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Nada é o que parece ser… ou melhor: todo fato tem uma verdade desconhecida. Mas quando essa verdade, anos depois, é questionada, o que você faz para se proteger? Quem você aciona para te inocentar? Quantos mecanismos para esconder uma verdade são necessários para incriminar alguém?

No Caso Reais de hoje, eu trago a história criminal de Serrambi.

INÍCIO DO CASO

Pernambuco, Recife. A história que eu vou contar pra vocês hoje tem como protagonistas duas mulheres, ou melhor, duas meninas: Maria Eduarda Dourado e Tarsila Gusmão. Essas meninas tinham por volta dos seus 16 anos e faziam parte de famílias de classe média alta. Maria Eduarda era conhecida por “Mana” e estudava em um colégio particular no Recife. A coordenadora da sua escola a definia como “bastante sensível, chorava com facilidade”. Ela gostava de frequentar o Shopping Center Recife, que foi justamente onde conheceu Tarsila.

Tarsila gostava de frequentar as matinês da boate Fashion Club, no bairro da Boa Viagem. Era uma menina super comunicativa e simpática, então foi muito natural o início dessa amizade. Ela fez balé clássico na infância e seus pais eram separados.

As duas moravam em casas com padrões de conforto e localização muito satisfatórios, viajavam bastante, compravam muitas coisas, iam pra festas e todas aquelas coisas que garotas com uma vida financeiramente privilegiada têm a possibilidade de fazer.

A relação com os pais era muito boa, tanto da parte da Maria Eduarda quanto da parte da Tarsila. Vocês podem estar pensando que, como elas eram adolescentes, talvez tivessem uma certa barreira emocional ou de convivência em relação a esses pais, mas é muito pelo contrário. Na verdade, os pais sempre sabiam onde elas estavam, com quem estavam, o que estavam fazendo e confiavam muito nelas, apesar delas terem apenas 16 anos. De fato, elas eram bem independentes para a idade delas, mas estava tudo bem, porque seus pais participavam das suas vidas.

As meninas eram super amigas há anos. Então elas sempre estavam juntas, faziam coisas juntas, planejavam coisas juntas. Até que na época, se eu não me engano era o feriado de primeiro de maio, dia do trabalhador, e esse feriado cairia no meio da semana e se estenderia por mais alguns dias, no maior estilo feriado prolongado.

Nesse feriado prolongado, especificamente em uma sexta-feira, haveria um show que as meninas estavam muito a fim de ir e elas se planejam pra ir ao show. Elas estavam super animadas, aproveitaram bastante… e lá nesse show elas acabaram encontrando com um menino chamado Thiago. O Thiago tinha mais ou menos a idade delas e também era de família classe média alta ali da região. É importante falar também que o rapaz, esse Thiago, era conhecido delas, mas não chegava a ser um super amigo, como elas duas eram uma da outra. Até que ele chega e diz alguma coisa do tipo: Olha, depois do show, eu vou fazer uma festa lá na minha casa de praia, em Serrambi… vai uma galera de carro pra lá, então se vocês quiserem ir, estão mais do que convidadas. Vai ser legal, vai ter bastante gente lá, então fiquem à vontade pra aparecer etc.

Bom, elas curtiram o convite, terminam de assistir ao show, avisaram para os seus pais que surgiu o convite pra essa festa e partem pra casa dos pais do Thiago na tal casa de praia.

Quando elas chegam lá, já tinham algumas pessoas e o lugar estava todo preparado pra festa de verdade. Então aparentemente era uma festa que já estava sendo programada pra acontecer.

Em determinado momento, uma pessoa se aproxima e oferece fazer um passeio de lancha. Na verdade, essa pessoa era um conhecido do Thiago e aparentemente trabalhava para os pais dele, e ele tinha acesso à lancha e ofereceu fazer esse passeio pra quem quisesse ir. Estava de dia, um tempo bom, o cara era super experiente e tinha toda a documentação necessária pra conduzir a lancha, então aparentemente estava tudo certo. Na verdade, pensando bem, um passeio de lancha no meio de uma festa pode não ser uma ideia muito boa, mas aqui a gente tá falando de adolescentes, então a gente precisa entender que nessa idade, tudo acaba sendo uma aventura, uma história pra contar…

A festa estava cheia mas obviamente nem todo mundo cabia na lancha, então umas 9 pessoas, no máximo, foram convidadas para entrar, dentre elas a Maria Eduarda e a Tarsila. Esse condutor combinou o seguinte: eles partiriam com a lancha até uma praia próxima, o que dava uns 10 minutos no máximo, e ele voltaria às 16h da tarde para buscá-los porque a maré encheria e depois disso não teria como eles cruzarem o mar de volta para a casa.

Todos desceram do barco e ficaram ali em um quiosque. As meninas disseram que iam caminhar e segundo alguns dados, elas chegaram a caminhar uns 5 km, mas elas estavam sozinhas.

Aconteceu que por volta de umas 16h20, uma pessoa que estava nessa praia acabou tirando uma foto em que elas apareciam e essa foto foi usada nas investigações tempo depois. Mas vamos lá, o que isso quer dizer: primeiro de tudo, quer dizer que por volta desse horário elas ainda estavam passeando, mas descumpriram o combinado de estarem prontas para voltar até as 16h da tarde. E a segunda coisa é que elas realmente estavam sozinhas nesse momento em que a foto foi tirada.

Quando elas se deram conta, já tinha passado do horário e elas perceberam que precisavam voltar logo. Como elas estavam distantes do lugar combinado, elas procuraram algum conhecido pela praia que desse alguma carona ou alguma ajuda para chegar até o ponto de encontro mais rápido. Elas acreditavam que eles estariam lá esperando por elas para voltarem todos juntos para a casa de praia dos pais do Thiago, onde estava acontecendo a festa.

Ah, é importante dizer também que nenhuma das duas estava com documento, com telefone, com nada. Elas estavam inclusive sem nenhuma bolsa. Quando elas chegaram naquele ponto da praia onde haviam sido deixadas pelo barco, não havia ninguém e, além disso, já estava anoitecendo.

As meninas decidem, então, ir andando na direção de Porto de Galinhas porque seria mais fácil encontrar alguma pessoa conhecida por lá e pedir ajuda. Num determinado momento, elas encontram um rapaz que havia sido namorado de uma delas. Elas pedem uma carona para Serrambi, mas ele disse que não poderia levá-las até lá. O que ele faz é emprestar um celular para que elas ligassem para alguém e pedissem ajuda.

As meninas decidem ligar para o Thiago e pedem a ele que volte com o barco para buscá-las ou que consiga alguma carona até Serrambi, mas o rapaz também diz que não consegue fazer muita coisa.

E é ai que elas tomam uma decisão super arriscada, mas eu entendo que elas tenham feito isso por dois motivos: primeiro, por ingenuidade e, segundo, por desespero.

Como a noite caiu e as meninas ainda estavam tentando achar uma forma de voltar, elas simplesmente resolvem ir para a beira da estrada e começam a pedir carona para todos os carros que apareciam.

Depois de um tempo por ali, aparece uma pessoa conhecida das duas, que aceita dar carona até o centro da cidade, mas não conseguiria levar até Serrambi. Elas, então, desceriam no centro, que era um lugar iluminado, que teria mais movimento de pessoas, telefones públicos, comércio aberto e lá poderiam encontrar uma forma de ligar para os pais e pedir ajuda.

Elas descem do carro e ficam no centro de porto de galinhas, onde realmente tinha mais movimento, iluminação, mais sensação de segurança. Assim que elas chegaram, elas foram até a padaria comprar cigarros e água… Não sei exatamente se ela pegaram algum dinheiro emprestado com esse conhecido que deu a carona ou se elas já estavam com esse dinheiro, mas o fato é que essa foi a última vez que se teve notícia de Maria Eduarda e Tarsila.

No dia seguinte, mais precisamente no dia 5 de maio, os pais estavam aguardando as meninas chegarem da festa, mas elas não voltam mais pra casa. Eles decidem então ligar para o Thiago para saber notícias.

Thiago conta tudo o que aconteceu e diz que não teve mais notícias delas também. Os pais ficam extremamente preocupados e resolvem perguntar para as pessoas que eles conheciam, próximas a região de Porto de Galinhas, se alguém tinha visto alguma coisa ou soubessem de qualquer notícia que ajudasse a encontrá-las.

Eles fazem uma queixa de desaparecimento das meninas e assim que deram entrada na polícia já começaram meio que uma investigação.

Mas aconteceu uma coisa estranha. Parecia que a polícia não estava muito empenhada em investigar de verdade o que estava acontecendo. Ao invés deles refazerem o caminho supostamente percorrido pelas meninas, irem até à praia, conversarem com pessoas que estiveram próximas à região, parecia que a policia estava tomando rumos completamente opostos de investigação. Os pais das meninas tentavam ajudar da forma que conseguiam, sugeriam coisas, tentavam encontrar pistas, mas até isso não estava sendo tão levado em consideração pela polícia.

Diante disso, o pai de Tarsila resolve começar uma busca por conta própria, afinal de contas, a filha dele estava desaparecida e parecia que as autoridades não estavam fazendo o suficiente para descobrir alguma coisa. 

Alguns dias depois, cansado de esperar alguma informação da polícia, o pai de Tarsila resolve chamar um amigo com uma moto e os dois partiram juntos para tentar encontrar alguma pista. Num determinado momento eles chegam próximo a um canavial e se dividem, um pra cada lado, pra tentar encontrar alguma coisa.

Nesse momento, o amigo para abruptamente a moto, e o pai da Tarsila percebe que alguma coisa estava acontecendo; que alguma coisa foi encontrada. E pra tristeza dos dois, o amigo estava parado na frente de dois corpos, os corpos de Maria Eduarda e Tarsila.  Era dia 13 de maio, 8 dias depois do desaparecimento das meninas.

As meninas estavam em um estágio avançado de decomposição. Elas foram encontradas sem unhas, sem cabelos, sem cheiro… o pai consegue reconhecer Tarsila por conta de uma pulseira que ela estava usando, pulseira essa que ele havia dado de presente a ela.

No mesmo momento, o pai chama a polícia, até porque ele não poderia encostar nos corpos e mexer em qualquer evidência que poderia ser encontrada ali. Mas no mesmo momento em que ele liga para a polícia, a noticia corre pela cidade e, de repente, começaram a surgir pessoas na cena do crime, como se fosse um verdadeiro espetáculo à céu aberto.

Isso é muito ruim porque as pessoas começaram a poluir a cena do crime e apagar qualquer vestígio de provas que poderiam ter sido encontradas.

Os corpos foram retirados de lá e levados pelo IML. Na opinião dos médicos legistas era tudo muito estranho, porque os corpos pareciam já estar em decomposição, mesmo num curto período de tempo. O fato de não conseguirem perceber nenhum cheiro característico também era um indício muito forte de que alguma coisa estava errada com os corpos das meninas. Pra vocês terem uma ideia, alguns ossos estavam faltando! Ossos!

Eles imaginaram, então, que quem cometeu o crime provavelmente usou alguma substância química para evitar que o cheiro da decomposição se dissipasse e, de alguma forma, acelerar esse processo sem deixar muitas marcas, inclusive de terceiros (seja sêmen, sangue, marcas digitais…). Uma das meninas havia sido inclusive atingida por duas balas.

A investigação acaba tomando novos rumos porque, a partir de agora, já se sabe que foi um assassinato. Mas quem era o assassino?

Foi aí que apareceu, então, uma testemunha e disse que havia visto as meninas no dia do crime e que elas entraram em uma kombi branca. A kombi branca existia e realmente foi vista e, inclusive, essa kombi era conhecida por ser de dois irmãos: Valfrido e Marcelo Lima.

Acontece que essas kombis eram utilizadas para transporte público e, nesse dia, os irmãos tinham emprestado a kombi para uma terceira pessoa usar. Mesmo assim, foi realizada uma perícia no automóvel, mas as coisas que foram encontradas (como por exemplo: fio de cabelo, papel de bombom, lâmina de barbear etc) poderiam ser de qualquer pessoa, concordam? Ainda mais sendo um lugar que recebe várias pessoas por dias.

Mesmo assim, os irmãos foram presos, mas o promotor de Ipojuca, Miguel Sales, achou insuficientes as provas contra os dois e decidiu não oferecer denúncia contra eles, que foram liberados após 60 dias. As famílias das vítimas dividiram-se em relação ao trabalho da Polícia Civil. Enquanto José Vieira, pai de Tarsila, acreditava que os kombeiros eram culpados, a família Dourado não tinha a mesma convicção.

Como não havia provas suficientes e as investigações necessitavam de uma continuidade, o Ministério Público solicitou novas investigações para poder oferecer denúncia contra Marcelo e Valfrido Lira. Dentre essa solicitação, havia o pedido de exumação dos corpos das meninas e também a abertura de um inquérito paralelo para investigar a tal festa que houve na casa de Serrambi.

Nesse meio tempo, depois da exumação dos corpos das meninas, um exame de DNA trouxe à tona uma informação que deixou muitas pessoas intrigadas. O resultado dizia que o comerciante José Vieira e sua ex-esposa, Alza Gusmão, não seriam os pais biológicos de Tarsila. Por conta disso, José e Alza tiveram a sua casa vistoriada pela Polícia Civil e chegaram a ser detidos por posse ilegal de armas. As armas eram de caça e haviam sido deixadas como herança pelo pai de José.

Em relação ao exame de DNA, imagina só um pai pegando um resultado daqueles? Foi um choque e uma dor muito grande, mas José estava convencido de que aquilo não poderia ser verdade. Então ele pagou do próprio bolso um segundo exame de DNA e provou que Tarsila era mesmo filha biológica deles. Eles entraram na justiça contra as autoridades que promoveram o exame, exigindo danos morais.

Mesmo com todas as discordâncias em relação às suspeitas de Marcelo e Valfrido serem os autores do crime, a polícia civil continuava afirmando que a culpa do assassinato era dos kombeiros, mas o Ministério Público não oferecia nenhuma denúncia. Por conta disso, em 2004, a Policia Federal entrou na investigação.

As investigações da Polícia Federal correram sob sigilo de Justiça e foram comandadas pelo delegado Cláudio Joventino, originário da Polícia Federal do Ceará. Na época, nada do que foi apurado foi divulgado publicamente.

No dia 13 de junho de 2005, Marcelo e Valfrido Lira foram chamados mais uma vez para prestar novo depoimento ao delegado Cláudio Joventino. Depois do depoimento, o defensor público José Francisco Nunes, que acompanhava os irmãos, anunciou que a Polícia Federal iria indiciar os kombeiros, assim como já havia feito a Polícia Civil. O indiciamento foi confirmado três dias depois em entrevista coletiva à imprensa.

A população se dividia: de um lado, acreditavam na versão da polícia, incriminando os irmãos; do outro, uma parcela acreditava que Thiago, o dono da festa e conhecido das vítimas estaria envolvido com o assassinato.

Tempos depois, um verdadeiro plot twist: veio à tona o assassinato de Iraquitânia Maria da Silva, em 14 de maio de 2000, alguns anos antes do crime sofrido por Maria Eduarda e Tarsila. Iraquitânia, menina pobre de apenas 21 anos de idade, foi encontrada morta no mesmo canavial que as meninas. Mas o que conectaria esse crime de 2000 com o crime cometido contra as meninas? Simples. O principal acusado foi o marido de Iraquitânia, Roberto Lira, um dos kombeiros.

A semelhança como os crimes aconteceram acabou chamando atenção dos investigadores. A descoberta desse outro crime acabou pesando contra a inocência dos kombeiros, fazendo com que todos acreditassem que eles seriam realmente os autores do crime.

Em 2008 eles foram presos de fato, e acabaram sendo julgados em setembro de 2010. Eles foram à júri popular e inocentados.

Uma coisa que fica aqui pra gente é o seguinte: pelo fato do Thiago fazer parte de uma família super importante na região, parecia que ele estava sendo poupado ou protegido de alguma forma nessa investigação. O Thiago não teve seu carro periciado, também a sua lancha não foi periciada, ninguém investigou as pessoas que estavam com ele, o que elas faziam, nada disso. Isso é muito suspeito, na minha visão.

Uma outra coisa que veio à tona depois das investigações: uma vizinha de Thiago teria ligado para a polícia, na noite do dia 4, noite do crime, dizendo que ouviu duas meninas gritarem e ouviu dois disparos. O que a gente imagina depois disso? Que as meninas conseguiram voltar para Serrambi e por algum motivo foram assassinadas lá e levadas para o canavial, onde foram encontradas. E essa mulher que denunciou nunca foi ouvida e ninguém sabe o porquê. Como vocês podem perceber, existem muitas pontas soltas nessa história e muitas teorias envolvidas sobre o que de fato aconteceu com as meninas.

FIM DO CASO

Quando a gente pensa que a história não pode piorar, ela piora! Quantas reviravoltas! E cada vez mais que a gente pesquisa, a gente encontra alguma informação cabulosa sobre qualquer um dos envolvidos. Definitivamente, é um caso muito difícil de entender e por isso eu acredito que esse seja o motivo de haver tantas teorias!

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