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Como prever o próximo passo de um assassino em série? Onde buscar informações? Em quem acreditar? 

No Casos Reais de hoje, a história dos emasculados do Maranhão.

O caso de hoje é um caso brasileiro, muito falado na década de 90 e nos anos 2000. Nós estamos falando nesse episódio de um caso de serial killer brasileiro e, por esse motivo, os crimes que serão contados hoje têm um certo nível de desconforto e podem gerar gatilho em algumas pessoas pela brutalidade que eles representam.

No período de 1991 a 2003, a capital maranhense, São Luís, e os municípios vizinhos de Paço do Lumiar e São José de Ribamar, tiveram como pano de fundo a existência de assassinatos de crianças de 4 a 15 anos, do sexo masculino, vítimas de muita perversidade. 

Quarenta e duas crianças depois e alguns anos de estudos e análises pelos profissionais diretamente envolvidos foram mais do que suficientes para fazer uma análise sobre o perfil social e econômico desses meninos: eles faziam parte de famílias com perfis sociais de baixa renda, e grande parte das vezes essas famílias careciam de direitos sociais e viviam sobre extrema vulnerabilidade.

O caso de hoje nos mostra uma situação perde-perde quando a gente olha pra nossa sociedade: perdem as crianças, as famílias, os profissionais e nós, que vivemos em um mundo que por vezes é tão cruel. 

10 de dezembro de 1991. Os jornais diziam que mais uma criança, a quarta vítima naquele ano, havia sido encontrada morta. As autoridades suspeitavam de um tarado estripador, porque mutilava suas vítimas, retirando suas genitálias. No ano seguinte, em maio de 1992, Bernardo Rodrigues Costa foi encontrado morto nas mesmas condições. O assassino havia copiado o modus operandi das outras crianças. Mas parecia que depois desse episódio, e da repercussão que ele causou, o autor dos crimes resolveu dar uma pausa. 

Mas não por muito tempo, é claro. Em 1994, dois anos depois, os crimes voltaram a acontecer. Algumas das crianças sequer eram encontradas. A sorte passava a ser quando os seus restos mortais eram achados. Assim, as famílias tinham pelo menos algo para se despedir. Enquanto isso acontecia, algumas pessoas eram denunciadas, presas, soltas e condenadas, absolvidas e assim por diante. Não havia certeza alguma do que estava acontecendo nem de quem estava por trás de tantos crimes. 

Os investigadores acabaram voltando atrás na hipótese de ser apenas um autor, e passaram a crer que cada crime havia uma pessoa diferente por trás de tudo. Isso fazia mais lógica, na mentalidade deles naquela época. 

Diante de tantas vítimas e nenhuma resposta que pudesse explicar o que estava acontecendo ou quem estava fazendo tudo isso, o Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente realizou duas denúncias contra o Estado Brasileiro diante da Comissão Interamericana de direitos humanos da OEA, e isso quer dizer, basicamente, que eles estavam dizendo que o Estado Brasileiro era ineficiente em proteger suas crianças. 

O jogo começa a mudar a partir do dia 10 de fevereiro de 2003. Uma criança de quatro anos de idade, Daniel Ferreira Ribeiro, filho de Domingos Ribeiro e Mônica Ribeiro, desaparece no bairro Jardim Tropical. O desaparecimento do menino guardava um mistério difícil de ser solucionado: por volta de uma hora da manhã, a criança dormia na mesma cama que o pai e o irmão, de dois anos de idade. Daniel foi sequestrado sem que seu pai ou irmão percebessem. 

A família, num misto de esperança e desespero, espalhou fotos do menino pela cidade, numa tentativa de que alguém reconhecesse o seu rosto e indicasse o seu paradeiro. A polícia, por outro lado, estava tentando fazer o seu trabalho, ao mesmo tempo que tentava traçar um perfil desse criminoso tão audacioso. 

Por conta da complexidade de toda essa história, o procurador de justiça convocou o Grupo Estadual de Combate às Organizações Criminosas para participar das investigações ao lado do um delegado de polícia, João Carlos Amorim Diniz. 

Foi aí que, a partir dos estudos sobre os crimes que envolviam as crianças, foi possível detectar um certo modus operandi mais acertado. Haviam coincidências nas lesões, nos laudos dos cadáveres, nos lugares onde eram achados, e por aí vai. Além disso, foi possível estabelecer três linhas de investigação. A primeira delas tinha como propósito estudar os terreiros de Umbanda de São Luis, bem como seus rituais e participantes, a fim de identificar uma possível prática de crime de oferenda de sacrifício. 

A segunda linha buscava investigar uma seita chamada LUS – Lineamento Universal Superior, que era comandada por uma mulher chamada Valentina de Andrade, a fim de estudar as mesmas coisas que foram pontuadas nos terreiros de Umbanda.

Por fim, a terceira via de investigação buscava estudar se havia alguma relação entre a seita LUS e os terreiros de Umbanda. Importante pontuar que, naquela época, sequer cogitava a presença de um serial killer na região, ainda que os crimes se parecessem muito em relação ao seu modus operandi. Mesmo sem nenhuma vítima tendo presenciado algum dos acontecimentos, os investigadores se mantinham atentos aos noticiários e a todos os veículos de informação oficiais. 

Eles iam atrás das famílias, das casas, tentavam investigar nos locais do crime, mas nada surtia efeito. 

No dia 6 de dezembro de 2003, mais uma notícia: o adolescente Jonathan Silva Vieira, de quinze anos, desapareceu. Os delegados de polícia entraram em ação e foram descobrir com pessoas próximas os últimos passos de Jonnathan antes de desaparecer. Foi Regiane Vieira, sua irmã, que alertou aos policiais que o menino havia saído com Francisco das Chagas para colher juçaras. Para quem não sabe, juçara é uma fruta que se parece muito com o açaí, encontrada na Maranhão. 

Bom, mas quem era Francisco das Chagas? 

Francisco das Chagas nasceu em 1965, e cresceu em uma família completamente disfuncional. Quando tinha 4 anos, foi abandonado pela mãe. Dois anos depois, foi a vez de seu pai sair de casa. Foi a sua avó que se ocupou da sua criação, que acontecia de forma muito rígida. Ele também não era nada fácil e fazia muita besteira. A sua avó fazia uma lista das malcriações e coisas erradas que ele fazia e, quando chegava a um determinado número, ele era obrigado a ir até o matagal escolher o pedaço de madeira ou de tronco que ele mesmo apanharia.

Ainda na infância, ele trabalhava vendendo bolos na vizinhança e foi abusado sexualmente de um tio. Não temos muitas informações sobre a sua infância, mas ao se tornar adulto, Francisco se casou e teve duas filhas. 

Já era por volta das quatro da tarde quando a polícia foi atrás de Francisco das Chagas em sua residência para questionar sobre o paradeiro do menino, mas não encontraram o rapaz. 

Quando soube que estava sendo procurado pelos investigadores, Francisco foi até a família de Jonnathan, negando toda a história de que saíram juntos. Na ocasião, também ameaçou processá-los por crime contra sua honra, já que estavam inventando mentiras. Toda essa situação foi parar nos ouvidos dos investigadores, que convocaram Francisco para esclarecer o que tinha falado. 

O rapaz afirmava e reforçava que não tinha nada a ver com aquela história, dando detalhes de como passou aquele dia e em nenhum momento mencionava o encontro com Jonnathan. Ele acabou voltando pra casa. 

A irmã do Jonathan, Regiane, insistia que os dois haviam saído juntos para colher frutas. Ela tinha certeza que aquilo havia acontecido e que Francisco estava mentindo para as autoridades. Por conta disso, no dia 10 de dezembro, foi executado um decreto de prisão temporária para Francisco, ficando detido na Delegacia da cidade. 

No seu depoimento, Chagas contou que havia morado em Altamira, no Pará, durante a maior parte da sua vida. Coincidentemente, ele estava na cidade de Altamira na época em que também ocorreram emasculações e mortes de crianças e adolescentes do sexo masculino, assim como na cidade de Santana, onde ele estava atualmente. Chagas também era namorado da Tia de Daniel Ribeiro, a criança que também estava desaparecida na cidade. 

Isso, obviamente, acabou despertando um interesse maior sobre a vida de Chagas, que passou a ser investigado com mais detalhes pelos policiais, principalmente no período em que estava vivendo em Altamira.

No dia 16 de janeiro de 2004, enquanto caçava nas matas do povoado de Santana, um homem encontrou os restos mortais, basicamente ossos, de uma pessoa e na mesma hora ligou para a polícia. Ao lado dos ossos, encontrou as roupas do que parecia ser um menino. Para a polícia, não houve dúvidas: era Jonnathan. Não precisaram nem fazer teste de DNA: as lesões ósseas por traumas na infância fizeram com que o corpo de Jonnathan fosse identificado. Naquele mesmo dia, Chagas foi denunciado por homicídio e ocultação de cadáver, mas continuava negando sua participação no crime. 

As pessoas dentro da polícia que estavam encarregadas de investigar a vida de Chagas descobriram sua presença nos locais, sua área de trabalho, os terrenos invadidos, os lugares onde morou e os locais das mortes. Foi realizada uma geografia criminal do caso, onde descobriram que Chagas estava associado a todos aqueles sumiços de crianças. Era mais ou menos assim: ou ele trabalhava, na época próximo ao local onde o corpo foi encontrado; ou a vítima pegava um ônibus na rua onde ele morava, coisas do tipo. 

Outro achado das investigações diz respeito a descoberta de que Chagas costumava ser visto tirando madeira dos matagais, na mesma localidade onde muitos dos corpos haviam sido encontrados.  A casa de Chagas também foi investigada. Alguns objetos foram apreendidos pelos policiais, como roupas, que inclusive tinham os mesmos cortes das roupas das crianças assassinadas. Dias depois, um adolescente de doze anos, Rodolfo de Lemos Pereira, vizinho e amigo de Chagas, prestou depoimento na Delegacia de Homicídios e contou sobre o mau cheiro que saía da casa de Chagas, como se tivesse algum animal morto ali dentro. Disse ainda que esse cheiro era tão forte que Chagas exalava o mesmo fedor. Rodolfo também reconheceu um estilingue, cujo dono era seu amigo, uma das vítimas daquela cidade. E se vocês acham que isso já diz muito sobre a autoria do crime, imaginem só o fato de dias mais tarde, os policiais encontrarem na casa de Chagas uma bolsa escrotal e uma traqueia. 

Inconformados com aquilo, os investigadores liberaram uma escavação no terreno e encontraram, mais ou menos a 70 cm de profundidade, alguns ossos humanos em sacos plásticos. Momentos depois, no fundo da casa, encontraram mais um saco cheio de ossos e roupas, que seriam de Daniel Ribeiro, o menino que havia desaparecido tempos atrás. As roupas de Chagas eram encontradas junto a vários desses ossos, mas Chagas insistia em sua defesa, negando tudo o que estava acontecendo. Falou até que o terreno onde sua casa foi construída poderia ter sido um cemitério antes.

A policia decidiu interroga-lo mais uma vez, mostrando suas roupas que foram encontradas junto aos ossos e trazendo Chagas para um lado emocional, esclarecendo as consequências caso ele se recusasse a confessar o crime, inclusive para suas filhas menores de idade, Aline e Thais.

Talvez por essa manobra emocional, completamente estratégica para as investigações, Francisco Chagas resolveu ceder e confessou tudo o que tinha feito. Narrou com tristeza a morte de todos os meninos, detalhando aos investigadores todo o passo a passo brutal dos seus crimes. 

A policia achou melhor que ele fosse até os lugares para ativar a memória e assim dar mais detalhes dos episódios. E assim ele fez, detalhando na ordem cronológica que fazia sentido para a sua memória. Chagas confessa também que só depois de mata-las arrancava as genitais e violentava os meninos com coito anal.

Chagas também foi questionado sobre os crimes de Altamira, mas primeiramente negou. Depois disse que não lembrava exatamente. Ao ser instaurado o inquérito policial (tanto pela polícia civil quanto pela polícia federal) em Altamira, Chagas foi levado até lá para que percorresse os lugares, da mesma forma que a polícia o fez no Maranhão. Ele acabou confessando também os crimes. 

Francisco Chagas emasculou a maioria das crianças e adolescentes, retirou suas mãos e dedos e violentou sexualmente após suas mortes. Ele dizia que fazia isso em obediência a uma aparição, que dizia exatamente como se daria cada morte. A aparição vestia roupa branca e ficava flutuando, sem tocar o chão. Essa visão era responsável por fazer as vítimas não resistirem ao poder de Chagas, e também fazia com que nenhuma delas reagisse. 

Ao todo, somam-se quarenta e dois homicídios e três lesões corporais caracterizadas por emasculação com sobrevivência, em meninos de 4 a 15 anos. E sim, queridos ouvintes, essa história que eu estou contando pra vocês, hoje, é sobre um caso de serial killer. Um serial killer se configura tanto por seu modus operandi quanto por outras características: pouco afeto para com os outros, não expressam comportamentos amorosos, não ficam nervosos nem emocionados com facilidade e não expressam reação de culpa. 

As circunstâncias desses desaparecimentos e mortes acabam por denunciar a situação de pobreza vivenciada por essas famílias. Comparativamente, entre os meninos, havia muitos casos onde o crime havia acontecido no momento em que estavam executando algum tipo de trabalho infantil para ajudar em casa, contribuindo com a renda familiar; ou quando estavam em situação de rua.  

Francisco passou por vários julgamentos até chegar a sua pena atual, de trezentos e oitenta e cinco anos. Atualmente ele tem 57 anos e se encontra na Unidade Prisional de São Luís, em regime fechado. 

O caso de hoje foi forte pra caramba, né? Como que Francisco Chagas conseguiu ficar tantos anos solto, enganando a polícia e saindo ileso de todos aqueles crimes? Te vejo na próxima semana com mais um caso! 

Roteiro: Hannah Ramos

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