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Em agosto de 2001, seis corpos foram encontrados em uma barraca da Praia do Futuro, uma das mais conhecidas de Fortaleza. O que se descobriu sobre quem eram essas pessoas, e porque foram mortas, chocou o Brasil e o mundo.

Luiz Miguel Militão Guerreiro era um português que escolheu Fortaleza, a capital do Ceará, como seu endereço para fugir da depressão que o atingia após um divórcio complicado. Ele e a esposa trabalhavam juntos na empresa do sogro, que morreu no final dos anos noventa, deixando os dois com dívidas financeiras imensas. 

Ele tinha cerca de trinta anos quando veio ao Brasil em busca de uma oportunidade de melhorar a vida, já que, em Portugal, isso parecia cada vez menos possível. Estava desestimulado, afundado em dívidas, se sentindo humilhado pela possibilidade de ter que voltar para a casa dos pais. 

A escolha pelo nosso país não foi aleatória: Luiz Miguel sempre ouviu falar sobre as belezas do Brasil e, em particular, das mulheres brasileiras. Como se dizia naquela época, o cara veio atrás de rabo de saia enquanto tentava superar o momento difícil de sua vida pessoal e profissional.

Isso era o primeiro semestre de dois mil e um, na virada do século. Ele passou o ano novo com um amigo, chamado Tavares, que também trabalhava na empresa do falecido sogro e o acompanhou em todas as etapas da decadência financeira da família. Foi esse Tavares, também, que, segundo o próprio Luiz Miguel, o levou para a vida de álcool, drogas e garotas de programa.

Foi Tavares quem emprestou a ele uma quantia estimada de dois mil e quinhentos euros, na época, para que ele pudesse ajeitar sua vida financeira, mas ele veio fazer isso no Brasil para não precisar devolver o empréstimo ao amigo.

Ali, naquela virada do ano, aos trinta e um anos de idade, Luiz Miguel decidiu mudar drasticamente o rumo da sua vida. Deixou a ex-mulher em Portugal, vendeu tudo, incluindo seu carro e veio para São Paulo, em fevereiro de dois mil e um. Logo rumou para o Ceará, onde alugou uma barraca na Praia do Futuro, uma das mais famosas de Fortaleza. Era ali, na Vela Latina, a barraca que ele locou, que pretendia recomeçar sua vida.

Poucos meses depois, ele não só abriu mão dessa chance para sempre como, também, interrompeu de forma trágica o destino de seis compatriotas. O que Luiz Miguel REALMENTE fez no Brasil, na barraca de praia alugada, ficou mundialmente conhecido como a CHACINA DOS PORTUGUESES.

Existe uma espécie de norma em Portugal que proíbe aos pais inventar, digamos assim, o nome dos filhos. É como se eles pudessem escolher de uma listinha de nomes pré-estabelecida. Estou falando isso mais como um disclamer, porque os nomes das vítimas desse caso são muito parecidos e acabam por ser muito comuns. Por isso, não foi tão fácil, durante a pesquisa, encontrar dados específicos sobre eles ou suas famílias, meio porque o crime completou vinte e um anos agora, em dois mil e vinte e dois, e meio porque muita gente no mundo tem o MESMO nome.

São eles: Joaquim da Silva Mendes, Vitor Manuel Martins, Manuel Joaquim Barros, Joaquim Fernandes Martins, Joaquim Manuel Pestana da Costa e Antonio Correia Rodrigues.

Todos eram empresários em Portugal e trabalhavam com construção civil. Eles vieram ao Brasil para uma viagem de férias de dez dias. O grupo estava animado e tinha combinado com os familiares que ligariam assim que chegassem ao destino final, Fortaleza, já que fariam uma escala em Recife, capital de Pernambuco. 

Ao chegar ao aeroporto, em doze de agosto de dois mil e um, eles foram abordados por uma agência de turismo. Algumas fontes dizem que essa negociação foi feita com pessoas que ficam ali no saguão oferecendo pacotes e passeios, outras afirmam que a recepção foi feita por um funcionário de agência contratada previamente pelo grupo.

Fato é que eles agradeceram a prestação de serviços, tipo, não, obrigado, vamos com esse cara aqui. O cara em questão era Luiz Miguel, que se aproximou dos homens falando com sotaque português e prometendo uma festa particular em sua barraca na Praia do Futuro, com muita bebida e mulher bonita.

Os seis portugueses, que tinham idade entre quarenta e dois e cinquenta e sete anos, toparam na hora. Eles tinham reserva em um hotel na Praia de Iracema, com hospedagem contratada uma semana antes do embarque para o Brasil, mas não chegaram a fazer o check-in. 

Esse foi o primeiro sinal de que tinha algo de errado.

Como era uma viagem entre amigos e nenhum deles ligou para a família em Portugal, os familiares entraram em contato com a companhia aérea, a Varig, para saber se estava tudo certo, se eles tinham chegado bem, e a Varig confirmou que, sim, todos eles desembarcaram em Fortaleza.

Esse foi o segundo sinal de treta.

Mas era uma viagem de férias, no início dos anos dois mil, sem redes sociais, sem internet banda larga distribuída pela cidade… podia ser que eles não estavam conseguindo se comunicar? Podia. Era esquisito, principalmente porque eles não foram ao hotel, e o desespero já tomava conta dos parentes em Portugal, mas eles esperaram pelo dia da volta. Quem sabe estariam no avião e de repente relatariam um assalto, com perda de telefones e documentos? Vai que, né?

Mas não. Eles não estavam no voo de volta. E foi aí, em vinte e dois de agosto de dois mil e um, que o caldo entornou de vez.

Fortaleza é uma cidade ENORME. Se um turista é assaltado e perde telefone e documentos, pode ficar perdido real oficial, e é importante que as pessoas saibam quem é, vejam seu rosto, para ajudá-lo a se localizar. Algumas fontes dessa pesquisa mostram que a família que MAIS ligou querendo saber notícias foi a de Joaquim Manoel Pestana e que a insistência acabou fazendo com que a polícia finalmente colocasse seus nomes na lista de DESAPARECIDOS e suas fotos espalhadas em cartazes pela cidade.

E, mesmo assim, NADA. Nem sinal dos portugueses, de suas malas, nada. Era como se eles tivessem descido no aeroporto de Fortaleza e evaporado. 

Do momento em que os portugueses foram dados como desaparecidos até o final do mistério, foram doze dias de completo sumiço. 

As polícias civis do estado do Ceará, do Maranhão e de Piauí foram envolvidas no caso onde, em dado momento, entrou até a Polícia Federal. As câmeras de segurança do aeroporto já tinham sido vistoriadas e mostravam um grupo encontrando um único homem, mesmo que NINGUÉM soubesse que homem era aquele.

Até que, ao colher depoimento dos guias turísticos que estavam no aeroporto, ofertando os passeios, um deles disse que os estrangeiros foram abordados por Luiz Miguel, também português, e que ele tinha dito que os levaria a uma festa, que o grupo topou sem ressalvas.

Só que ninguém tinha visto nem o Luiz Miguel e nem os portugueses FORA das câmeras de segurança do aeroporto, e quanto mais a investigação seguia, mais esquisita a coisa toda ficava. No dia seguinte ao registro do desaparecimento, por exemplo, já tinham algumas movimentações financeiras no cartão do Antonio Correia Rodrigues. Ou, melhor, em um dos cartões da empresa dele. Também tinham alguns saques em cartões de outros membros do grupo, cujo valor total era de VINTE E CINCO MIL REAIS. 

Quer dizer, esse povo todo estava sumido, mas gastando essa grana COMO?! Se, hoje em dia, esse valor já é muito pra gastar em um dia de praia, imagina há vinte anos atrás… 

Quando essa pista foi revelada, logo a força policial percebeu que, muito possivelmente, eles estavam lidando com um caso de SEQUESTRO. A hipótese inicial era a seguinte: os sete portugueses foram abordados enquanto saíam do aeroporto e sequestrados por bandidos que não sabiam que um deles já era residente e conhecia a cidade…

OU…

Os seis portugueses foram sequestrados e Luiz Miguel, o homem das câmeras, o sujeito que convidou geral pra festa, estava envolvido no crime. 

Militão, que já era considerado suspeito e teve sua foto divulgada pela mídia, foi reconhecido por EM Barra do Corda, no Maranhão. Ele viajou alegando que sua sogra estava mal de depressão. A polícia foi até lá para interrogá-lo sobre outro crime, a falsificação de uma assinatura no cartão de crédito de uma das vítimas, já que não tinha como prendê-lo pelo desaparecimento de ninguém.

A essa altura, ninguém sabia ainda qual desfecho a história teria, e as autoridades ainda buscavam pistas que levassem a um cativeiro, pois tudo dava a entender que era um sequestro mesmo.

Só que, com a história já na mídia, um homem foi até a polícia e disse estar envolvido no desaparecimento dos portugueses. Seu nome era Leonardo Santos e ele deu a pior notícia possível: todos estavam mortos.

Leonardo disse, em depoimento, que foi chamado a participar do esquema trinta dias antes. O plano era atrair o grupo ao Brasil com um convite de férias, coisa que Luiz Miguel se empenhou a fazer. Ele levaria os portugueses à festa na barraca e seus comparsas iriam atacá-los quando estivessem vulneráveis. Com os seis reféns, poderia pedir resgate e bonificar seus comparsas com o dinheiro que receberia.

Luiz Miguel Militão tinha tanta certeza que esse plano daria certo que chegou a falar com a proprietária da barraca Vela Latina, dona Adelina Barroso, que iria receber um dinheiro, em pouco tempo, e compraria a propriedade dela. Isso, claro, nunca aconteceu – e, pra piorar, o lugar ficou tão conhecido pela tragédia que ela não conseguiu mais locar a barraca, e mora nos fundos dela até os dias de hoje.

Voltando ao caso, segundo o pedreiro Leonardo, um dos comparsas de Luiz Miguel, disse que o português que já morava no Brasil recepcionou os amigos e, quando todos estavam dentro da van, indo para a praia, ligou para uma cafetina. Supostamente, contratando garotas de programa. 

Eles chegaram à barraca Vela Latina onde mais três homens já estavam. Juntos, todos beberam e conversaram por duas horas, quando, impacientes  com a demora das garotas de programa, os empresários começaram a se levantar para sair. Foi quando foram atacados pelos anfitriões quando Luiz Miguel deu a palavra de ordem: é agora ou nunca.

Manoel Lourenço, então cunhado de Luiz Miguel, Leonardo Santos, José Jurandir Pereira Ferreira e Raimundo Martins eram os homens que estavam envolvidos diretamente no crime e começaram, naquele momento, a sessão de pancadas.

Os turistas foram amarrados, tiveram os bolsos esvaziados e foram ameaçados por Militão a dar a senha dos cartões de crédito, que seriam utilizados um dia depois do desaparecimento. O português anfitrião foi ao banco, para testar as senhas, e ligou para Leonardo, que tinha ficado na barraca e era o responsável por prosseguir com o plano.

Cada um dos turistas foi levado a um cômodo separado, sempre com a desculpa de que Luiz Miguel Militão iria começar a negociar um resgate com cada família. Só que o que acontecia ali passava longe disso. 

Os reféns eram espancados e, quando desmaiavam, eram jogados em um buraco cavado no chão do cômodo no dia anterior, por um pedreiro que cobrou dez reais pelo serviço. Só que o grupo era grande, tinha seis pessoas. Quando as três primeiras foram ao cômodo ao lado e não voltaram, as três últimas começaram a resistir a ida até lá. As três últimas vítimas foram assassinadas por tiros e pauladas.

Quando todas já estavam na vala, com as malas, o chão foi cimentado e o piso, pintado, para que parecesse um cômodo bem normal. Luiz Miguel e os comparsas trocaram o dinheiro em espécie dos portugueses, que deu cerca de dez mil reais, e foram à praia, beber e aproveitar o dia. 

Leonardo deu o depoimento e, aí, a casa começou a cair pra todo mundo. Militão e sua esposa Maria tinham sido presos, embora ele não tenha admitido parte no crime. Luiz Miguel disse, na verdade, que estava com os amigos de Portugal, e que todos tinham sofrido um assalto.

Depois, a polícia prendeu José Jurandir Pereira, que trabalhava como segurança, e também chegou, apenas um dia depois da confissão de Leonardo, a Manoel, que era cunhado e sócio de Militão, e a Raimundo Martins, também segurança. 

Isso tudo foi possível porque, depois de ouvir da polícia sobre onde os corpos estavam, Militão confessou ser o cabeça do crime e entregou TODOS os comparsas.

Em vinte e quatro de agosto de dois mil e um, o local indicado por Leonardo, e confirmado por Militão, foi escavado. Para surpresa geral, seis corpos e seis malas estavam enterrados ali, em um espaço muito pequeno, dentro do chão da barraca. A autópsia confirmou que alguns dos turistas foram enterrados VIVOS, já que tinham areia em suas vias respiratórias.

O crime chocou o Brasil e o mundo e, em menos de um ano, TODOS os suspeitos tinham sido condenados a mais de cem anos de prisão, cada um, somadas as penas pela vida de cada uma das vítimas. Os portugueses foram sepultados em sua terra natal no dia trinta e um de agosto de dois mil e um e, com a conclusão dos inquéritos, mais uma triste constatação: depois de desembarcarem em Fortaleza para um período de férias de dez dias, o grupo dos seis amigos só ficou vivo por DUAS HORAS.

Eles atravessaram o oceano para morrer aqui, pelas mãos de um homem que também tinha vindo da Europa, em busca de melhores oportunidades de vida.

Falando um pouco mais sobre Luiz Miguel Militão, a figura por trás do planejamento de tudo isso, é meio contraditório. Ele disse que pensou por um mês em fazer os portugueses de refém e pedir um milhão de reais em resgate, mas que repensou depois que, abre aspas, percebeu que as famílias não teriam condições de pagar, já que ele tinha tirado TUDO das contas dos homens, fecha aspas.

Ele também disse, por várias vezes, que não conhecia as vítimas e, depois, que era um MONSTRO, justamente por ter atraído para a morte pessoas honestas, segundo ele, e pais de família. Antonio, um dos primeiros a serem jogados na vala, tinha emprestado dinheiro para que Militão viesse se refazer no Brasil.

Mas seu histórico não era muito bom para essas coisas, não. Ele cometeu um furto no ano de mil novecentos e noventa e seis e ficou preso em Portugal por um ano. Isso fez com que ele tivesse que abandonar a Marinha Portuguesa e ter uma vida financeira muito difícil a partir daí. Antonio lhe emprestou cerca de quinze mil reais, mas nem um centavo desse dinheiro foi utilizado em uma tentativa de se reerguer.

Como o próprio Luiz conta no livro de memórias que escreveu na prisão, quando não estava tentando FUGIR dela, tudo foi gasto com mulheres e bebidas. Além do livro, Luiz também trabalhou em outras frentes na penitenciária e, mesmo tendo uma pena de cento e cinquenta anos de prisão, pode sair para o regime semi-aberto em dois mil e vinte e quatro.

O português se formou no período em que esteve na prisão, fez especialização e quase terminou uma segunda graduação, em letras. Luiz Miguel, conhecido por ser o Monstro de Fortaleza, luta na justiça para garantir seu acesso à lei do esquecimento, que consiste, basicamente, em um criminoso não ser ligado nominalmente ao crime em matérias jornalísticas de acompanhamento do caso.

Sabe quem também pediu esse direito ao esquecimento? Paula Thomaz. Nenhum dos dois conseguiu. Até hoje, Luiz Miguel Militão é citado ao lado da expressão chacina de Fortaleza nas matérias sobre o assunto e é possível que ele não receba esse direito NUNCA.

Uma última curiosidade sobre ele é que Luiz Miguel chegou ao Brasil com visto de TURISTA e teve o visto permanente negado algumas vezes, inclusive quando se casou com Maria. Hoje, ele cumpre prisão aqui, não quer mais voltar para Portugal. Para quem tinha um visto de apenas noventa dias, ele está aqui por tempo até demais.

Roteiro: Lais Menini

Fontes:

https://www.dn.pt/internacional/vinte-anos-depois-da-chacina-militao-so-quer-ser-esquecido-14024778.html

https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2021/08/12/ha-20-anos-chacina-dos-portugueses-em-fortaleza-chocou-o-brasil-e-europa.ghtml

https://www.omeubebe.com/nomes-bebes/regras-para-a-composicao-dos-nomes/regras-nomes-portugal

https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/seguranca/chacina-dos-portugueses-crime-em-fortaleza-que-chocou-o-mundo-completa-20-anos-relembre-1.3121655

https://veja.abril.com.br/politica/ceara-alta-de-80-nos-homicidios-em-uma-decada/

https://www.dn.pt/internacional/vinte-anos-depois-da-chacina-militao-so-quer-ser-esquecido-14024778.html

https://www.cmjornal.pt/maissobre/luis-miguel-militão

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