A fé move montanhas e pode levar os que acreditam a lugares maravilhosos, nesse mundo ou no paraíso. O caso de hoje mostra que, infelizmente, a religião também pode matar até mesmo os mais devotos fiéis.

O caso que vamos contar hoje pode ativar gatilhos sérios. Portanto, se você tem mais sensibilidade a casos que envolvam pedofilia, abuso sexual e tentativa de ocultação de cadáver por carbonização, não prossiga na escuta.
Vale lembrar que todas as informações que daremos nesse episódio vem de registros públicos da imprensa e liberados nos veículos de mídia pelas autoridades competentes. Todos os dados, nomes e detalhes citados nesse caso estão disponíveis na internet e as fontes estão na descrição desse áudio.
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Lucas Terra nasceu em dezenove de outubro de mil novecentos e oitenta e seis, na Bahia, e era o caçula de três irmãos, filhos de Marion e Carlos. A família se mudou para o Rio de Janeiro e, lá, por influência da avó paterna, Lucas começou a frequentar igrejas.
Logo cedo já dizia que seu sonho era ser pastor e viajar o mundo espalhando sua fé, o que surpreendia seus pais. Apesar de religiosos, eles não eram frequentadores de igrejas. Geralmente o que a gente vê é o contrário né? Os pais tentando fazer com que os filhos pratiquem uma religião e os jovens fazendo o possível pra passar longe das escolas dominicais, missas e cultos…
… mas Lucas não era assim, de jeito nenhum. Era desde pequeno um menino inteligente, obediente, cheio de fé e bondade e odiava mentira, porque aprendeu, com sua avó, que a mentira o deixava mais longe de Deus. Segundo seus pais, ele nunca deu trabalho ou motivos para que fosse considerado um adolescente problema. Sempre avisava para onde ia, com quem e respeitava o horário que os pais o davam para voltar para casa.
Então, quando ele dizia que estava em tal lugar, não havia suspeição sobre isso. Ninguém se perguntava: será que ele está mesmo? Ou será que ele está aprontando? E, no mais, ele passava boa parte dos seus dias na igreja que frequentava, com pastores e líderes religiosos que Lucas via como inspiração e amigos e colegas que compartilhavam com ele sua fé.
Marion e Carlos, seus pais, ficavam tranquilos em saber que o menino estava na igreja. Mesmo que não fossem frequentadores, pensavam que, de todos os lugares para se estar, a igreja era um dos mais seguros.
Quando o rapaz tinha quatorze anos, seus pais viram uma oportunidade de melhorar de vida longe do Brasil, mais especificamente na cidade de Parma, na Itália. Marion viajou com um dos filhos para lá enquanto Carlos e os outros dois, incluindo Lucas, se mudaram do Rio de Janeiro para Salvador, na Bahia, para ficarem perto da família por alguns meses, quando os trâmites para a ida de todos estivessem prontos.
Eles foram morar na casa de um parente que era tio de Lucas, no bairro de Santa Cruz, e não demorou para que o menino encontrasse um lugar para seguir com sua fé. Elegeu a Igreja Universal do Reino de Deus do bairro de Santa Cruz como o lugar que frequentaria enquanto esperava a ida definitiva para a Itália.
Recebeu, lá, a acolhida que estava esperando. Um dos pastores auxiliares, Silvio Roberto Galiza, simpatizou de cara com Lucas e, bem rápido, o transformou em seu assistente de confiança. O garoto, claro, ficou muito feliz com esse novo papel a desenvolver, já que seu sonho era criar uma carreira dentro da igreja, e precisava começar por algum lugar. O objetivo de Lucas era ganhar a gravata de obreiro da Universal, objeto que faz parte de uma espécie de uniforme oficial, e que faria o adolescente se sentir cada vez mais perto do seu sonho.
Mas o mal pode se manifestar em qualquer lugar, a Bíblia já diz, e mal sabia Lucas que seu destino estaria selado pelo mal que vivia no coração de seu novo pastor, Silvio Roberto Galiza, e que os outros líderes da Igreja Universal do Reino de Deus da Bahia conheciam muito bem.
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Silvio tinha vinte e um anos quando conheceu Lucas, e tinha acabado de chegar na Universal de Santa Cruz, transferido de outra igreja, onde tinha chegado quando foi transferido de OUTRA, porque, por onde passava, apresentava um comportamento classificado como inadequado, especialmente em relação aos adolescentes homens dos templos.
Não por acaso, era conhecido nos bastidores como SECRETÁRIO DO DIABO.
Ele tinha um histórico bem complicado de acusações de abuso, mas, por algum motivo, os pastores da Universal de Salvador que o conhecia acharam que o melhor a fazer com ele era mudá-lo de lugar cada vez que algo horrendo viesse à tona.
Assim, a sujeira no nome da instituição nunca ia embora. Só era colocada embaixo do tapete.
Mas Lucas, cheio de fé e bondade, jovem e repleto de sonhos, recém-chegado na comunidade, não tinha como saber de nada disso. Então, confiou no pastor Silvio e em tudo o que ele lhe dizia, especialmente quando ele lhe aconselhava a respeito de amizades do sexo feminino.
Eu nem imagino o tipo de picuinha que Silvio encontrava nas amigas de Lucas, todas elas membros da mesma igreja, mas o cara desenvolveu uma certa obsessão a respeito do garoto e aproveitava cada oportunidade que tinha para sabotar suas amizades.
Só que, aos quatorze anos, a maioria dos adolescentes está naquela fase de amores platônicos, paixonites, ficadas… e, embora Lucas não fosse de farra, ou de sair pegando qualquer pessoa, acabou se apaixonando por uma menina da mesma igreja que ele frequentava, o que era bem normal para sua idade.
Ele tinha seus sentimentos correspondidos, já que a menina também estava gostando dele, e poderia ser uma relação cheia de afeto e tranquilidade, entre dois jovens que compartilhavam a mesma fé, na mesma comunidade religiosa, mas Silvio tinha outros planos, e eles não envolviam Lucas ter uma namorada.
Lá pelo fim de fevereiro de dois mil e um, o pastor Silvio escalou Lucas e outro garoto da igreja para uma série de trabalhos noturnos. Como as tarefas seriam realizadas à tarde e à noite, os meninos iam ter que dormir no templo da Universal. Lucas pediu permissão ao pai, que não viu mal algum naquilo. A igreja, para Carlos, era um lugar muito seguro. E, de mais a mais, ele sabia exatamente onde o filho estava e com quem, porque Lucas não escondia nada de seu pai e de sua mãe.
Naquela noite, depois que o trio concluiu as tarefas que Silvio havia proposto, ele deu um travesseiro ao outro garoto e sugeriu que dormisse em um dos bancos da igreja, enquanto convidou Lucas para dormir em seu próprio quarto. A bizarrice completa, e com certeza os dois meninos perceberam, mas Lucas era obediente demais, puro demais para negar um convite daqueles. Talvez tivesse medo que, ao negar, o pastor se ofendesse, porque isso demonstraria que Lucas podia achar que Silvio teria segundas intenções.
Então, sem reclamar, lá foi Lucas, dormir no quarto do pastor, com ele, enquanto o outro garoto ficou nos bancos frios da Universal com apenas um travesseiro em mãos.
Carlos não ficou sabendo desse episódio, mas o outro rapaz comentou com alguém e, rapidinho, a notícia de mais um comportamento inadequado de Silvio já tinha se espalhado entre os membros da igreja. Eles SABIAM que uma coisa bizarra tinha acontecido e fizeram o que já tinham feito antes:
transferiram o pastor Silvio, DE NOVO, para outra igreja.
É até irônico pensar que, com tantas passagens bíblicas que atentam para lobos em pele de cordeiro e falsos profetas, os líderes de uma instituição tão grande quanto a Igreja Universal do Reino de Deus tenham escolhido, deliberadamente, ignorar todos os sinais de que um desses falsos estava entre eles.
E ninguém pode dizer que eles não sabiam, porque uma pessoa que tem como apelido SECRETÁRIO DO DIABO se tornando um líder religioso só quer dizer duas coisas: ou ele sabe manipular as pessoas assim como o próprio diabo ou… ele está entre os seus.
Quando os chefões da Universal de Salvador jogam de novo a sujeira debaixo do tapete, transferindo Silvio, eles só transferem o PASTOR, não o homem, o cidadão. Por isso, mesmo estando à frente de outra igreja, ele não parou de frequentar a Universal de Santa Cruz. Queria estar perto de Lucas, conversar com ele e, de certa forma, até vigiá-lo.
E assim foi durante todo o mês de março.
Em vinte e um de março de dois mil e um, Lucas se levantou cedo e, por volta das seis da manhã, foi para a Igreja. Ele voltou mais ou menos uma da tarde para almoçar com seu pai, Carlos, e avisar a ele que iria ao templo da Universal de Pituba, onde o pastor Fernando Aparecido da Silva, um dos bispos mais influentes da região, precisava falar com ele.
Vestiu suas roupas normais, de ir na igreja: uma camisa branca, uma calça social azul, meias e sapatos pretos, e tinha a expectativa de uma excelente conversa com o pastor Fernando. Depois, às cinco da tarde, ele voltaria para casa para tomar banho e se encontrar com amigos e com a menina por quem estava apaixonado e já tratava como namorada, para uma noite normal de jovens.
Antes de sair, deu um beijo no pai, que lhe desejou bom passeio. Aquela seria a última vez que Carlos veria seu filho vivo e bem, mas não seria a última que falaria com ele.
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Nos arredores da igreja, depois do culto, Lucas, seus amigos e sua namorada estavam em uma rodinha de conversa. O Pastor Silvio se aproximou deles, mau humorado, e disse a Lucas que tinha uma missão para ele, afastando o menino do resto do grupo.
Pediu que ele o acompanhasse até a Igreja Universal do Reino de Deus do Rio Vermelho para algum propósito de oração, e quando Lucas avisou que estava indo, os amigos notaram uma animação diferente. Mais tarde, correu a conversa de que a felicidade de Lucas era porque, de alguma forma, Silvio o fez acreditar que, em Rio Vermelho, ele conseguiria a tão desejada gravata de obreiro. Eles entraram em um ônibus e, ao descerem, Silvio foi comprar alguma coisa em uma loja de conveniência. Lucas aproveitou para ligar para o pai.
Ele disse, no telefonema, que queria se desculpar por não conseguir chegar em casa à tempo, no horário estipulado de nove e meia, dez da noite, porque estava em Rio Vermelho com o pastor Silvio. Provavelmente, pelo horário, eles iriam dormir no templo, mesmo, mas no outro dia voltaria para casa.
Carlos, que NADA sabia sobre Silvio, ficou tranquilo por ele estar na companhia de um membro da igreja, responsável e maior de idade.
De manhã, Lucas não estava em sua cama, na casa do tio, mas Carlos sabia que era porque ele estava na igreja de Rio Vermelho. Mas o tempo passou, passou e nada de Lucas aparecer, ou dar notícias. Esse comportamento era muito diferente do normal, e Carlos ficou muito preocupado.
Ele procurou a polícia, dizendo que seu filho estava desaparecido, e foi instruído a esperar quarenta e oito horas para ver se ele aparecia. Pode ter mentido para onde ia, disseram, porque isso é o que muitos jovens fazem, e já já ele volta pra casa.
Só que Carlos sabia que Lucas odiava mentiras e nunca faria isso, e que mesmo se estivesse em uma situação em que podia ser pego na mentira, se precisasse de alguma ajuda, ele ligaria para seu pai e pediria. A relação dos dois era ótima, e não tinha porque não ser.
Então, com o descaso dos policiais, resolveu ele mesmo procurar, por conta própria. E foi direto na primeira fonte: o pastor Silvio.
A versão que o pastor deu para Carlos era a de que realmente tinham ido à Universal do Rio Vermelho, mas que Lucas tinha voltado de ônibus. Ele sabia disso porque ele mesmo acompanhou Lucas até o ponto de Rio das Pedrinhas.
Depois disso, não o viu.
Carlos, aflito, vai buscar outras formas de achar o filho, e nada. Foi em hospitais, em delegacias, até no IML, e Lucas não estava em lugar nenhum, o que dava, ao mesmo tempo, alívio e desespero.
Ele sabia que o filho tinha ido para uma igreja de Rio Vermelho com o pastor Silvio, então, foi até a igreja para tentar encontrar mais pistas. Só que, chegando lá, os seguranças não o deixaram entrar. Carlos chegou a cruzar com o pastor Fernando, perguntar sobre Lucas, pedir para procurar dentro da igreja, mas em vão.
Talvez pela primeira vez na história, um homem foi impedido de entrar em uma Universal do Reino de Deus.
Isso era o dia vinte e dois de março e Marion já tinha ligado da Itália algumas vezes, pedindo notícias, querendo falar com os dois filhos, mas Carlos, para não preocupá-la, dava desculpas dizendo que o garoto estava na igreja, ou no banho… mas, chegando no próprio limite, acabou contando que não sabia onde o filho estava.
Marion pegou o primeiro avião rumo a Salvador, sabendo que Carlos estava praticamente sozinho na investigação do desaparecimento do filho, e veio ajudá-lo, veio lutar por Lucas.
Só que, infelizmente, essa luta estava apenas começando.
Quando a polícia finalmente entrou no caso, Carlos já tinha ido de novo falar com o pastor Silvio, que deu uma versão completamente diferente da anterior e deixou o pai do menino muito desconfiado.
Na sexta-feira, vinte e três de março, um corpo foi encontrado carbonizado em um terreno baldio, dentro de um caixote. Como estava muito queimado, não dava para identificar apenas no olho, então ele foi colocado no IML de Salvador e esperou por quarenta e três dias até que um exame de DNA confirmasse a identidade de Lucas.
Mas, durante esse tempo em que o corpo estava no IML, as coisas foram se desenrolando de tal forma que Carlos, Marion e a família começaram a ter a terrível certeza de que aquele corpo era de seu amado filho.
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Testemunhas disseram para a polícia que viram nas redondezas de onde o corpo foi encontrado uma Kombi, seguida por outro veículo e uma moto, e que de repente uma fumaça alta e forte começou a sair do terreno. Foi nesse momento que as testemunhas viram todos os veículos saindo em disparada do terreno baldio.
A perícia policial constatou que o corpo era de um garoto e foi queimado vivo. Ele estava amordaçado e teve as mãos e pés amarrados. O corpo estava tão queimado que não foi possível afirmar se ele havia ou não sofrido violência sexual.
Quando o exame de DNA confirmou a identidade da vítima, as suspeitas recaíram em Silvio, baseadas na sua obsessão por Lucas, pelo fato de o menino ter avisado ao pai que estava com ele e principalmente porque ele dava uma nova versão a cada vez que era perguntado sobre o caso.
O caso foi montado com base em depoimentos de testemunhas sobre o comportamento de Silvio nos últimos meses e em evidências encontradas no corpo que mostravam que o pano utilizado para amordaçar Lucas era de uma cortina da Igreja Universal de Rio Vermelho e um dos materiais utilizados para atiçar o fogo que queimou o garoto foi o panfleto da mesma igreja.
Silvio alegava inocência em todas as suas versões, mas seu histórico não lhe dava a menor credibilidade. Ele era o Secretário do Diabo, lembra? Mesmo assim, alguns líderes da Universal testemunharam em sua defesa, em um julgamento de dois mil e quatro, cercado de polêmicas.
Muitas potenciais testemunhas de acusação, incluindo Carlos Terra, foram ameaçadas por líderes da Universal, que tinham como objetivo minimizar o escândalo de pedofilia e morte em um de seus templos. Algumas dessas pessoas tiveram até que entrar no serviço de proteção à testemunha e precisaram mudar de casa e de identidade para não serem mais encontradas.
Silvio dava versões contraditórias, alegava inocência, mas vários buracos na história ainda estavam abertos. Ele não sabia dirigir, por exemplo. Então, se a Kombi vista nos arredores do terreno baldio onde Lucas foi queimado levava seu corpo, quem estava na direção? E de quem era a moto e o outro veículo que estavam ali?
Ficou claro que Silvio não agiu sozinho, mas, alegando inocência o tempo todo, se recusava a dar mais nomes, porque acusar alguém o colocaria a par do crime, talvez na própria cena. Essa pode ter sido a única atitude inteligente do pastor durante todo esse caso, já que a utilização de panfletos da igreja e panos de cortinas da Universal na vítima não demonstra esperteza nenhuma.
Ou, talvez, eles tenham achado que tudo iria queimar nas chamas, mas, se Deus existe, ele tinha um outro propósito para esse episódio, e envolvia não deixar impunes os assassinos de Lucas.
Em nove de junho de dois mil e quatro, Silvio Roberto Galiza, então com vinte e quatro anos, foi condenado a vinte e três anos e cinco meses de prisão, em regime fechado por homicídio triplamente qualificado. O júri aceitou a tese de que ele estuprou, matou e queimou Lucas.
Antes da leitura da sentença, o pastor Fernando, que tinha testemunhado em defesa de Silvio, foi detido e ficou em observação pelo resto do julgamento porque se contradisse diversas vezes perante o júri. Quando a sentença foi lida, ele estava solto.
Os advogados de Silvio, pagos pela Universal, entraram com recursos que diminuíram a pena para dezoito anos de prisão e, logo mais, quinze, o que soou como injustiça para a comunidade baiana, que viu o falso profeta ser preso por um crime hediondo. E, pior: o promotor o colocou como mandante do crime, mas deixou claro que não tinha como ele fazer tudo aquilo sozinho.
Então, outros assassinos estavam à solta, mas Silvio não denunciava ninguém, não dava nomes, só dizia, o tempo todo, ser inocente.
Só que até o secretário do diabo tem um limite… e o dele foi ultrapassado em dois mil e seis, durante uma entrevista para o programa Linha Direta.
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Acompanhado de nada menos que SETE advogados, Silvio deu para o programa um novo depoimento, completamente diferente de todos que havia dando antes. Nesse, colocou luz sobre o que, segundo ele, seriam os verdadeiros mandantes do crime e assassinos de Lucas.
Ele disse que Lucas foi morto porque flagrou o pastor Fernando, um dos líderes da Universal de Salvador, tendo relações sexuais com outro pastor, Joel Miranda, e que os dois, muito poderosos e influentes, sequestraram o garoto e o mantiveram em cárcere no subsolo da Universal de Rio Vermelho até o momento de sua morte.
Isso explicaria porque ele ficou amordaçado, para não gritar e pedir ajuda, e também porque foi usada uma cortina da igreja para isso. Outra coisa que chama atenção nessa versão foi a resistência dos seguranças em deixar Carlos Terra entrar na igreja, pois supostamente era ali que seu filho estava, ainda vivo.
Além disso, evidências mostraram que um dos veículos vistos pelas testemunhas no terreno baldio era o de Fernando. Com suas contradições e suspeições, ele chegou a ser preso, em dois mil e oito, mas foi liberado logo depois.
Ele também afirmou que, assim como as testemunhas, sofreu graves ameaças dos dois pastores, e por isso passou tanto tempo de bico fechado.
Essa nova versão de Silvio reabriu o caso e fez com que a família Terra, que lutava por justiça desde o começo, reforçasse sua luta. Assim, quando Joel e Fernando foram inocentados das acusações em dois mil e treze, os advogados da família entraram com um recurso que culminou com os desembargadores do Tribunal de Justiça da Bahia decidindo que os dois pastores iriam a um novo julgamento.
Dessa vez, júri popular.
Foram anos de idas e vindas de tentativa de recurso e anulação desse novo julgamento, por parte dos acusados, até que, em dois mil e dezenove, o pai de Lucas, Carlos Terra, morre de complicações de uma cirrose hepática, sem ver o que acreditava ser os verdadeiros assassinos do filho na cadeia.
Antes de falecer, ele escreveu uma carta à mão para cada juiz do Supremo Tribunal Federal pedindo que concedessem ao filho morto o direito de ter seu caso sentenciado pelo povo. Marion Terra, a mãe de Lucas, seguiu na luta, abraçada pelo povo da Bahia que engrossou o coro de justiça por Lucas.
Em dois mil e vinte os membros do STF decidiram que Joel e Fernando iam a júri popular, mas, por causa da pandemia, o julgamento foi adiado até abril de dois mil e vinte e três quando, VINTE E DOIS ANOS após o crime, Fernando Aparecido da Silva e Joel Miranda foram condenados por homicídio triplamente qualificado, com motivo torpe, emprego de meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima.
A sentença de vinte e um anos de prisão para cada um deles também teve como peso a tentativa de ocultação de cadáver. E aqui vai um parêntese: a burrice foi TÃO grande que eles queimaram o corpo de Lucas em um terreno baldio que pertencia À PRÓPRIA IGREJA UNIVERSAL.
Ainda cabe recurso, mas é improvável que Fernando e Joel sejam inocentados depois das provas apresentadas contra eles no júri. Eles já estão em regime fechado, na Bahia. Silvio Roberto, o Secretário do Diabo, está em liberdade condicional desde dois mil e doze, após cumprir sete anos de sua sentença em regime fechado.
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Antes de morrer, Carlos Terra, pai de Lucas, escreveu um livro chamado TRAÍDO PELA OBEDIÊNCIA, em que contava como seu filho, tão obediente e correto, teve o destino interrompido por pessoas monstruosas.
Atualmente, um dos irmãos de Lucas, Carlos Júnior, está se formando em Direito, inspirado e motivado pela sede de justiça no caso do irmão. Marion tem dois netos e uma de suas irmãs, que a auxiliou na busca por justiça e lutava há anos contra uma grave doença, morreu horas após a sentença de Joel e Fernando ser proferida. Ela disse que, “agora que a justiça tinha sido feita, ela poderia descansar ao lado do Luquinhas”.
Marion disse, em uma entrevista recente para o canal de Beto Ribeiro, CRIME S.A., que a vida deu um jeito de seguir em frente, e que está tranquila em saber que os culpados por tirar a vida do seu filho estão, finalmente, atrás das grades.
Mas ela não deixa, nunca, de se lembrar da pureza e índole daquele garoto que queria ser pastor, viajar proferindo sua fé e, como ele mesmo dizia, ganhar almas para Cristo, e de lamentar que, com essas virtudes, ele tenha caído em um covil de lobos que fingiam ser pastores.
Nas palavras dela, “PEDÓFILOS. MONSTROS. ASSASSINOS”.
Só nos resta assinar embaixo…
Roteiro: Lais Meninihttps://open.spotify.com/episode/2E64WZO0bBnabazeE7rWkl?si=Qi-VBQMHRSS3nvCxv5dLUQ
Fontes:
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