Collin County, no Texas, é um condado com cerca de dez cidadezinhas, repleto de comunidades agrícolas. O ano era mil novecentos e oitenta, o começo de uma das décadas mais nostálgicas de que se tem notícias e o lugar era tranquilo de se viver, repleto de comunidades religiosas.
Mas uma sexta-feira treze do mês de junho traria um horror que ninguém seria capaz de prever: uma professora foi encontrada em sua própria casa morta por mais de quarenta machadadas. Sim, quarenta e uma machadadas levaram a vida de uma mulher, mãe, esposa e dona de casa na pacata cidade. Um crime sem precedentes que marcou história e até hoje permanece sendo uma incógnita.


O casal Betty e Allan Gore se mudou para Collin County, no Texas, em mil novecentos e setenta e sete e, mesmo com Betty sendo mais reclusa, logo passou a integrar a comunidade religiosa, em especial, junto à Igreja Metodista Unida de Lucas, Texas. Betty e Allan nasceram no Kansas e eram filhos de fazendeiros, com uma vida simples.
De um lado, Betty se destacava no colégio, por ser uma garota bonita, sempre com pretendentes. Já Allan era mais tímido e não era um garoto muito sociável na época. Desde essa época, Allan já fazia vários bicos pela cidade para que pudesse ter certa independência do pai, com quem ele nunca teve um bom relacionamento. Mas o casal só se conheceria mesmo na faculdade.
Enquanto Betty estudava para ser professora infantil, Allan estava alguns anos de estudo à frente, fazendo graduação de Matemática. Quando ela precisou de ajuda nos estudos, Betty procurou por um tutor de matemática que foi ninguém menos do que Allan, com quem ela viria a se casar, em janeiro de mil novecentos e setenta. Depois de formados, Allan foi trabalhar na área de eletrônicos e Betty foi trabalhar como professora infantil.
Juntos, eles tiveram duas filhas, Alisa, em mil novecentos e setenta e três, e Bethany, em mil novecentos e setenta e nove, já vivendo em Collin County. Apesar da mudança, o relacionamento dos Gore não andava muito incrível. Desde que se mudaram, as rachaduras que vinham se acumulando com os sete anos de casamento foram aumentando. Parte disso ficava evidente com os problemas de saúde que Betty sempre sofria. Ela era mais fechada emocionalmente e as viagens do marido a trabalho sempre a deixavam mal.
Além do medo de ficar sozinha, os sentimentos de solidão tomavam conta de Betty, que sempre chorava, sentia enjoos e tinha dores de cabeça. Em determinada época, ela chegou a ser diagnosticada com depressão, e por isso, estava sempre tomando remédios. Mas a vida ainda traria muitas surpresas para Betty e Allan nos anos que estavam por vir, depois de sua chegada em Collin County.
O que muitos não sabiam é que alguns dos motivos da mudança de cidade de Betty e Allan fora o fato de que ela fora dispensada do seu emprego e, também, havia traído o marido num caso de uma noite. Durante a gravidez de sua filha mais velha, Alisa, nascida em mil novecentos e setenta e três, ou seja, três anos após o casamento, o relacionamento também ficou estremecido.
Betty se sentiu deixada de lado pelo marido e o casal teve problemas na vida conjugal e sexual. Assim, Collin County era também um sinal de recomeço para a família que, em pouco tempo, resolveu acolher uma criança em seu lar. David tinha uma idade próxima à da filha do casal, Alisa e, para Betty esse era o momento ideal de ter mais uma criança em casa.
Apesar disso, o relacionamento com a criança foi difícil e conturbado e logo Betty estava sobrecarregada. Depois de um tempo, David precisou retornar para o serviço de acolhimento infantil, porque a situação na casa se mostrou insustentável. Para Betty, ela falhara com a criança e Allan, no fim das coisas, não rendia debate algum e sempre tentava colocar panos quentes sobre os problemas do casal.
Na época, ambos já frequentavam a Igreja Metodista Unida de Lucas Texas que, apesar de ter um novo Reverendo com quem Betty sempre batia de frente e discutia, era um dos poucos momentos que ela tinha fora de casa e em contato com outras pessoas. Betty era bastante fechada e não tinha amigas, a sua vida circulava em função da filha, do marido e da casa. Allan, por sua vez, participava de algumas atividades da Igreja, como integrar o coral e o time de vôlei de adultos.
E foi exatamente por fazer parte desses grupos que Allan acabou chamando a atenção de uma mulher em especial: seu nome era Cadence Lynn Montgomery, que era conhecida por todos como Candy. Uma noite, depois do treino de vôlei, Allan foi surpreendido por encontrar Candy dentro de seu carro. Ela foi direta, disse que se sentia atraída por ele e que queria que ele fosse seu amante.
Estupefado com a ideia, Allan não trocou mais que um selinho com Candy. Afinal, sua mente se dividia: ele era casado, ele amava Betty e, além disso, Candy também era casada. Havia muito em risco nessa história.
Nos próximos dias, semanas e até completar um mês, Allan não disse exatamente que sim, nem que não, para Candy. Mas os dois se encontraram e imaginaram um cenário possível para aquilo funcionar. Eles partiram de uma lista de prós e contras.
Isso mesmo, uma lista de prós e contras para saber se eles iriam trair seus cônjuges nesse relacionamento extraconjugal.
Depois de entender que haviam muitos prós, porque, afinal, são duas pessoas frustradas sexualmente em seus casamentos, eles criaram uma lista de regras. Essa lista era uma espécie de contrato, que dizia o que eles se comprometeriam a fazer caso as coisas saíssem do controle. O primeiro tópico da lista dizia que, se um deles quisesse terminar, não precisava dar motivo, bastava terminar.
O segundo falava que, se alguém se emocionar, ou seja, desenvolver sentimentos pelo outro e a outra pessoa não corresponder, também pode terminar. O terceiro tópico afirmava que, se surgissem muitos riscos desnecessários, eles também terminariam. O quarto previa que todas as despesas do relacionamento seriam divididas igualmente, fosse com combustível, um jantar, o valor do motel ou o que fosse. Em quinto lugar, era certo que eles só se encontrariam nos dias de semana, porque tinha que ser quando os cônjuges estivessem trabalhando ou ocupados com a rotina.
Sexto, Candy deixaria o almoço sempre pronto quando fossem se encontrar, o que aconteceria sempre no intervalo de duas horas de almoço que Allan tinha. Isso daria a eles mais tempo juntos. Por último, mas não menos importante, o sétimo item da lista dizia que Candy sempre cuidaria da reserva do motel e que seria sempre na terça ou na quinta, quinzenalmente, porque são nesses dias que Ian, que é um dos filhos da Candy, estava na escola preparatória da Igreja.
Apesar de todo esse chove mas não molha, Allan ainda não tinha concordado em marcar seu primeiro encontro de traição com Candy. Mas a decisão não iria tardar muito mais: Betty estava grávida. Não é novidade que a gravidez pode afetar o relacionamento e a vida sexual do casal, mas nesse caso foi o pontapé de Allan para começar seu caso com Candy.
Betty temia que isso significasse um aumento dos problemas que ela tivera quando estava grávida pela primeira vez, de Alisa, e o relacionamento dos dois realmente se abalou. Durante esse período, Betty ainda se sentia insegura, odiava as viagens do marido, especialmente quando aconteciam aos finais de semana, e tudo se assomou com os hormônios da gravidez.
Encontrar uma amiga nessa época foi algo que fez grande diferença na vida de Betty. O único detalhe é que essa amizade veio exatamente de quem menos se esperava: Candy Montgomery, a mulher que estava tendo um caso com seu marido. A amizade parecia tão prolífera que Candy chegou a organizar o chá de bebê de Bethany, tão logo descobriu da gravidez, contada pela própria Betty.
O tempo passou e na época em que Betty teve sua segunda filha, Allan deu uma pausa nos encontros com Candy, que se sentiu traída e rejeitada por ele, em benefício de Betty. Porém, realmente foi apenas uma pausa e logo ele e Candy voltaram a seus encontros das terças e quintas no horário do almoço.
Ao mesmo tempo que isso desenrolava, Betty não estava disposta a deixar que seu casamento terminasse, sem que ela lutasse por ele. Conversando com pessoas da congregação religiosa que ela frequentava, ela descobriu um programa para casais, focado em trabalhar relacionamentos que estavam desgastados. A ideia era criar uma reconexão entre os parceiros através de Deus.
Em um retiro de três dias, ela e Allan conseguiram se reconectar, de um jeito que não acontecia há muito tempo entre os dois. Depois de cancelar vários dos encontros, Allan finalmente se abre para Candy: ele gastava muita energia com ela, quando deveria se esforçar era com a própria esposa. Ao mesmo tempo, ele não queria dar a palavra final e dizer, vamos acabar com tudo.
Não era a primeira vez que um término aparecia na conversa dos dois. A própria Candy já quisera terminar há algum tempo, quando percebeu que estava se apegando à Allan. A questão é que o relacionamento que os dois estavam cultivando não era apenas sexo, como ambos afirmaram a princípio. Eles se aproximaram também como amigos e confidentes, trocavam experiência, ouviam um ao outro.
Na época em que Candy quis terminar, Allan também deixou claro que gostava dela e que eles podiam continuar do modo como vinham tratando a situação. Agora, por outro lado, a história mudara, mas ao mesmo tempo, ele não queria simplesmente abrir mão de Candy. Sem ter resolvido muita coisa, cada um voltou para a própria casa e, no dia seguinte, Candy ligou para Allan e colocou um ponto final na relação.
Os dois nunca mais se relacionariam a partir dali.
Com o casamento caminhando melhor, a vida de Betty parecia mais tranquila, mas ao mesmo tempo, velhas dores ainda martelavam em sua mente.
Sua amiga Candy não estava mais tão próxima e Betty sentia que havia feito algo errado nessa história. E, quando se tratava das viagens de trabalho de Allan, ela continuava se sentindo solitária e melancólica toda vez que acontecia. Allan se sentia dividido com isso, ele aprendera a ouvir mais a esposa e agora entendia melhor como ela sentia, mas ao mesmo tempo, não era uma opção recusar as viagens.
Na manhã de treze de junho de mil novecentos e oitenta, ao deixar Betty para viajar a trabalho, Allan não imaginava que essa era a última vez que veria sua esposa viva. Allan deixou Betty e a bebê Bethany em casa, enquanto Alisa, a filha mais velha, havia dormido na casa de Jenny, sua melhor amiga, que era filha de Candy Montgomery. Ao longo do dia, Allan tentaria falar com Betty várias vezes, mas sem sucesso.
Já no fim do dia, quando estava em um hotel para descansar, Allan começa a ligar para os vizinhos para que alguém possa ir até a sua casa e checar como Betty está. Depois de muitas ligações e espera, um de seus vizinhos atende a ligação que Allan faz para a própria casa. As notícias são terríveis: apesar da bebê estar bem, e já na casa de um dos vizinhos, Betty foi encontrada na despensa da casa.
Betty estava envolta de uma piscina de sangue que deixou seu pulôver amarelo da cor marrom, ao que tudo indicava, ela fora morta com um tiro na cabeça. O terror havia se infiltrado na família Gore e assombraria toda Collin County por muito tempo.
O choque do crime tomou Collin County e as mais variadas suposições eram feitas pelo público: seria um serial killer à solta na cidade? Seria alguém da cidade ou um estrangeiro? A verdade é que ninguém se sentia seguro depois da notícia da morte do assassinato de Betty. Até que várias peças desse quebra-cabeças foram sendo reveladas e uma nova cortina de segredos surgia na cidade.
Voltando à cena do crime, os vizinhos que descobriram o corpo de Betty chamaram a polícia e a cena de terror logo ganhou novos contornos com a investigação policial. Antes de Allan voltar de sua viagem, ele ligou para Candy, para contar o que acontecera e pedir que ela mantivesse sua filha Alisa a salvo da notícia. Ele mesmo queria contar sobre a morte da mãe. Não muito mais cedo, quando Allan tentava falar com Betty e com os vizinhos, ele também ligou para Candy, para saber se ela tinha notícias de Betty.
Afinal, Betty não tinha amigas, não tinha motivos para passar o dia todo fora de casa com Bethany, que tinha então onze meses de vida. Candy foi solícita e contou a Allan que esteve com Betty pela manhã, quando foi buscar o maiô de Alisa para a aula de natação e pedir que ela passasse mais uma noite em sua casa porque as crianças queriam fazer uma sessão de cinema para assistir Star Wars: O Império Contra-Ataca.
Candy disse também que naquela manhã as crianças estavam na catequese e que havia uma apresentação programada para aquela manhã, que ela não poderia perder. Ela saiu do local para ir até a casa de Betty e depois passar na Target, para fazer algumas compras, mas quando saiu da casa de Betty e chegou na loja, percebeu que seu relógio havia parado e que ela estava atrasada, então que ela não comprou nada e que voltou para a Igreja.
Quando questionada por Allan sobre como Betty estava, ela disse que parecia bem, que elas conversaram por um bom tempo, brincaram com a bebê e os cachorros e depois ela foi embora. Mais tarde, Candy também receberia a ligação de Allan pedindo que ele cuidasse de sua filha mais velha e que Betty havia morrido. Candy foi atenciosa e garantiu a ele que não se preocupasse.
Enquanto Allan voltava para casa, a história ainda era confusa, para ele era possível que a esposa tivesse tirado a própria vida com um tiro, mas ao mesmo tempo que a dor a culpa o consumia, ele não conseguia deixar de pensar onde seria possível que ela encontrasse uma arma, já que a família não tinha uma sequer.
Foi apenas quando Allan chegou em Collin County que a polícia lhe revelou o verdadeiro horror: Betty não levou um tiro na cabeça, ela foi morta com quarenta e uma machadadas. As investigações da polícia também levavam a mais um detalhe impactante: quem matara Betty tivera tempo suficiente na casa para deixar pegadas e impressões digitais repletas de sangue e seguir até o banheiro para se lavar.
As pegadas eram pequenas demais e por isso deveriam pertencer a uma mulher ou criança. A história de Betty e o que parecia ser um ataque violento aleatório, logo se revelou para a polícia de um novo jeito: aquele era um crime passional, cometido com fúria por alguém que conhecia Betty. Alguém que não era muito grande e que, mesmo assim, desferiu quarenta e uma machadadas sucessivamente.
E é aqui que entra a história de Candy Montgomery.
Candy Montgomery, nascida Cadence Lynn Wheeler, sempre foi decidida e alguém que se destacava com facilidade onde quer que estivesse. Candy nasceu em mil novecentos e cinquenta e um, no Kansas, Texas, mas foi criada por todos os cantos. Seu pai era técnico de radar do exército e, por causa disso, no período pós Segunda Guerra, ele foi transferido para diversas bases durante vinte anos.
Isso, claro, fez com que a família se mudasse com frequência e Candy passou por várias escolas ao longo da sua infância e adolescência. Isso não era um grande problema para ela, que tinha facilidade em se enturmar, não gostava muito de estudar e amava que os garotos ficassem aos seus pés.
Quando a adolescência deu as caras, ela aproveitou para farrear muito com os amigos, beber além da conta e chegou a fugir de casa uma vez, com uma de suas amigas. As duas foram encontradas passeando em um shopping no dia seguinte, mas as aventuras de Candy ainda continuariam.
A ideia de fazer sexo sempre a fascinara e, por isso, quando tinha dezesseis ela perdeu a virgindade com seu então namorado. O problema é que a experiência foi frustrante e, quando ele a pediu em casamento depois de se formarem na escola, Candy não aceitou porque se julgava muito nova para casar.
Já nos anos mil novecentos e setenta, Candy tem vinte anos e vai para El Paso, no Texas, trabalhar em um jornal como secretária. Como o emprego não é suficiente para lhe sustentar, ela consegue um segundo trabalho, como secretária em uma fábrica de móveis de ferro forjado.
É lá que ela conheceria e se tornaria amiga de Mary Montgomery, que a chamou para conhecer seu filho, Par Montgomery, que vivia em Dallas. Pat era um nerd que passava o dia trabalhando como engenheiro elétrico e estudando para tirar seu PhD. Seu histórico com mulheres era uma lista repleta de primeiros encontros, sem segundas vezes.
Mas com Candy, Pat tomou coragem e a chamou para um segundo encontro. Ela gostou de ser surpreendida, já que achou que ele não teria coragem e aceitou. Os encontros, porém, não seguiram em frente depois que Candy deu o bolo no terceiro encontro.
Os dois viriam a se reencontrar apenas um tempo depois, quando Pat estava na cidade para o funeral de um tio. Com a reaproximação e a abertura de sentimentos que o momento trouxe, o casal finalmente se formou. Inúmeras cartas românticas e apaixonadas foram trocadas até Pat pedir Candy em casamento.
Numa cerimônia pequena, só para amigos, os dois se uniram. Os problemas viriam depois, com Pat focado numa rotina de trabalho e estudos e Candy com uma rotina totalmente diferente. O casal passou então um tempo no Colorado, com Pat tirando uma licença do trabalho para tirar seu PhD. Quando voltaram para Dallas, tiveram dois filhos, Jennifer, a Jenny, em setembro de mil novecentos e setenta e dois e Ian, em outubro de mil novecentos e setenta e quatro.
Candy já era alguém ativa na comunidade e participar das atividades da Igreja era uma das suas atividades favoritas. O seu relacionamento com Pat, por outro lado, vinha se desgastando ao longo do tempo, com ambos cada vez mais distantes um do outro. Foi em fevereiro de mil novecentos e setenta e sete que Candy e sua família se mudaram para Collin County, no Texas, o mesmo condado para o qual, ainda naquele ano, Betty e sua família se mudariam.
Em pouco tempo, a vida de Candy já estava totalmente atrelada à Collin County: sua família passou a frequentar a Igreja Metodista Unida de Lucas Texas, e Candy se aproximou muito de Jackie, que era a pastora da congregação. As duas se tornaram amigas íntimas e isso ajudou para que Candy se tornasse também uma das líderes da Igreja, além de dar aula na escola dominical.
É com Jackie que Candy compartilha muitas das suas insatisfações no casamento, especialmente as sexuais. A essa altura, ela acreditava que Pat não sentia mais desejo sexual por ela e essa era a parte que mais a incomodava.
Foi ainda em setenta e sete que Candy conheceu Betty e sua família, mas ao mesmo tempo, Betty sempre parecia para ela alguém que não queria muitas amizades ou intimidade. Quando mil novecentos e setenta e oito chegou, Candy estava cansada de apenas servir a família e não ser desejada por um homem. A solução que ela encontrara foi logo compartilhada com sua amiga e pastora Jackie: Candy queria um amante.
Candy passou a integrar o time de vôlei da Igreja e foi lá que, certo dia, um homem se destacou sob o olhar dela. Esse homem era, é claro, Allan Gore, o marido de Betty. Colocando seu plano em ação, Candy começou a flertar com Allan, mas ela ainda estava em dúvida se ele estava entendendo as indiretas ou se por acaso ele só era gente boa.
Foi assim que em uma noite depois do treino ela entrou no carro dele e contou seu interesse em Allan. Como já contamos, levaria um tempo para que o caso efetivamente se consumasse, com Allan pensando em prós e contras e ambos criando listas e aquela lista de regras para o adultério.
A primeira transa definiu o tom do casal, além de se tornarem confidentes e amigos, o sexo era bom. Era tudo que Candy precisava para se sentir realizada. Nessa época, Jackie, a pastora da congregação e amiga de Candy, deixou a cidade para trabalhar em outro local. Quem acabou tapando o buraco de uma confidente que Candy precisava foi Sherry, que já fazia parte do grupo de amigas e assim, Candy contou para ela sobre seu caso.
Quando chegou o ano de setenta e nove uma verdade incômoda chegou até Candy: ela estava se apaixonando por Allan. Ela não o via mais como um amigo ou o cara com quem ela transava, ela tinha sentimentos mais profundos por ele. Seguindo as regras do jogo, ela pediu que eles terminassem, mas Allan foi contra, demonstrando que ele também gostava de Candy.
Foi também nesse ano que Allan pediu um tempo dos encontros porque Betty estava para ter a bebê, o que não impediu que o caso retornasse um tempo depois. Como também já contamos, o término viria com a tentativa de Betty de salvar seu casamento e a ida dela com Allan para o retiro de casais.
Depois de vários bolos que Candy recebeu do Allan, eles conversaram e ela terminou com ele no dia seguinte, por telefone. Allan chegou a enviar uma carta para Candy para falar sobre como o término era o melhor para os dois, e o quanto ele apreciava todo o tempo que passaram juntos. Candy, porém, continuava insatisfeita com sua vida de casada e agora que não tinha mais Allan, outro amante era o caminho mais óbvio para consertar as coisas.
Nessa época, Candy conheceu Richard, que também era casado e em pouco tempo se apaixonou por ela. Conversando com sua amiga Sherry, Candy acabou percebendo que ter um amante não acabaria com o vazio que ela sentia. Como Richard estava apaixonado, desejava já largar a esposa e se casar com Candy, nada que ela também quisesse, o relacionamento teve fim. Assim, Candy tentou uma solução que resolvesse o problema que ela tinha na própria casa e foi com seu marido Pat para o mesmo retiro de casais que Betty e Allan já frequentaram.
Os três dias dedicados um ao outro funcionaram, Candy e Pat voltaram a se conectar e a conviver bem. Por muito tempo, a convivência foi pacífica e sem entraves. Candy Pat se encontraram inclusive com vários outros casais da congregação, até mesmo com Betty e Allan, sem constrangimentos. Os tempos pareciam mais tranquilos e, em abril de mil novecentos e oitenta, dois meses antes da morte de Betty, Pat estava em casa com as crianças enquanto Candy frequentava um retiro para mulheres.
Pat acabou encontrando a carta de despedida de Allan para Candy e ligou para a amiga Sherry para confirmar se o caso realmente tinha acabado. Quando Sherry disse que sim, Pat se sentiu ainda mais culpado, para ele o motivo da esposa procurar outro homem é porque lhe faltava a atenção que ela merecia em casa.



Os dois então fizeram uma viagem juntos, o casamento seguia restaurado. Isso até a fatídica sexta-feira treze de junho daquele ano. Pela manhã, Candy levou seus filhos, Jenny e Ian, junto com Alisa Gore, a filha de Betty, para a escola bíblica. A ideia de Alisa dormir mais uma noite em sua casa veio logo cedo, as crianças queriam que Alisa também fosse ao cinema naquele fim de tarde para assistir Star Wars: O Império Contra-Ataca, que havia estreado no fim de julho.
Seguindo os planos para o dia, enquanto as crianças estavam na escola dominical, Candy foi até a casa de Betty para buscar o maiô de Alisa, que tinha aula de natação naquela tarde e pedir que ela passasse mais uma noite na sua casa.
E é aqui que a história fica realmente nebulosa.
Candy saiu da casa de Betty atordoada, sob efeito da adrenalina. Um dos dedos do seu pé estava com um corte e sangrando e isso a deixou nervosa. Enquanto dirigia ela repetia para si mesma, nada aconteceu, é um dia normal, nada aconteceu.
Candy não voltou direto para a escola dominical, ela foi para sua casa, lavou suas roupas, colocou um curativo no dedo e calçou um par de sapato fechado. Ela também estava com um corte na testa, bem perto da raiz do cabelo e, como não conseguiu colocar um curativo lá, ela o cobriu com o próprio cabelo.
Quando ela voltou para buscar as crianças, ela se preocupou em falar para todas as pessoas que encontrava que havia perdido a hora, que ela fora na casa de Betty, depois chegou na Target e se deu conta de que seu relógio havia parado e ela estava mais atrasada do imaginou, então não comprou nada e voltou para buscar as crianças.
Ao chegar lá, ela repetia para todas as pessoas que estava atrasada, que foi até a Target e que seu relógio havia parado, mesmo quando ninguém perguntava a respeito. O restante do dia ainda traria outras anomalias no comportamento de Candy, que depois completariam a cena, mas a verdade do que aconteceu na casa de Betty naquela manhã ainda é um mistério.
É certo que Candy estava na casa de Betty, tanto quanto que ela foi a última pessoa a vê-la com vida na sexta-feira treze de junho de mil novecentos e oitenta. E a única versão que existe desse encontro é da própria Candy Montgomery, que ficaria conhecida em Collin County e no mundo como a assassina do machado.
O crime e o circo midiático do julgamento
Quando a polícia chegou na casa de Betty, na noite do dia treze de junho, encontrou os três vizinhos com quem Allan havia conseguido contato. Os três entraram juntos na casa dos Gore para investigar. A primeira coisa que eles notaram foi que havia luzes acesas na casa, mas que ninguém atendia à campainha. Outro detalhe foi de que o carro de Betty também estava na garagem, então era improvável que ela estivesse fora e, além disso, a porta da frente da casa não estava trancada.
Quando os três entraram na casa, logo encontraram a bebê de onze meses, Bethany, suja no berço, e rouca de tanto chorar. Imediatamente ela foi levada para a casa vizinha, para a esposa de um deles. Estava claro que algo sinistro havia acontecido, e eles chegaram a ver sangue em vários locais do banheiro. Buscando mais por Betty, a cena de horror se revelou quando abriram a despensa da casa: ela estava caída no chão, envolta por sangue escura, quase preta, com metade do rosto desaparecido, parte do cérebro expostas e seu pulôver amarelo embebido em sangue, ganhou um tom amarronzado.
A visão estarrecedora fez com que os três concluíssem que Betty havia sido baleada na cabeça e foi exatamente isso que contaram à Allan quando ligaram para ele. A polícia, que ficou seis horas periciando o local antes de liberarem o corpo de Betty para a autópsia, revelou muitos detalhes distintos. A primeira coisa é o fato de que Betty havia sido golpeada várias vezes com um machado de cabo longo que foi deixado na cena do crime.
E o sangue, que se espalhava por vários locais, também revelava mais detalhes sobre o crime. Além de serem encontradas digitais na cena, haviam pegadas. Essas pegadas pareciam pequenas o suficiente para ser uma mulher ou uma criança. Além disso, elas levavam à outra parte da casa: o banheiro. Tudo indicava que, após matar Betty, a pessoa se dirigiu para o banheiro para se lavar.
Na garagem da casa encontraram uma lente de óculos quebrada e a porta do local que dava acesso a dispensa também estava aberta. O mais estranho é que não havia qualquer sinal de arrombamento na casa e a violência do crime indicava uma raiva da vítima que só alguém que a conhecia poderia ter.
Era hora então de começar a ouvir os vizinhos, procurar pistas e tentar encontrar o culpado.
Como de praxe, Allan, como marido de Betty, precisava ser investigado. O álibi de Allan foi checado pela polícia e, além disso, ele relatou toda a história. Como deixara sua esposa pela manhã com Bethany, como ela estava chateada por ser deixada sozinha, como ele tentou falar diversas vezes no telefone e ninguém atendeu. Allan também contou que pediu a ajuda de vários vizinhos para que fossem até a casa, porque ele tinha certeza de que havia algo errado. Betty não deixaria de atender suas ligações e ela tampouco tinha amigas que justificariam ela passar o dia todo fora de casa.
Quando a polícia questionou sobre possíveis desavenças e pessoas que poderiam querer ferir Betty, Allan não tinha respostas para dar e, mesmo que vários detalhes da história da família tenham sido narrados, ele manteve seu caso com Candy em segredo. Aos poucos as peças foram surgindo. Uma das testemunhas que trouxera um relato importante para a linha do tempo do crime foi uma menina de cinco anos que vivia na vizinhança.
A menina tinha o hábito de brincar com Alisa e, naquela manhã do dia treze, ela viu uma mulher saindo da casa de Betty e achou que fosse Alisa voltando para casa. Só que, quando ela tocou a campainha e esperou, ninguém da casa apareceu, mesmo ela ouvindo a bebê chorar dentro da casa.
Enquanto a investigação seguia, o laudo da autópsia apontou que Betty recebeu quarenta e uma machadadas, e a maior parte delas com ela ainda viva. Além da quantidade espantosa de golpes, a força que a pessoa usou para desferi-los foi tanta que o machado ficou preso no corpo de Betty diversas vezes, exigindo ainda mais esforço para retirá-lo e golpear novamente. Considerando que Candy havia sido a última a ver Betty com vida, era hora da polícia interrogá-la.
No domingo, dois dias após a morte de Betty, Candy foi até a delegacia prestar seu depoimento e aparentava estar calma. Durante seu relato de uma hora e meia, Candy relatou à polícia tudo que acontecera naquele dia, ela foi extremamente solícita com a polícia, se colocando à disposição para qualquer coisa. Candy contou sobre a ideia de Alisa dormir mais uma noite na sua casa, para poder ir ao cinema com seus filhos e que, depois de deixá-los na escola dominical pela manhã, ela havia ido até a casa de Betty para conversarem.
Lá, ela disse que achou Betty normal, que conversaram sobre as crianças, brincaram com os cachorros e com a bebê Bethany depois de uns quinze minutos, Candy saiu de lá. Depois ela disse que passou na Target, descobriu seu engano com o relógio parado e voltou para a escola dominical sem fazer as compras que queria. Depois o dia transcorreu normalmente, com Alisa indo a aula de natação, a sessão de cinema no fim do dia e, à noite, as ligações de Allan, primeiro pedindo notícias sobre Betty, mais tarde, contando que ela havia sido encontrada morta em casa. O delegado perguntou para Candy qual sapato ela estava usando na sexta-feira e ela falou de um modelo que não correspondia às sandálias que ela calçava naquele dia
No fim, a polícia agradeceu a ela por ser tão prestativa durante todo o depoimento. Com a cidade em pânico por causa do crime, as notícias passavam o tempo todo na tevê e também saíram muitas nos jornais. Ao mesmo tempo que a polícia levantava suas suspeitas, Allan também começou a achar algumas coisas muito estranhas.
Pelas notícias, ele descobriu que havia a possibilidade de ser uma mulher quem havia assassinado Betty e se lembrou que Candy havia estado com Betty naquela manhã. Além disso, sua filha lhe contou que Candy buscara as crianças apenas na hora do almoço e, se ela não fez as compras que queria, por que demorou tanto para buscá-las? Com a consciência pesada, Allan entra em contato com o xerife sobre seu caso com Candy e tudo que aconteceu entre os dois, até o término, no ano anterior.
Diante desse fato novo, era hora da polícia falar de novo com Candy, e dessa vez, o xerife não seria tão amistoso. Afinal, isso a colocava não apenas na casa da vítima, próximo ao horário de sua morte, como também a definia como a ex-amante de Allan. Nesse interrogatório foram colhidas as impressões digitais de Candy e novas perguntas foram feitas, o que fez Candy confessar que havia sim tido um caso com Allan. Porém, quando perguntavam sobre o assassinato de Betty, mesmo sendo pressionada, Candy continuou negando.
A polícia então queria que Candy passasse pelo teste do polígrafo e isso, de cara, despertou um sinal vermelho para ela, que solicitou um advogado. O homem era Don Crowder, um advogado de Dallas que também era benfeitor da Igreja e, por isso, Candy o conhecia. Apesar de não ter experiência com julgamentos desse tipo, ele aceitou o caso e disse para Candy que não passasse pelo polígrafo, porque era muito arriscado.
Durante a continuidade das investigações, Don chegou a recomendar que Candy e sua família ficassem afastados, já que a mídia estava por todo canto. Candy, Pat e os filhos ficaram um tempo na casa de sua amiga Sherry, e, nas suas consultas com Don, Candy precisou abrir o jogo quando ele a confrontou: ela havia ou não matado Betty Gore?
A resposta de Candy foi o que todos já suspeitavam: Candy assume que matou Betty no dia treze de junho. O conselho que Don lhe deu foi de que ela não deveria contar para absolutamente ninguém e que ela não precisava se preocupar porque, mesmo assim, ele ainda a defenderia no julgamento.
Depois de um tempo, a família de Candy se abrigou na casa dos pais de Pat, para evitar a mídia. Com as impressões digitais do local do crime e agora com as impressões de Candy, a polícia tinha como encontrar evidências que a colocassem no momento do crime, na casa de Betty. O especialista que fez as comparações tinha completa certeza de que a dona das impressões que lhe forneceram era a mesma que deixou marcas ensanguentadas na casa.
Ainda restava a dúvida na polícia se Allan tinha alguma coisa a ver com crime e, por isso, pediram que ele fizesse o teste do polígrafo. Apesar de Allan não estar envolvido, ele contratou um advogado para se preparar para o teste, que, no fim das contas, o eximiu de culpa junto à investigação.
Duas semanas depois do crime, no dia vinte e sete de junho, Don recebe uma dica de um conhecido dentro da promotoria de que havia um mandado de prisão em nome de Candy. A ideia então era conseguirem fundos para a fiança de cem mil dólares que seria exigida para que Candy pudesse ser libertada no mesmo dia em que fosse presa.
Um dos advogados que trabalhavam com Don foi com Candy até Dallas, onde um agente de fiança deu a garantia, enquanto Candy deu a escritura de sua casa como garantia. Quando estava tudo acertado, Candy foi levada até o presídio de Collin County para cumprir o mandado e seu marido estaria com o advogado para pagar a fiança.
A ideia era que ela fosse solta ainda no mesmo dia, porém, tudo deu errado. O xerife que estava presente disse que o dinheiro vinha de Dallas e que isso não estava certo e, até que tudo fosse resolvido, Candy passou a noite na prisão, chorando e desesperada. No dia seguinte, conseguiram que ela fosse solta mediante a fiança e, agora, era hora da preparação para o julgamento.
Don sabia muito bem disso e queria se aproveitar do circo midiático que se fortalecia. A primeira recomendação à Candy foi de que ela emagrecesse e mudasse o cabelo. Ele queria que ela parecesse alguém mais frágil, menor, alguém incapaz de pegar um machado e golpear alguém quarenta e uma vezes.
A essa altura a polícia conseguiu um mandado para a casa de Candy e lá apreenderam o carro dela, por encontrarem vestígios de sangue. Porém, não foi algo que resultou em grandes conclusões.
Assim, tentando ganhar pontos para o lado de Candy no julgamento, Don começou a mandar algumas fake news para a mídia. Ele disse que durante o caso ele tinha toda uma equipe de investigação ao seu dispor e que, segundo um laudo, ficara comprovado que Candy jamais teria forças para segurar o machado e atacar Betty com tamanha violência.
Ele também espalhou a ideia de que Candy havia passado num teste de polígrafo realizado por sua própria equipe de especialistas e que provava que ela dizia a verdade.
No meio de tudo isso, Pat, o marido de Candy, começou a achar algumas coisas muito estranhas, especialmente depois de ver a matéria sobre o polígrafo e Candy não lhe dar abertura para conversarem.
Uma delas era o fato de que Candy havia se livrado de umas sandálias que ela gostava muito e usava o tempo todo. Pat ainda não sabia, mas Candy havia feito isso logo depois que as notícias de pegadas na cena do crime haviam sido identificadas.
Como o burburinho da mídia ainda era intenso, foi solicitada uma audiência para uma gag order, essa é uma ordem de silêncio, que impede que os jornais e outros veículos da mídia comentem sobre o caso.
No dia dessa audiência, porém, em que a gag order foi aprovada, uma reviravolta esperava por Candy: a polícia afirmou que o agente de fiança de Candy não pagava as taxas que devia e que ele não tinha uma declaração juramentada de suas propriedades, então, o pagamento da fiança de Candy era inválido.
Dali mesmo Candy foi levada para a prisão e, mesmo sem o desespero da vez, levou uma semana até que seu advogado Don conseguisse soltá-la novamente.
Depois disso, ainda na preparação para o julgamento, Don acabou contando para Pat que fora mesmo Candy quem matara Betty e que eles precisavam conversar.
Ao mesmo tempo, ele trabalhava para que o julgamento não ocorresse em Collin County, porque ele não gostava do juiz de lá. Suas tentativas não tiveram sucesso e ele buscou uma nova abordagem para o caso de Candy.
Don contatou o psiquiatra e hipnólogo Dr. Fred Fason, para fazer um diagnóstico de Candy. Mas não apenas isso, ele queria que Candy fosse mais vulnerável, mais emocionada durante o julgamento.
O que ele queria era que a personalidade de Candy fosse alterada, que ela demonstrasse mais reações, coisas que não era do seu feitio, então o trabalho de Fason era acessar o momento do crime e descobrir do que ela se lembrava.
O detalhe é que mesmo essa sessão moldou a forma como Candy se lembrava do fato, trazendo sentimentos de medo, luta e defesa para a narrativa do crime.
Depois de várias sessões, Candy chegava a afirmar para o próprio advogado, Don, que o crime só ocorreu por motivo de legítima defesa e, aos poucos, a história foi sendo lapidada para ela se apresentar no julgamento.
Antes disso, Don queria ter certeza de que Candy estava pronta e a fez passar por um teste do polígrafo. Candy foi aprovada no teste.
Na segunda quinzena de outubro de mil novecentos e oitenta, o julgamento de Candy Montgomery pelo assassinato de Betty Gore tinha início com doze pessoas no júri: nove mulheres e três homens.
Dessas mulheres, cinco delas eram donas de casa, três eram secretárias e uma era professora. Pela similaridade de estilo de vida, Don já considerou isso um ponto a favor para a defesa de Candy. Seu trabalho seria despertar a empatia dessas pessoas.
Mas sua maior cartada durante o julgamento, porém, foi alegar a todos a verdade, ou, ao menos parte dela: Candy Montgomery matou sim Batty Gore, mas foi em legítima defesa.
O trabalho que ele estava prestes a apresentar seria exatamente esse: a legítima defesa de Candy ao matar Betty.
Os detalhes foram bem articulados para isso, a própria Candy chegou ao tribunal no primeiro dia com um vestido azul largo, com bainha bem abaixo dos joelhos e um suéter de lã branca e brincos discretos: Don queria que ela parecesse maternal e sóbria.
As primeiras testemunhas a serem chamadas eram da acusação e um deles era Allan Gore, o marido de Betty.
No dia, ele parecia estar em modo automático, respondendo as perguntas apenas com sim ou não, sem conseguir, por fim, dar brecha para a acusação confrontar Candy.
Don, de outro lado, conseguiu que Allan revelasse mais detalhes sobre Betty, trazendo destaque para sua instabilidade emocional e seus problemas de saúde mental.
Vários profissionais foram chamados a dar seu depoimento e a acusação não parecia conseguir ir muito a fundo e trazer novas informações com elas.
Porém, quando era a vez de Don, ele conseguiu inserir a possibilidade de que Candy tivesse cometido o crime sob algum estado de afastamento dela mesma. A confirmação veio já que, em muitos aspectos, era impossível ter certezas sobre o que de fato acontecera naquela manhã do dia treze de junho.
Quando então chegou a vez das testemunhas da defesa, a primeira delas foi a própria Candy, é algo inusitado em julgamentos de homicídio, mas já que Don alega legítima defesa, era importante compor a narrativa.
O relato a seguir é o único que se tem do momento do crime, numa versão já lapidada pelas sessões de hipnose e pelos aconselhamentos de Don, o advogado de Candy:
Como Candy já contara em outros momentos, na sexta-feira ela fora até a casa de Betty para pedir permissão de que Alisa ficasse mais uma noite em sua casa e para pegar o maiô para a natação.
Quando ela chegou lá, encontrou Betty com um jeito frio e desinteressado, que as duas conversaram um pouco e que Candy tentou aliviar o clima, perguntando sobre a bebê e os cachorros.
Depois de um momento de silêncio meio constrangido entre as duas, Betty perguntou para Candy se ela estava tendo um caso com Allan. Candy logo respondeu que não, mas que, quando Betty perguntou se ela já tivera um caso com ele, ela confirmou.
Mas ela também se preocupou em dizer que Allan amava mesmo era Betty, que o caso não tinha significado nada para ele e que acabara tinha muito tempo.
Nessa hora, Candy conta que Betty foi até e despensa e apareceu com um machado na mão, fazendo ameaças a Candy. Que ela disse que Candy deveria ficar longe do marido dela, que ela jamais poderia tê-lo.
Candy ficou muito assustada e disse para Betty que ela precisava se acalmar. Que Betty então colocou o machado de lado, mas disse que Candy havia sido avisada.
Candy foi até Betty, para tentar consolá-la, porque ela sentia muito e Betty aparentava estar muito triste. Mas foi nessa hora que Betty explodiu de raiva instantaneamente, pegou o machado e tentou acertar Candy.
Betty estava descontrolada e acabou machucando Candy na testa e também no dedo do pé enquanto as duas brigavam. Em dado momento, Betty se desequilibrou e Candy conseguiu acertá-la com o machado, bem forte na nuca.
Betty caiu no chão, mas se levantou depois de uma única vez, assustando Candy, que se sentiu tão ameaçada que começou a golpear Candy até perceber que ela não se mexia mais.
Depois disso, ela se lavou no banheiro e foi embora.
Logo depois desse relato de Candy, Don pegou um machado no tribunal e o mostrou para Candy. Ela já estava abalada pelo relato do que acontecera durante o crime e, ao ver a arma, ela ficou desesperada, chorou muito e pediu para que ela não precisasse ver aquilo.
O júri, é claro, estava comovido a essa altura.
O único ponto que o promotor conseguiu se apegar junto à Candy, foi o fato de que ela não confessou o crime, que apenas se revelou depois que acharam as impressões digitais cobertas de sangue. Ele ainda foi mais longe e disse que, se ela estivesse realmente arrependida do que fez, ela teria confessado o crime.
Como Candy justifica que logo iria ceder, porque a pressão era muito grande, ele apela para a reputação de Candy e a faz confessar que teve outro caso extraconjugal depois de Allan.
No intervalo depois do interrogatório de Candy, ela conta para o marido sobre seu segundo amante e, mesmo magoado, ele ainda depõe a favor da esposa.
Além de Allan, Don levou ao julgamento um médico legista, que afirmou que apesar do laudo oficial não indicar, havia sim sinal de luta entre as mulheres no corpo de Betty.
Um psiquiatra também foi levado para depor, que explicou o que acontecera com Candy durante o crime: segundo ele, ela sofreu com uma reação dissociativa, na qual ela tinha a compreensão do que estava acontecendo, mas não tinha compreensão do que ela mesma fazia.
Ou seja, Candy não estava no seu normal naquele momento. Por causa desse relato, o juiz solicitou uma avaliação psiquiátrica para avaliar se Candy estava apta a participar de um julgamento e, como resultado, sua aptidão foi confirmada.
O julgamento então teve sua continuação.
Foi a vez do Dr. Fasen, o psiquiatra e hipnologo que atendeu Candy depor, e ele revelou que, durante as sessões de hipnose, ele descobriu uma raiva interna dentro de Candy, por um conflito de quando ela era ainda criança. E que, quando ela se sentiu ameaçada e dada as palavras que foram trocadas entre ela e Betty, aquele momento foi um gatilho, que despertou uma reação altamente violenta por parte de Candy.
Para reforçar toda a história montada em benefício de Candy, Don levou alguns vizinhos e amigos da família para depor, com relatos sempre voltados para o fato de que Betty era emocionalmente instável e que achavam que ela era alguém capaz de atacar a amiga com um machado.
O julgamento ainda contou com uma reprodução do teste do polígrafo no qual supostamente Candy fora aprovada, em que ela diz que não foi até a casa de Betty para lhe fazer mal.
No discurso final da defesa, de maneira inflamada e emocionada, Don ressaltou como Candy era uma pessoa incrível que fizera algo terrível e que não seria justo separar uma mãe de seus filhos.
Depois de algumas horas de deliberação, o júri voltou com o veredito: Candy Montgomery era inocente de todas as acusações.
Mesmo depois de ser inocentada perante o júri, a vida de Candy e sua família não seria mais a mesma em Collin County.
Além dos protestos que ocorreram no dia final do julgamento, que a culpavam como assassina, a família ainda recebia ameaças e Candy era maltratada aonde quer que fosse.
Apenas oito dias depois, a família se mudou do local que os abrigara desde mil novecentos e setenta e sete, para nunca mais retornar.
Existem muitos relatos e especulações sobre o que aconteceu com Candy, alguns dizem que ela e Pat se divorciaram pouco tempo depois e que viviam na Geórgia.
Uma matéria também divulgou o fato de que Candy trabalhava como conselheira de saúde mental.
Porém, as fontes são bastante incertas e não apresentam provas quanto a essas alegações. É mais uma parte da verdade que não conhecemos a fundo.
Fontes:
Podcast Modus Operandi
Bethany and Alisa Gore now: Their lives after Betty’s murder – TheNetline
Série Candy – Original Hulu