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O caso de hoje é um dos mais assustadores que já contamos no canal porque ele envolve elementos que podem acontecer a qualquer um de nós, em qualquer etapa da vida. Ele abre nossos olhos para o que pode acontecer caso a gente não se dê conta de que a gente, ou alguém que a gente ama, está desenvolvendo uma doença mental que pode culminar em tragédia.

Austin Harrouff

Austin Harrouff nasceu em 21 de dezembro de 1996. Seus pais, um dentista e uma farmacêutica, eram ricos de doer. Então, Austin nasceu e cresceu no condado de Palm Beach, na cidade de Jupiter, na Flórida, que é um paraíso de ricos e famosos. Tipo a ilha de Caras, sabe? Pra se ter uma ideia, mais de QUARENTA bilionários tem mansões nesse condado. 

Austin não era um dos herdeiros bilionários, mas não se pode dizer que ele não tinha uma vida bem confortável… 

Quando ele tinha treze anos, seus pais se divorciaram, e ele e sua irmãzinha Halley tiveram que se adaptar a uma nova rotina. Apesar de ser difícil para filhos pequenos e adolescentes ver os pais separados e ter que ficar indo e vindo das casas, o casal Harrouff se esforçou para manter o dia a dia das crianças confortável. O pai até se mudou para um lugar próximo à casa da família. E só restou às crianças a adaptação, já que nem adiantava sonhar com a volta dos pais à vida de casados, já que, tão logo eles anunciaram o divórcio, buscaram o amor em outras pessoas e, em menos de um ano, ambos já tinham novos parceiros.

O trauma da separação dos pais faz com que muitas crianças e adolescentes se sintam tão mal que consequências como ir mal na escola ou desenvolver um comportamento agressivo não são incomuns. Mas nada disso aconteceu com Austin. Ele tinha notas excelentes, que só melhoravam com o passar dos anos, e durante o ensino médio a grande RECLAMAÇÃO, “que seu técnico de futebol americano tinha a respeito dele era que ele não era AGRESSIVO O BASTANTE para se impor no esporte”.

Ou seja.

No terceiro ano do ensino médio, Austin fez aulas de lutas, artes marciais, e ainda assim ele NÃO era brigão, não era agressivo. Não fazia parte do seu objetivo de adolescência machucar as pessoas.

Então, o que mudou?

Ele foi aceito na faculdade de medicina da Florida State University e a família dele foi à loucura de tanta alegria! Afinal, medicina é difícil e concorrido em qualquer lugar do mundo. A família levou Austin até o campus, animadíssima, e se despediu dele com tranquilidade.

Eles estavam deixando no campus um jovem que nunca deu problema, que era responsável, tranquilão, só se importava em ajudar as pessoas… o que poderia dar errado? 

Os primeiros meses mostraram que NADA poderia dar errado, porque tudo ia muito bem. Suas notas continuavam excelentes, ele começou a namorar uma menina tranquila como ele e, para substituir o futebol como esporte, acabou optando por se tornar bodybuilder.

Ele tinha o físico pra isso. Era grande e já tinha desenvolvido os músculos na adolescência, com o futebol americano e a luta, e body building pareceu até uma escolha normal. Seus perfis sociais na internet davam dicas de atividades físicas e alimentação para quem se interessasse por esse hobby e nada parecia estar fora do comum. 

Só que, em algum momento, tudo pareceu desandar do mais absoluto nada. Tudo bem, a gente sabe que, quando as pessoas têm problemas, como ansiedade e depressão, um episódio de pânico pode surpreender, mas não significa que ocorreu do nada. Isso está sendo fermentado há muito tempo…

… por isso, para os amigos e familiares de Austin, o rapaz foi da água pro vinho do mais absoluto NADA, mesmo.

Ele foi passas as férias de verão em casa, na Flórida, e começou a agir de maneira muito esquisita. Disse à mãe que ia dormir na garagem e levou a cama dele para lá, porque o resto da casa estava cheio de demônios. Mas que ela não se preocupasse: ele ia ficar de vigília e, de duas em duas horas, durante toda a madrugada, bateria na porta dos quartos para saber se todo mundo estava bem.

Enquanto isso, seu computador pessoal, no campus da universidade, guardava informações bizarras sobre as últimas buscas do jovem. Ele digitou no Google coisas como: será que estou louco? Como saber se estou doido? E outras pesquisas similares que já demonstram que ele não ia muito bem das ideias.

Austin também mantinha anotações a mão, como um diário, em que ele claramente dizia sentir que não se encaixava, que seus colegas não gostavam dele. Em alguns trechos, ele questionava a própria sanidade, se perguntando se isso acontecia porque ele era doido ou qual seria a verdadeira razão.

Com traços de ansiedade e depressão, Austin Harrouff começou a apelar para as drogas para fugir dessa realidade que o amedrontava. Ele usou maconha, Molly e Vivance, que é um remédio controlado para o tratamento de déficit de atenção e hiperatividade, e que causa dependência rapidamente. Suas escolhas de entorpecentes iam dos indicados para relaxar até os alucinógenos, passando por medicamentos tarja preta.

Só que, na casa dele, onde ele fazia essa vigília contra os demônios, nem sua mãe e nem sua irmã sabiam de nada disso. Elas notaram que esse comportamento era realmente bizarro, mas não tinham as informações mais aprofundadas sobre o estado do jovem.

Poucos dias depois, durante essas férias de verão, Austin foi até a casa de um amigo de infância e fez uma pergunta no mínimo esquisita:

ele perguntou,

Em que ano eu nasci?,

O amigo respondeu, surpreso, que tinha sido em noventa e seis, e Austin, satisfeito com a resposta, virou as costas e foi embora. Só que esse amigo ficou, obviamente, preocupado. Você vai estudar em outra cidade, visita um amigo de infância sem avisar antes que vai passar lá e tudo o que faz é perguntar o seu ano de nascimento e vai embora? Bizarro é o mínimo.

Então, ele vai atrás de Austin, o convida para passar o dia com ele e decide avisar ao pai do jovem que algo está bem errado…

Para clarear o clima, esse amigo convida Austin e outros jovens, todos amigos de infância, para irem à praia, e Austin diz que vai, sim, mas só vai passar em casa antes pra pegar alguma coisa. No que ele volta ao local marcado com os amigos, está vestindo uma camisa de futebol de manga comprida e calças grossas, de frio. 

Sim. Em uma PRAIA.

Nesse episódio, sua irmã, Hailey, também estava com a turma e, pelo que parece, a princípio só ela e o amigo que recebeu a visita de Austin sabiam que ele estava agindo estranho. Então, os outros começaram a zoar o cara, falando de suas roupas nada adequadas para a ocasião, e Austin ficou enfurecido. Ele disse,

Se você disser que eu sou doido, eu te mato

Ok, era um encontro pra aliviar o clima e acabou surtindo o efeito oposto. Os amigos ficaram assustados com a animosidade de Austin, que era tão incomum para o cara tranquilão que conheciam, e seu amigo ligou para seu pai, mais uma vez, dizendo que algo estava errado.

O pai de Austin então sugere que eles tenham uma conversa em um restaurante próximo, a que vão o pai e a namorada, Austin, o amigo e sua irmã Hailey.

Antes de chegarem no local combinado, Austin assustou sua irmã com uma atitude que qualquer pessoa sã classificaria de impensada, mas que também pode ser visto como um sinal para a tragédia.

Antes do dia do restaurante, Austin comentou uma vez, com Hailey, que achava que era meio homem e meio cavalo. A menina fez o que qualquer um de nós faria na situação: encarou o irmão e perguntou QUE?! DO QUE VOCÊ ESTÁ FALANDO?

Mas ele não respondeu. Só completou,

Sou meio cavalo e sou imortal

Aí, enquanto eles caminhavam para o restaurante, ele disse a ela que iria testar a sua imortalidade e se jogou no meio do tráfego, com carros indo e vindo, esperando que algum o atingisse e ele pudesse saber se era realmente imortal.

A garota, completamente assustada, puxa o irmão de volta para a calçada, mas aí Austin começa a agir de uma forma que vai perdurar por toda a tarde no restaurante: como se nada tivesse acontecido. Ele está na calçada, indo em direção ao restaurante com sua irmã e seu amigo, encontrar seu pai e sua madrasta, como em um dia absolutamente comum em que ninguém resolveu passear no meio da avenida movimentada.

As câmeras de segurança do restaurante pegam momentos cruciais de Austin durante o correr do dia: o grupo chegando, sendo direcionado a uma mesa nos fundos, Austin fazendo o percurso do fundo à entrada do restaurante, se virando à esquerda para ir ao banheiro, depois voltando para a porta da frente, saindo do restaurante e retornando segundos depois.

Como se nada tivesse acontecido.

Outra imagem é similar, mas, dessa vez, quando Austin se levanta da mesa, ele vai direto para a saída. Alguns minutos se passam e Austin não voltou ainda. Ele foi até sua casa, que era perto do restaurante, trocou de roupa e sua mãe ainda ligou para o pai dizendo que algo estava esquisito, ela sabia que eles estavam no restaurante e Austin foi em casa trocar de roupa.

Quando Austin volta ao restaurante, com uma roupa completamente diferente, ninguém de seu grupo parece se incomodar. O que se vê, pelas câmeras de segurança, é que em determinado momento seu pai diz algo que o deixa nervoso, e Austin vai para cima do próprio pai, encurralando-o na parede.

Depois desse rompante, ele sai, e o amigo vai atrás para tentar contê-lo, mas não consegue achá-lo. A câmera de segurança do restaurante mostra que ele voltou segundos depois, sem Austin. Ninguém naquela mesa, ou na Flórida inteira, tinha a MENOR IDEIA do que viria a acontecer em seguida.

Já era noite quando o 911 recebeu uma chamada vinda de um bairro aleatório, a seis quilômetros do restaurante onde Austin estava com o pai naquela tarde. A pessoa do outro lado da linha era Jeff Fischer, e ele pedia ajuda policial porque sua vizinha estava sendo atacada por um homem dentro da própria garagem.

Conforme a atendente do 911 fazia as perguntas-padrão, Jeff disse que ele mesmo estava ferido, no pescoço, pois tinha ido tentar ajudar e foi esfaqueado. Estava sangrando muito. No momento da ligação, Jeff disse ter ouvidos muitos gritos. A primeira patrulha da polícia chegou alguns SEGUNDOS depois dessa chamada.

Dois policiais, um homem e uma mulher, foram para a garagem indicada por Jeff, mas não viram a mulher atacada logo de cara. O que eles viram é até mais perturbador do que Austin dizendo que achava ser metade homem e metade animal.

No chão, um homem de cinquenta e nove anos pedia ajuda. Seu nome era John Stevens Terceiro. Em cima dele, um jovem corpulento puxava seu rosto como em um anzol, tirava LASCAS de suas bochechas e COMIA.

Os policiais estavam armados, mas a policial que tinha visibilidade melhor não podia atirar em Austin, porque corria o risco de que a bala passasse por ele e atingisse John, a vítima, o que certamente iria matá-lo.

O policial que estava perto o suficiente de Austin disse que ele iria dar um choque no jovem, mas, quando fez isso, foi a mesma coisa de não ter feito nada. Austin continuava arrancando pedaços do rosto de John como se o choque não estivesse nem fazendo cosquinha. O policial, então, tenta chutá-lo na cabeça e tirá-lo dali, de cima da vítima, que então já não conseguia nem mais pedir ajuda, mas NADA que ele fizesse era o suficiente.

Austin não saía dali e parecia nem perceber que dois policiais armados estavam tentando contê-lo. Ele estava focado em comer o rosto de John.

Mas é quando a segunda viatura chega que a coisa fica ainda mais bizarra, porque os policiais da segunda viatura tinham cachorros. O policial que tentou tirar Austin de cima de John gritava para que eles liberassem o cachorro em cima de Austin, e lá foi o cão, exatamente como foi treinado: mordeu o braço de Austin, de forma a imobilizá-lo, e puxou seu braço para trás, tirando-o de perto do rosto da vítima.

Geralmente os cachorros de polícia, que na Flórida são chamados de K9, chegam chegando para impedir qualquer ação do criminoso. E é legal falar que os doguinhos não chegam mordendo pra tudo quanto é lado, não, como se fosse um ataque aleatório. Eles pegam especificamente no braço, perto do cotovelo, porque assim eles conseguem PARAR a pessoa, deixá-la sem ação, e a polícia pode efetuar a prisão com segurança.

Há relatos de pessoas que tiveram que ser contidas por cães de polícia e que chegaram a perder partes do braço, ou até o braço todo, tamanha a força e o foco da mordida, graças ao treinamento todo. Mas, com Austin, MAIS UMA VEZ, não aconteceu NADA.

Os policiais na cena disseram que o cachorro mordeu seu braço, jogou-o para trás e, ainda com os dentes do cão em seu braço, ele se desvencilhou, rasgando a pele, para continuar a comer o rosto de sua vítima.

E isso aconteceu MAIS uma vez. O cão recebeu novo comando, mordeu o braço de Austin, trouxe Austin para trás e, de novo, Austin se desvencilhou, não importa o QUANTO estivesse machucando o próprio braço.

Parecia que estava em transe, disseram. Ele nem parecia se dar conta de que um cachorro estava tentando contê-lo.

Na terceira vez, o comando foi mais enfático e o K9 mordeu e não iria mais soltar. Ele não só afastou o braço de Austin, mas fez com que ele finalmente caísse de costas. Nisso, o policial que chegou primeiro e o acertou com a arma de choque colocou seu pé na cabeça do jovem, que ficou presa entre a bota e o cimento do chão da garagem, e com certa dificuldade conseguiu, finalmente, algemá-lo.

Nesse momento, Austin IMPLORAVA para que o policial o matasse, dizendo,

ME MATE! ME MATE! EU ESTOU COMENDO O ROSTO DE PESSOAS!

Finalmente contido, ele disse aos policiais que tomou algo venenoso, na garagem da casa, e foi levado ao hospital, antes de ser levado à delegacia.

Mas, antes de falar dessa parte, eu sei que você está se perguntando: Erika, cadê a mulher sendo atacada na garagem que o homem do telefonema falou? Cadê o homem do telefonema, aliás?

Pois é. Senta que lá vem história.

Minutos antes dessa cena horrenda, Jeff ouviu um grito de mulher e logo percebeu se tratar de sua vizinha, Michelle Mischcon, de cinquenta e três anos. Michelle tinha o hábito de se sentar em sua garagem para tomar ar fresco e relaxar, e era exatamente o que ela estava fazendo. 

Nos Estados Unidos, as pessoas tem esse costume de deixar a porta da garagem aberta, mesmo, não é incomum. E aquela garagem, para Michelle, era tipo um santuário. Um cantinho só dela. Ela abria o portão, acendia a luz e se sentava por lá nos fins de tarde, só para curtir a vida. Geralmente seu marido John se juntava a ela, mas naquela noite ele foi passear com o cachorro e, por isso, por um intervalo bem curto de tempo, Michelle estava sozinha.

Quando Jeff ouviu o grito de Michelle, saiu correndo em seu socorro. Ele não conseguiu ver, logo de cara, o que tinha acontecido com ela porque os dois carros do casal estavam estacionados na garagem, tampando sua visão. Só que, quando conseguiu chegar perto, viu que tinha um homem batendo em Michelle violentamente.

Seu corpo estava em cima de um móvel baixo e esse homem dava socos e socos sem parar. Pelo tamanho do rapaz, ele assumiu que não daria tempo de chamar a polícia. O jovem era grande, e Michelle era bem menor, e ele estava enfurecido em sua violência gratuita. Então, Jeff, que também é um homem grande, se aproximou e tentou tirar o homem de perto de Michelle.

Esse homem, que era Austin Harrouff, se engajou em uma luta corporal com Jeff, que levou um soco, revidou e, por alguns segundos, conseguiu se desvencilhar do agressor. Jeff sentiu uma dor esquisita, ardida, cortante, que não se pareceu com a dor de um soco e, nesses poucos segundos em que Austin saiu de perto dele, Jeff olhou para sua camisa e viu que ela estava encharcada de sangue. Colocou a mão em seu pescoço e sentiu não um, mas vários cortes, e reparou que o agressor tinha uma faca entre seus dedos.

Temendo por sua vida, Jeff, que já não era tão jovem, saiu correndo em disparada para sua casa, sem olhar para trás. Ele não se atreveu a tentar checar se estava sendo seguido, mas nem precisava. Austin não foi atrás dele. O que não era uma boa coisa, também.

Jeff disse que Michelle estava viva quando ele tentou impedir as agressões, mas parecia inconsciente, e foi o que ele disse à polícia na ligação para o 911. 

Michelle foi espancada até a morte por Austin que, em seu depoimento, diz não se lembrar de ter agredido Jeff. Ou John. Apenas de Michelle ele se lembrava. E o que ela fez para deixá-lo tão descontrolado? Quem era Michelle na vida de Austin? Todas essas respostas viriam à tona ONZE DIAS depois do ocorrido, quando ele se recuperou completamente de um COMA.

Pois é. Lembra que ele tinha dito à polícia que tomou algo venenoso? É possível que tenha sido algum material de limpeza ou outro agente químico que estava ali na garagem. Isso o envenenou e o deixou em coma por onze dias. Quando acordou, viu aquele mundo de policiais e investigadores ao redor de sua cama de hospital, seu braço atado à maca com uma algema e não entendeu, a princípio, do que se tratava.

E, quando estava oficialmente em depoimento, deu uma das explicações mais esquisitas para os investigadores…

Austin disse que, na última vez em que saiu do restaurante, ele se deparou na rua com uma figura enorme, tipo uma sombra, com um esvoaçado branco no lugar do rosto. Aterrorizado pela imagem, saiu correndo – e correu tanto que acabou indo parar no bairro onde Michelle e John moravam, a seis quilômetros de distância do restaurante.

Ele sentiu que essa figura o estava perseguindo quando viu as luzes da garagem acesas e foi pedir ajuda à senhora que estava ali, que, no caso, era Michelle. Mas, ao vê-lo se aproximando, provavelmente completamente fora de si, falando coisas esquisitas, a mulher começou a gritar. E foi esse o som que Jeff ouviu pela primeira vez.

Austin, então, pensou que Michelle era uma BRUXA, e que estava mancomunada com a figura sombria que o perseguia. Ele disse que chegou a vê-la envolta de sombras, também. Concluiu que o único jeito de sobreviver e fugir era MATANDO a bruxa. Então, começou a espancá-la sem dó.

Talvez para se tornar mais forte contra seus perseguidores do além, ou por algum outro motivo, Austin pegou um vidro de produto químico na garagem e o bebeu de gole em gole. A próxima coisa que ele se lembra é acordar no hospital e ser informado de tudo o que fez.

Respondendo às perguntas sobre por que Michelle e John? O que eles fizeram? Temos essa resposta que nos enche de medo, porque mostra que ninguém, absolutamente ninguém, está a salvo: eles não fizeram nada. Foi aleatório. Qualquer pessoa que estivesse com as luzes acesas e a porta aberta naquela noite poderia ser abordada por um Austin delirante e muito perigoso.

E é nessa parte da tragédia que eu te convido a voltar um pouquinho na história, enquanto a família ainda estava reunida no restaurante.

Um dos motivos pelos quais essa história é tão triste é que essa tragédia, tão desumana, poderia ser facilmente evitada se as pessoas ao redor de Austin tivessem levado os sinais a sério e buscado ajuda para o garoto a tempo.

De fato, os pais estavam prestes a invocar o que, na Flórida, se chama THE BAKER ACT. Esse ato trata da hospitalização da pessoa com distúrbio mental, quer ela queira, quer não. Através dessa internação compulsória, prevista no Ato de Sanidade Mental da Flórida número 1971, ele seria examinado e um possível diagnóstico de internação teria efeito imediato.

Ou seja, se a cena do restaurante ocorresse um dia antes, quem sabe, o casal John e Michelle, recém-aposentados e muito animados com essa nova fase da vida, poderia realmente desfrutar com seus filhos e netos de muitos anos a mais.

Mas é incrível pensar que, por fim, depois de tentar agredir o próprio pai e não ser encontrado pelo amigo, já que Austin estava correndo da figura terrível que ele disse ter visto do lado de fora do restaurante, NINGUÉM chamou a polícia para interditá-lo. E, se chamaram, não foi com a urgência necessária. 

“Ah, Erika, mas é que isso tudo acontece rápido demais”, você diz, e eu concordo. Porém, se Jeff foi esfaqueado, voltou pra casa, ligou para a polícia e viu a ajuda chegar SEGUNDOS DEPOIS, se o pai de Austin ligasse ainda do restaurante, pode ser que ele nem teria chegado tão longe.

Foram SEIS QUILÔMETROS correndo, pelo amor de Deus.

Os sinais vieram aos montes. Nós, que somos meros espectadores dessa tragédia, podemos fazer as contas:

Um – as anotações depressivas de Austin

Dois – suas buscas sobre ser doido na internet

Três – o abuso de substâncias ilegais ou controladas

Quatro – resolver dormir na garagem de sua mãe porque a casa estava cheia de demônios

Cinco – perguntar a um de seus amigos de infância o ano do seu nascimento e vazar

Seis – falar com a irmã que achava que era meio cavalo

Sete – tentar pular na frente dos carros para testar sua imortalidade

E é possível que tenham muito mais, ou que eu esqueci de listar ou que a própria família não contou à polícia. Então, por que não se atentar a estes sinais? Por que deixaram chegar a esse ponto? Essa resposta pode demorar muito, ou nunca chegar…

Esse caso aconteceu em quinze de agosto de dois mil e dezesseis, mas veio à tona recentemente porque o julgamento de Austin estava marcado para novembro do ano passado.

Durante esse tempo, Austin permaneceu encarcerado, mas deu entrevistas onde pediu desculpas à família das vítimas, emocionado, por tudo o que fez. Seu pai também chegou a dar uma entrevista na televisão dizendo que o que aconteceu foi seu maior pesadelo.

Ser familiar da vítima é uma dor imensa, mas ser familiar do agressor também não deve ser fácil.

Um dos filhos do casal assassinado brutalmente por Austin revelou abertamente, quando o jovem ainda estava em coma, que queria vê-lo bem, sem sequelas, para que ele pudesse ouvir sua sentença – e que gostaria que a promotoria buscasse a PENA DE MORTE, que ainda é legal na Flórida. 

Um dos grandes temores da promotoria e da família de Michelle e John é que Austin alegasse insanidade mental e, por isso, tivesse sua pena reduzida. A mídia foi atrás de muitos especialistas para saber o que eles achavam, se insanidade cabia na estratégia da defesa, e muitas versões diferentes foram ouvidas, já que, para quem está de fora, os fatos dados podem formar uma visão completamente subjetiva da cena toda.

Porém, o relatório oficial do psiquiatra forense Gregory Landrum, baseada em uma avaliação de Austin no final de dois mil e dezenove e liberado para a polícia em fevereiro de dois mil e vinte, mostrava que essa era a ÚNICA alegação possível para a defesa.

Nesse documento o médico conta que, um dia antes dos ataques, Austin estava passeando com seu cachorro e começou a correr desenfreadamente porque começou a se sentir, “meio homem e meio cachorro”. Ele foi com seu pai em uma exibição de armas e, lá, encontrou um vendedor de facas e disse a ele que precisava de uma para se proteger de espíritos malignos que o perseguiam.

Foi assim que conseguiu a arma da agressão a Jeff.

O relatório é bem contundente na parte em que descreve como Austin se sentia em relação aos animais e sua conexão com eles, a ponto de achar que era meio cachorro ou meio cavalo. 

Nos exames feitos após a prisão do jovem, quando ele ainda estava em coma, a única substância encontrada foi um dos princípios ativos da maconha, mas em baixíssima quantidade. Todo o resto era ou do líquido que ele ingeriu na garagem, pedindo a deus que o salvasse daqueles entes malignos, ou os medicamentos ministrados a ele durante o coma.

Em outras palavras, Austin estava SÓBRIO quando fez o que fez a John e Michelle.

E, de acordo com o testemunho dos policiais na cena, que tentaram conter Austin, mas que ele resistia ao choque, aos chutes e até à imobilização feita pelo cachorro da polícia, ferindo gravemente seu braço mas não estando nem aí, o psiquiatra alertou que havia sinais definitivos de uma crise psicótica.

A conclusão do relatório forense de sanidade foi que Austin estava em um estado mental descompensado naquela noite de agosto de dois mil e dezesseis e sofreu um episódio psicótico agudo que o deixou incapaz de diferenciar o que era certo do que era errado.

Que, durante esse episódio, ele pode ter acreditado que era uma espécie de animal, ou até de lobisomem, que precisava defender instintivamente a própria vida contra as figuras do mal que o cercavam. 

A recomendação do Doutor Landrum era de que a justiça o declarasse insano e, pelo perigo de que Austin fizesse algo contra si ou contra os outros, o encaminhasse para uma instituição prisional para doentes mentais.

E foi isso que aconteceu: para desespero da família das vítimas, com base nos depoimentos, relatórios policiais e relatórios da perícia forense, o juiz do caso declarou que Austin NÃO ERA CULPADO das mortes de Michelle e John.

Ser declarado NÃO CULPADO não significa que ele foi inocentado, pois isso seria o mesmo que deixá-lo livre, o que não foi o caso. Austin Harrouff foi sentenciado a tratamento sob custódia total do Departamento de Crianças e Serviços Familiares e de lá só vai poder ser libertado por ordem judicial. 

O juiz proferiu a sentença dizendo que os promotores e a defesa concordaram que Austin não formulou uma intenção mental do ataque ao casal, e que a aleatoriedade da escolha das vítimas e do tipo de ataque foi, de acordo com laudo médico, resultado de um episódio maníaco de transtorno bipolar.

Com um jovem que nunca teve passagens pela polícia, era considerado tranquilo, promissor e com a vida toda pela frente, mas caiu no obstáculo da doença mental, e duas pessoas inocentes perdendo a vida por conta desse problema em alguém que eles sequer conheciam, esse caso pode não ter culpados no quesito judicial, mas ninguém pode negar que, de cabo a rabo, está repleto de vítimas. 

Roteiro: Lais Menini

FONTES

https://www.tcpalm.com/story/news/crime/martin-county/2022/11/28/austin-harrouff-insane-when-he-killed-couple-judge-rules/10757444002/

https://en.wikipedia.org/wiki/Police_dog

https://www.cbsnews.com/miami/news/austin-harrouff-forensic-psychological-evaluation-report/

https://assets1.cbsnewsstatic.com/i/cbslocal/wp-content/uploads/sites/15909786/2020/03/LandrumReport.pdf

https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/historia-hoje/jovem-que-matou-casal-e-depois-tentou-comer-o-rosto-da-vitima-e-considerado-inocente-por-motivo-de-insanidade.phtml

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