dwinSe Michelle tivesse ido ao show do Pink Floyd, naquela noite, essa história teria sido completamente diferente… e justamente porque NÃO FOI, a história nos faz pensar em como nossas escolhas podem mudar completamente a nossa vida.

Michelle Vom Emster nasceu em mil, novecentos e sessenta e oito e cresceu em San Carlos, na Califórnia, ao lado de quatro irmãs. Ela se formou na Notre Dame High School, um colégio só para meninas, em oitenta e seis, e começou a fazer faculdade na faculdade de Saint Mary, no Texas, mas não terminou porque, no meio do caminho, descobriu que tinha câncer.
Não fica claro se o que ela teve foi leucemia ou linfoma de Hodgkins, mas a descoberta, em estágio inicial, otimizou o processo de quimioterapia, que devia ser iniciado o quanto antes. Então, Michelle trancou a faculdade e fez o tratamento.
Em um ano, ela ganhou alta da quimio, um tempo recorde para pacientes com câncer. Sentindo que a vida lhe tinha dado uma segunda chance, com essa experiência, Michelle decidiu não voltar a estudar, mas pegar a estrada e viver viajando.
Michelle contou para um de seus amigos que ela pegou a estrada e foi para a Europa, mas sua mãe, Bernadette, acabou desmentindo essa história. De qualquer forma, a jovem seguiu tentando descobrir novas coisas em novas aventuras.
Durante o outono de mil novecentos e noventa e dois, Michelle se estabeleceu em uma casa alugada em Poinsettia Drive, em Loma Portal, na cidade de San Diego. Em seguida, ela foi para Ocean Beach e seguiu assim, meio que pulando de galho em galho, ao longo de dois anos.
Talvez ela continuasse sendo essa nômade pela vida inteira, não fosse o ponto final drástico que sua história teve.
Seu destino final era um apartamento compartilhado de dois quartos na Muir Avenue, 4999, em um bairro sórdido de Ocean Beach, San Diego. Conhecido como War Zone, era um point de drogas e caos, mas tinha aluguéis baratos. Sem ter um diploma e sem carro, Michelle acabou se contentando com empregos de salário mínimo para sobreviver.
Em uma de suas últimas entrevistas de emprego, ela deixou registrado que, pessoalmente, estava interessada em arte, mas a realidade é que ela nunca conseguiu fazer carreira nesse setor.
De job em job ela acabou em uma empresa chamada Cabrillo Stationary and Office Supply, em noventa e quatro, depois de largar o emprego em uma cafeteria, a Rumors. Michelle até gostava de lá, mas, segundo ela, estava sendo perseguida por um stalker na cafeteria e imaginou que a mudança de trabalho poderia despistá-lo.
Ela não sabia quem ele era. O stalker não tinha nome ou rosto conhecido para Michelle, mas de uma coisa ela sabia: ele tinha uma moto.
É esquisito pensar que Michelle só tivesse ESSA informação sobre alguém que estava atrapalhando sua vida, mas eram os anos noventa, sem redes sociais, sem facilidade de comunicação… e, por ela saber que ele tinha uma moto e só, é muito provável que tenha visto essa pessoa só de longe, sempre na mesma moto, onde quer que ela estivesse.
No novo emprego, aparentemente, esse stalker não marcava presença. Contudo, pouco tempo depois de assumir o cargo na loja, ela viria a ter uma morte trágica e misteriosa até os dias de hoje.
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Amigos de Michelle divergiram muito sobre suas versões de quem ela era e o que gostava de fazer, depois que tudo aconteceu, mas uma coisa todos sabiam: a garota queria voltar para casa. Ela ia de emprego em emprego juntando grana para retornar à cidade natal e morar perto da sua família.
Um de seus amigos era Edwin Decker, com quem Michelle tinha uma espécie de amizade colorida. Ele esteve com ela na véspera de sua morte e, em depoimento, contou que a jovem vestia muito jeans e camiseta e usava óleo de patchouli. Tinha uma vibe meio hippie, de acordo com Ed, e confessou a ele que gostava de surfar nua.
Esse é outro ponto do qual ninguém discorda: Michelle gostava de estar perto do mar.
Mas, para todo o resto, cada pessoa parecia apresentar à polícia uma Michelle diferente. Para uns, ela era purista, religiosa e que se cuidava de maneira saudável. Outros juravam que ela era festeira, bebia e fumava com frequência. Ela tinha uma cicatriz na barriga que, para um grupo, era de uma cesariana, e para outro grupo, um aborto. Ela amava o mar e meditava diariamente na praia, diziam alguns, enquanto outros duvidavam muito disso, já que ela tinha medo do oceano.
As pessoas que falaram de Michelle após sua morte não ajudaram muito no objetivo de traçar um perfil que pudesse indicar o que teria de fato acontecido com ela, mas o relato de um salva-vidas que pediu para permanecer anônimo à época dizia que,
eu vi Michelle Von Emster duas vezes. Uma vez no oceano, e depois novamente quando trouxeram o corpo dela para o cais,
Ele complementou dizendo que a primeira vez que a viu foi em outubro do ano anterior.
Na verdade, viu alguém nadando longe do cais, onde não se espera que um ser humano vá nadar, por estar muito longe da orla e ser muito frio, já que a costa da Califórnia é banhada pelo oceano Pacífico. Ele, então, achou se tratar de algum nadador profissional em treino.
Contudo, quando essa pessoa saiu do mar, o salva-vidas percebeu que era uma mulher, forte, obviamente destemida e aparentemente imune ao frio, já que usava apenas a parte de baixo do biquíni. Sete meses depois desse episódio, os restos mortais de Michelle seriam recuperados exatamente naquele trecho do oceano.
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Em quatorze de abril de mil, novecentos e noventa e quatro, Michelle se preparou para sair com sua colega de quarto, que tinha o apelido de Coco. O destino era um show da banda Pink Floyd. Mas, assim que chegaram ao local indicado, as duas descobriram que compraram os ingressos errados. O Pink Floyd ia tocar sim, mas outro dia, em outro lugar.
Frustradas, as duas entraram no carro de Coco, mas Michelle não queria voltar para casa. A amiga disse, em depoimento, que a jovem estava meio estranha, e não sabia se era por causa do erro dos ingressos ou por outra coisa. Visivelmente chateada, Michelle pediu a Coco que a deixasse próxima à praia, numa distância de seis quarteirões de onde as duas moravam.
Isso aconteceu por volta das oito da noite. Michelle, que usava um sobretudo verde, desceu do carro e se despediu da colega. Coco foi a última pessoa que viu Michelle viva. Ou, pelo menos, é o que A GENTE sabe. Não há informação de que ela tenha conversado com alguém ou se encontrado com alguma pessoa depois que desembarcou na praia.
Além disso, quais eram os planos de Michelle de descer ali para se encontrar com alguém uma vez que, em outra circunstância, ela estaria em um show? Tipo… eram mil novecentos e noventa e quatro, e não era fácil você conseguir outro compromisso tão de última hora, como é hoje, que a gente tem celular e logo muda de rolê.
Eis, então, o que sabemos: sozinha, em uma noite fria, em que ela saiu preparada para assistir a um show do Pink Floyd, Michelle Vom Emster terminou sua noite na praia. Essa foi a noite que sua vida também terminaria.
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Por volta de três da tarde do dia seguinte, quinze de abril de noventa e quatro, dois surfistas que se preparavam na areia para entrar no mar notaram algo esquisito nas águas. Perceberam que era um corpo e imediatamente correram para a área da praia onde ficam os salva-vidas.
Às três e DEZOITO o primeiro salva-vidas percebe o mesmo que os surfistas avistaram e começa a comunicação com seus colegas. Às três e DEZENOVE, um minuto depois, dois salva-vidas saem de sua estação em Ocean Beach, na orla, rumo ao corpo no mar. Minutos depois, mais dois salva-vidas chegam em uma embarcação de resgate
A cena do crime era bem pitoresca, por falta de palavra melhor. A vítima flutuava de bruços, a algumas centenas de metros de distância da costa, na linha de visão do campo de atletismo Point Loma Nazarene. O corpo era de uma mulher e, exceto por algumas pulseiras e anéis, ela estava nua. Tinha uma tatuagem de borboleta e seus longos cabelos castanhos ondulavam nas correntes frias.
Quando o corpo foi retirado do mar, a história ficou ainda mais estranha: a jovem de aparentes vinte e poucos anos que morreu não tinha uma das pernas, e sua bolsa com pertences foram encontrados na areia da praia, intocados. Suas roupas, contudo, não estavam em lugar nenhum.
A vítima não foi identificada e, como tinha esse trauma da perna, o médico legista Robert Engel assumiu a jurisdição do caso. Ele examinou os restos mortais ainda no convés do barco de resgate e fez um relatório dizendo que o corpo tinha feridas rasgantes, com falta de tecido. Segundo suas anotações, a maior parte da perna direita tinha desaparecido e a estimativa é de que ela não estava na água há muito tempo.
Engel não especificou a causa precisa da morte, mas a teoria de que se tratava de um incidente com tubarão branco tomou força naquele momento, pelas circunstâncias em que a vítima foi encontrada.
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A história poderia acabar aí, com Michelle indo dar um mergulho e, sem sorte, encontrar um tubarão branco em seu caminho.
O problema é que, passados alguns dias, e depois de alguns exames, a teoria do incidente com tubarão perdeu MUITO a força.
Isso porque durante a autópsia formal, realizada no sábado, dezesseis de abril, a extensão dos ferimentos contava uma história que tiraria o tubarão da cena do crime, digamos assim.
A vítima ainda não tinha sido reconhecida, mas seu rosto estava em carne viva, com arranhões, contusões e hematomas, e seu pescoço estava quebrado. A perna direita foi arrancada na altura da coxa, e tecidos e ossos fragmentados eram tudo o que restava das nádegas mutiladas, dos braços e da perna esquerda.
Além disso, o corpo tinha costelas quebradas e a pélvis foi separada pela força bruta, causando uma hemorragia interna que a levou ao afogamento, já que tinha água e areia em seus pulmões. Em outras palavras, quando todas essas coisas aconteceram com ela, ela estava VIVA.
Se a gente parar pra pensar, caso Michelle tivesse ido nadar e um tubarão branco a tivesse mordido, tão forte que lhe arrancou a perna, é bem provável que ela tivesse morrido na hora. Isso porque essa espécie de tubarão, que está presente em áreas costeiras de praticamente o mundo inteiro, pode chegar a seis metros de comprimento e tem comportamentos alimentares que fazem dessa a espécie com mais incidentes letais a seres humanos dos registros marítimos.
Vale lembrar, também, que segundo cientistas e biólogos marinhos, a raça humana não faz parte da dieta dos tubarões. Ou seja, esses peixes não vão atacar o ser humano para se alimentar, apenas, porque isso eles já fazem em seu próprio ecossistema.
Isso não significa que a gente possa ficar lindamente nadando com tubarões, de qualquer espécie, e achar que está tudo bem, porque também não é bem assim, né? Mas é muito possível que a gente já tenha nadado com tubarões e nem esteja sabendo! Em alguns vídeos aéreos dá pra ver o quanto eles se aproximam da costa e podem passar beeeem pertinho dos seres humanos, e nem por isso essas pessoas morrem.
Existem algumas formas de atrair o tubarão para que ocorra o ataque, digamos assim, como se mover de forma intensa na água, dando ao bicho uma sensação de perigo para ele, ou até ter um formato que possa confundi-lo com presas naturais. Um surfista em cima da prancha, por exemplo, pode se parecer com uma tartaruga marinha ou uma foca, e aí o peixe dá o que os cientistas chamam de mordidas investigativas, para ter certeza de que o que ele percebeu na água é uma de suas presas.
Inclusive as dicas para evitar encontrar um tubarão e ir parar na boca dele são não se debater na água, evitar nadar com jóias que possam refletir a luz do sol, para que o bichão não te confunda com um peixe prateado, por exemplo, e não entrar na água do mar com algum sangramento, INCLUINDO menstruação.
MAS, ÉRIKA, TUDO O QUE VOCÊ TÁ DIZENDO PODE TER ACONTECIDO! E SE MICHELLE ESTIVESSE MENSTRUADA?
Aí a gente volta para antes de eu abrir esse enorme parêntese sobre comportamento de tubarões: se ela tivesse sido atacada por um tubarão branco, das duas, uma:
ou teria morrido imediatamente
ou não seria só a perna que sumiria, já que nenhum tubarão vai morder a perna da vítima, quebrar seu pescoço, deixar o corpo naquele banho de sangue e sair dali como se nada tivesse acontecido.
E não iria deixar a pessoa PELADA e sumir com as roupas dela. Né?
Brian Blackbourne, o legista de San Diego, responsável pela autópsia formal do corpo, disse que nunca havia encontrado uma vítima de ataque de tubarão naquela área. Por isso, nunca chegou a fazer a autópsia de uma. Ainda assim, o caso foi dado, na época, como um infeliz ataque de tubarão branco.
Alguns especialistas chegaram a dar uma olhadinha no relatório e até nos restos mortais. Um deles teve duas opiniões distintas, mas chegou a uma conclusão enfática. Seu nome é Ralph Collier, autoridade em comportamento e ecologia marinha que passou mais de cinquenta anos fazendo pesquisas sobre as espécies e, hoje, presta consultoria da Global Shark Attack File.
Antes de ver os restos da perna de Michelle, Ralph declarou que,
“com base em relatórios preliminares, o diagnóstico de ataque de tubarão provavelmente é válido”. Para ele, seria essa a primeira fatalidade confirmada por mordida de tubarão ao longo da costa do Pacífico dos Estados Unidos desde mil novecentos e oitenta e nove.”
MASSSSS… isso foi antes de ele ver, pessoalmente, os restos do osso da perna da vítima, que era basicamente a evidência inteira para o incidente com tubarão. Ele disse que,
“Quando um tubarão branco morde parte de um membro, a fratura é limpa. Quase como se você o colocasse em uma serra de mesa. O que restava do fêmur de Michelle era tudo menos isso. Parecia o que acontece quando você pega um pedaço de bambu e esculpe com uma faca. Esse tipo de lesão é causado quando um osso é torcido sob muita força. Por exemplo, a hélice de um barco poderia ter causado tal ferimento, mas não uma mordida de tubarão”
Além disso, Ralph Collier frisou que o cadáver tinha areia em sua boca, garganta, passagens nasais, pulmões e estômago. Para que tudo isso acontecesse durante um ataque, o tubarão teria que agarrar Michelle e enfiar o rosto dela primeiro no fundo do oceano, para que ela ingerisse todo esse material, e depois fazer todo o resto.
Tubarões brancos não fazem isso. E para que a areia entrasse em seus pulmões, Michelle deveria estar viva, o que, DE NOVO, seria IMPOSSÍVEL se um tubarão branco tivesse de fato arrancado sua perna com uma mordida.
Outro especialista, Richard Rosenblatt, presidente do Scripps Institute for Oceanography, também discordou do laudo final do legista e foi preciso ao dizer que nenhuma das marcas no corpo tinha sido causada por um tubarão branco.
Ele afirmou que,
se ela tivesse sido mordida por um tubarão branco, teriam encontrado um grande dente branco quebrado em pedaços no corpo dela,
Não havia nenhum dente de tubarão no corpo dela, mas tinham, sim, várias marcas de mordidas deixadas por tubarões azuis, que se alimentaram de seu corpo. Contudo, o tubarão azul não teria atacado a vítima, pois, UM, fica mais longe da costa e, DOIS, se alimenta de lulas, peixes de cardume e carcaças, e um ser humano na costa não seria semelhante a nenhuma dessas opções.
Ano que vem a morte de Michelle completa TRINTA ANOS e, até hoje, o que consta na sua certidão de óbito é morte acidental por afogamento após ataque de tubarão branco. Ainda que os especialistas no assunto discordem dessa conclusão, os registros não foram modificados.
Isso porque eles são enfáticos ao dizer que não foi o tubarão branco, mas nunca conseguiram provar que tenha sido qualquer outra coisa. Nem eles e nem os médicos legistas da Califórnia chegaram a um consenso sobre o assunto, ainda que a autópsia tenha sido reavaliada em dois mil e oito e dois mil e quatorze, na tentativa de dar uma certeza para a morte bizarra de Michelle.
Esse limbo da falta de explicação, claro, gerou discussões, dentro e fora da internet, que deram vida a diversas teorias sobre o que teria acontecido a Michelle. Algumas até são plausíveis, outras nem tanto. E é delas que vamos falar agora.
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A primeira teoria é de que Michelle foi dar um mergulho à noite, foi pega em uma correnteza e seu corpo bateu violentamente contra as rochas. Ela sofreu a maior parte dos ferimentos e, impossibilitada de nadar, acabou se afogando e servindo de alimento para uma horda de tubarões azuis.
Só que a teoria não leva em consideração que a pessoa não era doida de dar um mergulho pelada, à noite, em um frio tão frio que ela tinha saído de sobretudo de casa. Lembra? Além disso, suas roupas não foram encontradas e a perna faltando não faz conexão com um mergulho que teve um fim trágico.
Outra hipótese levantada é de que Michelle caiu de um penhasco chamado Sunset Cliffs, e que essa queda poderia ser acidental ou criminosa, como se alguém a tivesse empurrado. A teoria, a princípio, poderia bater, dado o pescoço quebrado e os hematomas, mas não explicaria a falta da perna, já que dificilmente cair de um penhasco cortaria a perna de alguém fora.
A terceira hipótese mais famosa para este caso é de que Michelle foi ferida por alguém, durante uma discussão ou luta, e deixada para morrer no Pacífico. Outra possibilidade é de que tenha sido assassinada a sangue frio, já que a presença de areia nas suas vias respiratórias indica que ela pode ter sido forçada a ficar debaixo da água.
Essa causa, infelizmente, parece ser a mais provável.
Michelle Von Emster morava em um bairro conhecido como War Zone, ou Zona de Guerra, ponto de venda de drogas que é bem caótico, no geral. Ela pode ter voltado andando para casa, que estava a seis quarteirões de distância da praia, e ter encontrado alguém que queria fazer mal a ela.
Pra completar, não há explicação racional para o corpo de Michelle ter sido encontrado nu. Como uma vítima de tubarão, vítima de queda de penhasco ou vítima de afogamento acidental pode acabar nua? Isso não faz o menor sentido. E sua bolsa foi encontrada na areia a cerca de três quilômetros de onde seu corpo estava, com todos os seus pertences, inclusive chave e dinheiro, mas tem um detalhe: o objeto foi encontrado DEPOIS de vinte e quatro horas do resgate do corpo. Como ninguém viu isso lá antes?
Ou seja, a bolsa pode ter sido plantada por alguém, para fazer parecer que realmente tudo aquilo foi um acidente.
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Quando a polícia ainda investigava um crime, o primeiro suspeito foi Edwin Decker, que tinha um casinho com Michelle, aquela amizade colorida, e foi seu colega de trabalho. Isso porque ele viu a jovem na véspera de sua morte e, em depoimento, disse que ela gostava de surfar nua – o que explicaria o corpo nu encontrado no mar e deixaria a suspeição de Ed em ainda mais evidência, já que não tinha sido divulgado que a vítima estava pelada quando foi encontrada.
Ele não se ajudou muito quando, ao saber que ela estava morta, publicou um poema que dizia que,
eles disseram que tinha
uma tatuagem de borboleta em seu ombro,
e eu me lembrei daquela noite,
no meu sofá,
como um tubarão,
mastiguei seus lábios e tirei sua roupa,
Mas logo Edwin foi descartado, apesar de toda essa bizarrice, porque tinha um álibi e ficou devastado quando descobriu a morte da colega pela televisão.
Inclusive Edwin continuou procurando por anos e anos a resposta para esse mistério. Em dois mil e oito, quando um novo incidente fatal com tubarão branco aconteceu e tomou conta da mídia, ele percebeu que A MORTE DE MICHELLE NÃO ESTAVA NA ESTATÍSTICA COMO MORTE POR TUBARÃO, de acordo com o Global Shark Attack File.
Esquisito, né? O laudo necroscópico fala isso, mas as entidades de pesquisa marinha dizem que não é isso, não.
O outro suspeito era o stalker de Michelle. Aquele que a fez sair do emprego na cafeteria, cafeteria onde ela inclusive conheceu Edwin. Aquele do qual ela não sabia o nome, mas sabia que tinha uma moto.
O stalker era nada mais que uma sombra, uma história contada por Michelle, um homem sem rosto, mas que poderia, sim, ter feito tudo isso com ela.
E, de todas as pessoas, uma mulher, chamada Denise Knox, acredita que foi justamente esse homem desconhecido que colocou um fim à vida da jovem.
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Denise Knox era a proprietária da Cabrillo Stationary and Office Supply, onde Michelle estava trabalhando, e com quem a garota tinha comentado sobre trocar de emprego para fugir de um perseguidor anônimo.
Ela conta que, na manhã do sábado, dezesseis de abril, viu a reportagem sobre um corpo de mulher não identificado, encontrado no oceano sem um dos membros, e que uma das marcas de identificação era a tatuagem da borboleta. Na mesma hora se lembrou da nova funcionária, que tinha uma tatuagem de borboleta e não tinha ido trabalhar na sexta. Em uma rápida checagem, viu que ela também não foi trabalhar no sábado.
Desconfiada, Denise trocou olhares preocupados com o marido e, na mesma hora, ligou para a polícia.
O departamento encaminhou a ligação de Denise para o escritório do legista, que pediu dezenas de informações sobre a funcionária em questão, já que em pouco tempo muitos trotes já tinham sido feitos com informações falsas sobre a identidade da vítima. Ela falou por cerca de meia hora sobre Michelle, mas o legista pediu detalhes pessoais, e foi então que Denise se lembrou de que sua funcionária não depilava as pernas.
Aí, o médico legista pediu que Denise fosse até lá para fazer a identificação. Junto com o gerente de sua loja, ela foi ao necrotério, com os nervos à flor da pele, e não quis ver os restos mortais. O legista tirou uma foto polaroide do rosto da mulher em sua mesa e foi dessa forma que Denise deu ao corpo um nome: Michelle Vom Emster.
Com o reconhecimento feito, o telefone da loja não parava de tocar, com diversos repórteres querendo detalhes e informações sobre a vítima do tal tubarão branco. Alguns deles já diziam que estavam atrás de pistas de um homicídio, já que as coisas não batiam e era preciso pressionar as autoridades a investigar mais.
O tempo passou, o caso foi dado como encerrado e o interesse público na morte de Michelle acabou esfriando, mas Denise nunca se esqueceu do trágico fim de sua funcionária. Ela mantém, até os dias de hoje, uma pasta com recortes de jornais sobre o caso, além do pedido de emprego redigido pela jovem e diversos post-its com fragmentos de informação do tempo em que os jornalistas ligavam sem parar para a Cabrillo Stationary and Office Suplies.
Nessa pasta, Denise guarda um exemplar da revista BOATING, com uma reportagem de Neal Matthews intitulada QUEM MATOU MICHELLE VOM EMSTER?, e um xerox do relatório da autópsia de Michelle.
Esse xerox não foi dado a ela no necrotério ou na polícia, mas feito dentro da sua própria loja, a pedido de um homem estranho que apareceu várias vezes por lá e encomendou as cópias. Achando aquilo tudo esquisito, Denise guardou uma para si, e notou que, na última página do relatório, havia um rabisco em letras grandes e trêmulas dizendo,
tubarões azuis?, interrogação, besteira!, ponto de exclamação,
Como se não bastasse um homem estranho fazendo diversas cópias de um relatório da autópsia, Denise lembrou que o meio de transporte dele era tão comum e, ao mesmo tempo, bem peculiar: ele ia e voltava da loja em uma MOTO, assim como o stalker de Michelle.
Roteiro: Lais Menini
FONTES:
Podcast Quinta Misteriosa
Michelle Von Emster: What Really Happened? – The CrimeWire
The death of Michelle Von Emster off Sunset Cliffs is adrift in mystery | San Diego Reader
Incidentes com tubarão: https://twitter.com/jusantanz/status/1632929194224103425