato telefônico com ele, Jeff não atendia. Dizia que só podia falar por mensagem, pois o celular estragou.
Seis dias depois, no dia trinta de janeiro, seu primeiro cachorro da raça setter é encontrado vagando pelas ruas da zona oeste do Rio, e a ONG Indefesos entra em contato com a família do ator no dia primeiro de fevereiro para avisar desse e de outros cachorros, que já tinham sido localizados pela mesma região.
Um deles foi, inclusive, visto perto da casa alugada por Bruno, em Campo Grande.
No dia quatro de janeiro, Diego Machado, irmão de Jeff, vai até o Rio de Janeiro, preocupado com o paradeiro do irmão, e é Bruno quem abre as portas da casa para ele. Diz que o viu pela última vez indo para São Paulo, na companhia de outro homem, que não soube identificar, e os dois vão até a delegacia prestar queixa de desaparecimento.
Com todos os cães encontrados e até mesmo colocados em adoção temporária, sendo que dois deles acabaram falecendo, Jeff estava desaparecido, mas ainda havia movimentação em seu cartão de crédito.
Aberta a investigação, a polícia começou a fazer o seu trabalho. E o que ela já sabia, mas não divulgou para a imprensa, ainda naquela época, que quando o carro de Jeff furou o bloqueio policial e foi multado, uma câmera de rua registrou os dois ocupantes do veículo. Nenhum deles era Jefferson Machado.
No banco da frente estavam Bruno Rodrigues e Jeander Vinícius da Silva Braga, de vinte e nove anos. Eles iam rumo à casa de Campo Grande, locada por Bruno.
Ainda no fim de janeiro, aquele pedreiro, o Francisco Carlos da Silva, que fez um puxadinho nos muros do imóvel, foi chamado novamente por Bruno. Dessa vez, para concretar o chão da área, que estava sem piso. Ele fez o serviço, pelo qual foi pago, e foi para casa.
Com o sumiço de Jeff ganhando a mídia, ele identificou Bruno nas fotos e foi até a polícia dizer o que sabia sobre aquele homem. Por causa dessa informação, em vinte e dois de maio de dois mil e vinte e três, o corpo de Jeff foi encontrado. Ele estava enterrado na casa alugada por Bruno, meses antes, debaixo do chão de concreto feito por Francisco.
[o corpo]
A polícia chegou ao local indicado e viu que, realmente, o piso estava bem mais novo que o restante do imóvel, que ainda tinha os novos tijolos dos muros bem aparentes. É como se a pessoa que fosse fazer qualquer coisa ali não quisesse mesmo que os vizinhos vissem.
Depois de quebrarem o concreto, ainda foi preciso cavar por cerca de dois metros, até que os policiais encontraram um baú. Esse baú pertencia a Jefferson e aparece em diversas fotos da casa do ator. Familiares e amigos dizem que ele adorava essa parte da mobília.
Eu não encontrei as medidas desse baú, mas as fotos estão por toda a internet e dá pra ver que é um baú bem pequeno. Jeff era alto, trabalhava como modelo também, e mesmo assim seu corpo foi colocado ali dentro. É um baú que caberia facilmente numa Duster, por exemplo… e é isso que a polícia acredita que aconteceu: naquela noite em que o carro furou o bloqueio, Jeff já estava morto, dentro do baú, e seus assassinos estavam indo enterrá-lo.
Depois de quatro meses nessa cova improvisada, o corpo estava em avançado estado de decomposição e os exames necroscópicos não conseguiram dar certeza sobre a forma de morte do ator, que foi determinada como inconclusiva.
Porém, alguns elementos dão uma ideia da tortura pelo qual o ator provavelmente passou antes de morrer.
Ele tinha as mãos e pés amarrados para trás e um fio de metal, parecido com um cabo de aço, em volta de seu pescoço, sugerindo estrangulamento. E, como o baú encontrado, e feito de caixão, pertencia à vítima, a polícia já tinha definido que o assassino conhecia a vítima e sabia que aquele baú seria uma boa forma de se desfazer do corpo.
Pra nós, que estamos vendo tudo de fora, foram quatro meses de desaparecimento de Jeff, mas para a polícia, o quebra-cabeças estava se montando desde o início. Há quem diga que as autoridades meio que já investigavam como homicídio, e aquela imagem do bloqueio policial os levou aos dois suspeitos, que logo confirmaram estar na cena do crime.
Bruno e Jeander Vinícius foram chamados para depor. Disseram que uma quarta pessoa estava na casa, e os quatro estavam fazendo um vídeo pornô de Jeander e Jeff. Bruno foi fazer não sei o que, Jeander foi tomar um banho, depois do vídeo, e quando ambos voltaram ao quarto, Jeff já estava morto. O tal Marcelo então teria dito que,
“é isso o que a gente faz com quem passa HIV,”
Esse Marcelo, que na narrativa dos dois é um miliciano poderoso, tinha mandado Jeander e Bruno enterrarem Jeff e não contarem nada para ninguém, senão eles teriam o mesmo fim do ator.
A polícia, contudo, não leva essa história em consideração, pois eles não apresentaram nenhuma prova de que essa pessoa existe. Ao contrário: só jogaram o nome no depoimento, que parecia combinado. Mas isso deu a eles certo tempo e, quando as autoridades pediram a prisão preventiva dos suspeitos, Bruno já estava foragido.
O cerco foi se fechando até que, na primeira semana de junho, Jeander Vinícius contou uma versão muito mais, digamos, aceitável do que aconteceu. Essa versão nos dá a dimensão da crueldade deste crime.
[a versão de Jeander]
Jeander Vinícius tem vinte e nove anos e diz ser um padeiro que faz bicos como garoto de programa. Ele contou que já teve Jeff como cliente e conhecia a vítima antes do dia do crime. Na ocasião, foi chamado por Bruno para ir até a casa do ator.
A proposta era gravar um vídeo de conteúdo sexual para ser disponibilizado em plataformas pagas de pornografia, com Jeff, e Jeander aceitou. Ele diz que o ato foi consumado, gravado, realmente, por Bruno, e que este teria dito a ele que era para ir tomar um banho, se lavar.
Quando Jeander voltou ao quarto, Jeff já estava morto, e Bruno teria dito a ele,
“agora você está comigo nessa”
Nessa versão, Jeander teria sido levado a participar da ocultação do cadáver porque Bruno o ameaçou de colocá-lo como cúmplice de todos os crimes caso eles fossem pegos.
Ainda não sabemos se Jeander revelou, no depoimento, como eles colocaram o corpo de Jeff no baú. Aliás, eles deram versões para isso, mas nenhuma delas explica, por exemplo, que, se Jeff estava morto, dentro do baú, porque o colocaram amarrado e com uma fita adesiva na boca?
Um homem alto, forte como Jeff, para um baú daquele tamanho, precisaria no mínimo ter alguns ossos quebrados pós-morte, para CABER ali dentro, mas essas lesões não foram encontradas. Ou, pelo menos, não foram divulgadas.
O que torna ainda pior a história, com a hipótese de que Jeff Machado pode ter sido colocado vivo dentro do baú. Que ele pode ter sido ENTERRADO VIVO.
Embora as investigações ainda estejam correndo, Jeander coloca Bruno como mentor intelectual do crime e assassino de Jeff. O garoto de programa já desmentiu, inclusive, essa história de um quarto homem chamado Marcelo. Disse que só tinha contado essa história porque foi ameaçado por Bruno.
Por outro lado, o foragido Bruno ainda é suspeito e seus advogados dizem que ele está esperando o melhor momento para se entregar e consolidar sua defesa, alegando inocência. Porém, existem algumas provas que não estão a seu favor.
Dias depois do desaparecimento de Jeff, por exemplo, Bruno é visto tentando vender o carro do ator em uma concessionária. A polícia rastreou até ele, também, as movimentações financeiras no cartão de Jeff, que provavelmente teriam sido feitas depois de sua morte.
A suspeita é a de que, com a data da tal novela prometida chegando, Bruno se viu sem saída. Para não ser pego em flagra no golpe, e exposto por Jeff, ele teria o matado. E o fato de que a casa de Campo Grande já estava locada há algum tempo é outra prova que depõe CONTRA Bruno, porque faz a polícia entender que o crime foi premeditado, o que agrava a pena do acusado.
Assim que essas etapas da investigação foram divulgadas, familiares e amigos de Jeff vieram à mídia falar sobre como Jeff tinha confiança em Bruno, ainda que, nos últimos dias, essa confiança tenha sido abalada. Eles também contaram que Bruno, desde que conheceu Jeff, em dois mil e dezenove, alimentava uma obsessão esquisita pelas coisas do ator, como se quisesse ser ele.
O próprio Jeff disse que, uma vez, ao voltar de uma viagem, ficou desconcertado ao ver que Bruno estava dentro de sua casa, usando suas roupas. Isso tudo sem permissão, claro. Mas a mãe do ator, Maria das Dores, diz que o filho morreu inocente. Que mesmo com essas coisas estranhas, ela nunca desconfiou de Bruno.
Quem já leu O Talentoso Ripley, ou viu o filme, vai encontrar semelhanças macabras entre a arte e a vida real a partir dessa obra específica.
O pedreiro Francisco disse, também, que Bruno parecia alguém acima de qualquer suspeita, que não desconfiou de nada, e ficou muito triste em saber que tinha concretado o piso onde Jeff tinha sido enterrado.
O crime, portanto, pode ter sido o encontro entre a oportunidade e a cobiça. Bruno queria passar a perna em Jeff, mas estava ficando sem tempo. E Bruno queria ter a vida de Jeff, as coisas de Jeff. Fontes afirmam, inclusive, que ele estava tentando sugerir que Jeff vendesse a própria casa, antes de supostamente matá-lo.
Foi por isso, talvez, que utilizou seus cartões de crédito, em compras pequenas, de vinte reais, e grandes, de mais de três mil, tentou vender seu carro e se passou por ele nas mensagens de celular que, hoje sabemos, não poderiam ter sido enviadas por Jefferson Machado.
Os cães, que o ator mais amava, foram largados na rua, seja por Bruno ou por quem quer que seja, como se nada significassem. O baú que Jeff adorava foi enterrado com ele, em uma forma macabra de demonstrar que ambos não tinham nenhum valor para o assassino.
E Jeff, infelizmente, alcançou aquilo com que sempre sonhou: se tornou nacionalmente famoso, sem ter a chance de demonstrar para o mundo sua arte e seu talento.
[o que falta saber]
Ainda esperamos as cenas dos próximos capítulos. Muitas pontas soltas demandam respostas. Por mais que tenhamos uma ideia da motivação do crime, pelo principal suspeito, essa certeza deve ser considerada apenas no júri.
Falta saber, ainda, se Jeff estava vivo ou morto quando foi enterrado. Se teve um filme pornô, se existe uma gravação, onde ela está? Jeff foi torturado antes da morte? Ele ficou em cárcere privado? Há mais alguém envolvido no crime?
É importante dizer, antes de partir para as considerações finais, que outras pessoas vieram a público dizer que foram vítimas das extorsões de Bruno, e que ele também as assediou para conseguir dinheiro em troca da vaga em novelas.
Se você, que me escuta, é uma dessas pessoas, não deixe de prestar seu depoimento à polícia. Eu sei que é difícil, a gente tem vergonha de ter passado por coisas como essas, e é muito normal querer esconder esse fato, até esquecer um golpe desses. Mas pense que essa é uma investigação policial onde uma pessoa PERDEU A VIDA e é muito importante que, caso Bruno seja de fato o assassino de Jeff, a acusação tenha todas as provas possíveis para buscar a justiça por esse crime hediondo.
Eu sou do Rio, tenho diversos amigos que são daqui ou moram aqui e sonham com a carreira na televisão, e nosso podcast graças a Deus é ouvido por muuuuuita gente, então fica aí meu apelo: se você foi uma vítima desse suspeito, Bruno de Souza Rodrigues, DENUNCIE. Seu depoimento pode ser muito importante neste caso.
[atualizações]
Recentemente, em entrevista para o canal do Beto Ribeiro, no YouTube, o advogado da família de Jefferson Machado, Jairo Magalhães, afirmou que quem deu a indicação do corpo para a polícia não foi o pedreiro, como a informação que foi levantada pelos órgãos de imprensa, mas sim o próprio Bruno, principal suspeito do crime.
Ele não deu um depoimento físico, mas escreveu e enviou uma carta para a polícia dizendo como tudo ocorreu, colocando o tal MARCELO como o grande responsável pela tragédia toda, e dizendo que ele e Jeander Vinícius se sentiram coagidos e amedrontados por Marcelo, e, por isso, fizeram tudo o que ele mandou.
Ele conta que o tal Marcelo era um “contatinho de longa data de Jefferson”, e que deu um mata leão no ator como vingança por Jeff ter passado HIV para ele e para Jeander Vinícius. Porém, como conta o irmão da vítima, Diego Machado, Jefferson NÃO era soropositivo, e, mesmo que fosse, a polícia não achou nenhuma prova de existência desse misterioso Marcelo.
O caso segue em investigação e há a possibilidade de que Bruno tenha feito essa carta para CONFESSAR a ocultação de cadáver e APENAS este crime, que tem uma pena bem menor, de um a quatro anos de detenção, e tentar se livrar da acusação de homicídio premeditado.
Até o fechamento deste roteiro, Bruno seguia foragido da justiça e um alerta internacional foi dado em sua procura, já que existe a possibilidade de ele ter fugido do Brasil com seu passaporte português.
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=z1uwD5g8BcA&t=2809
Roteiro: Lais Menini
FONTES: