A polícia recebe um pedido de ajuda para atendimento a um indivíduo inconsciente, mas, quando chegam no local informado, o que as autoridades encontraram passa muuuuuito longe de ser apenas isso.
O caso de hoje é bem recente. Aconteceu dia 13 de novembro de 2022, em Idaho, nos Estados Unidos, em uma cidade bem pequenininha chamada Moscow, com apenas vinte e cinco mil habitantes. Segundo os registros policiais locais, a última vez em que ocorreu um assassinato na cidade foi em dois mil e quinze.
Sete anos depois, infelizmente, esse dado mudaria.



Mas, antes de irmos para a história, vale lembrar que, justamente por ser muito recente, nossa pesquisa se baseia principalmente nas notícias publicadas sobre o caso, incluindo aquilo que os policiais contaram à imprensa, já que muita coisa pode estar sendo guardada em segredo, digamos assim, para que as investigações não sejam comprometidas.
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Quem saiu da própria cidade para estudar fora e foi morar em alguma república sabe bem como essa experiência pode ser divertida e enriquecedora. Afinal, a universidade vem geralmente no início da vida adulta e as repúblicas de estudantes acabam sendo lugares de muita descoberta, amizade e companheirismo para quem está longe de casa e da família.
Nos Estados Unidos existe a cultura das irmandades, que são casas em que moram estudantes selecionados para morar nelas depois de uma bateria de testes e entrevistas. Diferente do Brasil, nos Estados Unidos rola até uma certa fama, dependendo da irmandade da qual você faz parte. A maioria tem letras gregas no nome e os estudantes passam a vida inteira orgulhosos de terem feito parte de suas respectivas casas.
Xana Kernodle, Madison Mogen e Kaylee Gonçalves, de vinte e vinte e um anos, respectivamente, eram alunas da Universidade de Idaho e integrantes de irmandades que ficam na cidadezinha de Moscow, como disse anteriormente. Xana e Madson foram para a universidade estudar marketing e Kaylee se especializava em estudos gerais. Enquanto Xana e Madison faziam parte da Pi Beta Phi, Kaylee era integrante da Alfa Phi.
Além delas, outro protagonista nesta triste história é Ethan Chapin, de vinte e um anos, calouro no curso de gerenciamento de recreação, esportes e turismo da Universidade de Idaho, e morava em uma fraternidade chamada Sigma Chi, que também fica em Moscow. Ele e Xana eram namorados.
As meninas moravam todas juntas numa casa de três andares e seis quartos com sistema de segurança por senha, tipo alarme residencial. Aparentemente, os quatro eram bem próximos. No dia do crime, Kaylee postou fotos com a galera dizendo que, abre aspas, era abençoada por ter essas pessoas na vida, fecha aspas.
Na noite de doze de novembro, um sábado, o casal foi a uma festa no campus da universidade, enquanto Madison e Kaylee foram a um bar local. Elas foram captadas em uma câmera de segurança em um food Truck momentos antes da morte. Todos eles foram para a casa da irmandade, inclusive Ethan, por volta de uma e quarenta e cinco da manhã.
Por volta de meio-dia de domingo a polícia recebeu uma ligação pelo nove, um, um. Era um pedido de atendimento para um, abre aspas, indivíduo inconsciente, fecha aspas, de acordo com a pessoa que ligou. Não foi informado pelas autoridades quem fez a ligação.
Como Moscow é uma cidade universitária, praticamente, os policiais que foram à cena podem ter pensado que precisariam socorrer algum estudante em coma alcóolico ou algo a respeito de acidente doméstico. Contudo, o que eles viram passou longe de ser qualquer uma dessas hipóteses. Era muito, muito pior.
Em vez de um possível desmaio, o que reportaram foi uma sangrenta cena de crime. Xana, Ethan, Madison e Kaylee foram esfaqueados até a morte. Cenas muito fortes divulgadas pela imprensa mostram sangue escorrendo pelas frestas da residência, o que evidencia a violência dessa tragédia.
Essa não é a primeira vez que estudantes americanos são assassinados dentro ou nas proximidades de um campus universitário. Infelizmente, o histórico de violência escolar no país é extenso. Contudo, a polícia não tratou o caso como um homicídio aleatório ou resultante de crime de ódio, não porque não existem evidências suficientes para sustentar essas possibilidades, mas porque não existem evidências suficientes para NADA.
Gravamos esse episódio na primeira quinzena de dezembro de dois mil e vinte e dois e, até então, a arma do crime não foi encontrada. A polícia não divulgou se tem suspeitos e quem são eles. No início de dezembro foi noticiado que as autoridades seguem a pista de um Hyundai Eletra branco que foi captado por câmeras de segurança próximo ao local na manhã do dia do crime. Oficialmente, essa é a única pista divulgada ao público.
Até então, não existe um ou mais suspeitos, não sabemos o motivo dessa atrocidade, mas temos quatro jovens brutalmente assassinados e inúmeras teorias sobre o que pode ter acontecido na noite do crime. Como a cidade é bem pequena, e quanto menor a cidade, mais rápido as notícias correm, inúmeros boatos surgiram nos últimos dias – tanto que a polícia já realizou cento e cinquenta entrevistas com potenciais testemunhas ou pessoas de interesse seguindo cerca de mil dicas e pistas fornecidas anonimamente pela população.
Pra começar, já é beeeeem esquisito que a polícia tenha ido a um endereço específico com o objetivo de atender a um jovem inconsciente e se deparar com uma cena de crime chocante. Afinal, quem é que vai ligar para o nove, um, um e dizer algo tipo
“Polícia, vem aqui na casa da rua X, tem um homem inconsciente aqui”
sem que essa pessoa tenha visto, de fato, uma pessoa inconsciente? E se viu, como não viu o sangue? E como não viu que eram QUATRO pessoas inconscientes? Já começa por aí.
Quando a equipe policial chegou à casa, a porta principal estava aberta, aquela porta que é protegida por senha e tudo o mais, e não tinha nenhum sinal de arrombamento, entrada forçada, nada.
A médica legista que foi à cena do crime, Cathy Mabbutt, atestou a morte por esfaqueamento dos quatro ainda no local. A identidade das vítimas só foi divulgada na segunda-feira, quatorze de novembro.
Segundo a equipe policial apurou, Ethan e Xana estavam em um quarto e Kylee e Madison em outro. Não sei dizer, pelas pesquisas, se esses quartos em que eles estavam era no térreo, mas é possível que sim, pois uma das fotos mais traumáticas registradas pela polícia é de sangue escorrendo pela fresta de uma das portas do primeiro andar.
No mesmo dia a polícia emitiu um comunicado dizendo que, com base no que foi averiguado, não se tratava de um risco para a comunidade, como em uma ocorrência de serial killer, por exemplo. O crime foi considerado um ato direcionado, embora ainda não se soubesse se direcionado às pessoas ou à casa, como uma tentativa de roubo que termina em latrocínio, por exemplo.
Embora os dias seguintes ao crime tenham sido de tensão da comunidade, com a polícia tentando, através de novos comunicados, afirmar que as coisas estavam sob controle, a população entrou em estado de alerta máximo. Afinal, não existem suspeitos; se não existem suspeitos, todo mundo é suspeito. E, se todo mundo é suspeito, pode ser um crime direcionado ou aleatório.
Porém, na quarta-feira, o chefe de polícia de Moscow, James Fry, deu uma coletiva dizendo que, abre aspas, não se pode afirmar que não há risco para a comunidade, e todos devem estar vigilantes, fecha aspas.
Ou seja, a polícia se ligou que não ter suspeitos não garantia que isso não aconteceria novamente… isso acabou gerando um pânico que fez com que muitos estudantes abandonassem as aulas e voltassem para as próprias casas, com medo de que a pequena cidade tenha um serial killer à solta.
Na sexta, dezoito de novembro, a legista Cathy Mabbutt emitiu um relatório onde dizia que as quatro vítimas estavam, abre aspas, provavelmente dormindo no momento do ataque, fecha aspas. Ela contou à imprensa que viu muito sangue na parede e que todos os corpos tinham múltiplas lesões à faca, mas não disse quantos ou onde esses ferimentos se concentravam.
A essa altura a polícia já estava revirando lixeiras e perguntando aos comerciantes locais se alguém tinha comprado recentemente uma faca de lâmina fixa, já que eles acreditam que tenha sido essa a arma do crime. Pra você ter uma ideia, eles buscam por uma faca tipo aquelas do Rambo, sabe? Que poderiam ser utilizadas para cortar um animal. Ou seja, não é uma simples faca de cozinha, e não é difícil rastrear uma compra dessas, caso tenha sido feita recentemente.
Só que os dias foram passando, as SEMANAS começaram a passar, e nada de um suspeito aparecer, e NADA de arma do crime.
Os estudantes indo embora da cidade, a população local cada vez mais tensa, com medo, e a polícia dava entrevistas que não eram exatamente tranquilizadoras, na falta de palavra que defina melhor… o caso foi ganhando notoriedade na imprensa do país inteiro, tanto pela crueldade quanto pela falta de suspeitos, o FBI entrou na jogada…
Ah! E sabe o telefonema sobre o indivíduo inconsciente que o nove, um, um recebeu? O chefe de polícia James Fry não quis dar à imprensa detalhes sobre QUEM fez a ligação – se foi um homem ou uma mulher, se foi uma criança ou um cachorro -, mas falou que a ligação foi feita do celular de uma das vítimas.
Também não disse QUAL, mas, MEU DEUS DO CÉU! Até aqui temos um assassinato brutal que a polícia só descobre depois que chega na cena do que esperava ser uma pessoa desmaiada, aviso que foi dado por alguém que utilizava o telefone de dentro da casa e NINGUÉM é suspeito?
A porta estava aberta, sem arrombamentos, lembra?
Se isso não está sinistro o suficiente pra você, espera. Tem mais.




Em setembro, dois meses antes do crime, foi emitido um alerta, feito pela segurança do campus da Universidade de Idaho, sobre um grupo de alunos que foi ameaçado por uma pessoa com uma faca. O suspeito era um homem branco, com idade entre dezoito e vinte e dois anos, que usava roupas pretas e boné enquanto vagava pelo estacionamento em que ameaçou as vítimas.
O comunicado ainda sugeria que as pessoas, abre aspas, mantenham as portas trancadas, fecha aspas, mas esse acabou sendo um caso isolado. Ah, lembrando, a segurança do campus estava se referindo às portas dos dormitórios do campus, e as vítimas moravam numa irmandade FORA do campus.
Quando Ethan, Xana, Kylee e Madison foram assassinados, o prefeito da cidade de Moscow, Art Bettge, disse que a polícia estava investigando potencialmente duas possibilidades: latrocínio e crime passional.
Se é pra especular, acredito que latrocínio, ou assalto seguido de morte, é improvável. Geralmente esse tipo de crime ocorre quando o assaltante é pego no flagra por alguém e, no susto ou intencionalmente, acaba atirando na pessoa e fugindo. É mais comum com arma de fogo porque é uma violência mais rápida. Agora, pensa nesse cenário: o assaltante entra numa irmandade, quatro estudantes dormindo, um deles acorda, é esfaqueado até a morte e o assaltante, em vez de fugir, vai esfaquear os outros três?
Isso se a gente não considerar que a primeira vítima gritaria, acordando os demais, e aí tem luta corporal e etc., mas nada disso aconteceu – pois, segundo a legista, os corpos estavam nos quartos e as vítimas estavam possivelmente dormindo.
Só que é aí que a história ganha contornos mais misteriosos, absurdos mesmo, já que Jeffrey Kernodle, pai da Xana, deu uma entrevista dando a entender que, pelos hematomas no corpo da filha, ela não estava dormindo, não – e lutou bravamente por sua vida.
Quando essa entrevista saiu, meio que contradizendo o que dizia o relatório da médica legista, um monte de coisas começou a vir à tona. Uma delas é, no momento do crime, seis pessoas estavam dentro da casa, duas sobreviveram ao ataque e NENHUMA delas ligou para a polícia.
Outra é que Jeffrey teve notícias da filha por volta de meia-noite e que tudo estava bem até essa hora. Ele disse que a porta principal era aberta por senha e que o assassino ou assassinos conheciam a senha ou a conseguiram, de alguma forma, já que não havia sinais de arrombamento.
Além disso, os telefones de Madison e Kylee registram que, entre duas e vinte e seis e duas e quarenta e quatro da madrugada, elas fizeram NOVE chamadas ao todo para um contato de nome Jack, um suposto amigo das vítimas. Ele não atendeu a NENHUMA das ligações.
Outra coisa bem estranha que acabou aparecendo nas últimas semanas é o relato de um casal de idosos que mora nos arredores da universidade de Idaho sobre a morte de seu cachorro. Eles dizem que o animal foi cruel e brutalmente esfolado da cabeça ao rabo, algumas semanas antes das mortes dos estudantes na mesma região, e que só havia pele nas patas do cãozinho. A forma do crime leva a crer que ele tenha sido escalpelado com uma faca.
Contudo, TINHA um cachorrinho na casa onde as estudantes moravam e NADA aconteceu com ele na noite do assassinato.
No meio do caminho surgiu a teoria de que Kaylee talvez tivesse um stalker, um perseguidor, que pudesse ter nutrido sentimentos não correspondidos ou qualquer bizarrice que mova as ações de um stalker e que ele tenha resolvido matá-la. Nessa linha de raciocínio, para não ser reconhecido, ele matou Ethan, Xana e Madison, que seriam potenciais testemunhas de seu crime. A polícia não confirma nem descarta essa possibilidade e diz que segue investigando as redes sociais e o telefone da garota em busca de suspeitos.
Detetives de Idaho também estão levantando a hipótese de que a CASA, ou seja, o IMÓVEL tenha sido o alvo do massacre, e não necessariamente as PESSOAS. O que isso quer dizer? Ninguém sabe, porque os investigadores colocaram essa hipótese no ar e não se deram ao trabalho de explicá-la ao público.
Especulando novamente, para a CASA ser alvo, ou o assassino teria escolhido o local no uni-duni-tê, entrado e feito o que fez, ou ele tinha algo DENTRO da casa que era dele, que ele precisava pegar, e aí no fim deu no que deu. Se o criminoso ou os criminosos já tivessem morado nesse local, que é uma irmandade universitária, então a rotatividade é alta, isso poderia explicar a pessoa saber a senha da porta.
Por outro lado, se alguém entra com uma faca do Rambo em uma casa que não é a dela em plena madrugada só pra pegar alguma coisa… sem comentários.
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Uma reviravolta recente nesse caso, do início de dezembro de dois mil e vinte e dois, dá conta de que Kaylee e Madison podem não ter tido a mesma causa da morte – ou seja, o esfaqueamento. Quem sustenta essa teoria é o pai de Kaylee, Steven Goncalves. Ele disse em uma entrevista para a televisão que, abre aspas, os meios de morte entre as duas não combinam, fecha aspas.
Ele não deu detalhes, dizendo estar zelando também por Madison, melhor amiga da filha, mas foi enfático e repetiu que, embora a polícia tenha dito que ambas dormiam na mesma cama quando foram mortas, os ferimentos são bem diferentes.
Na mesma entrevista, a mãe de Kaylee, Kristy, insinuou que, abre aspas, algumas pessoas saíram da lista de suspeitos rápido demais, fecha aspas. Se a gente analisar o conjunto do que os Gonçalves disseram, é possível subentender que eles acreditam não ser apenas UM o assassino dos quatro estudantes.
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Agora você deve estar pensando:
“Ah, Erika, ouvi você falar de teorias e suspeitas por esse tempo todo, mas o que a gente SABE realmente sobre esse caso?”
Bem… não muito.
O que se tem até agora é a polícia dizendo ter riscado vários nomes na lista de suspeitos, dentre eles os dois moradores da casa que sobreviveram ao ataque, cujo telefone FOI UTILIZADO para avisar de alguém inconsciente à polícia, e um homem que supostamente aparece na câmera do food truck rondando as meninas. O tal do Jack, para quem as ligações foram feitas, também está fora da lista de suspeitos, bem como o motorista que levou as estudantes para casa naquela noite.
Cinco carros estavam estacionados na frente da casa e todos foram rebocados e levados a um pátio da polícia para uma eventual busca por evidências.
O pai de Kaylee Gonçalves afirma que a filha falou que estava sendo perseguida por alguém dias antes da sua morte, mas a polícia diz não ter encontrado nenhuma evidência disso. Quando o boato surgiu, os suspeitos de serem stalkers de Kaylee foram confrontados e liberados pelas autoridades.
A polícia local e o FBI já receberam mais de duas mil pistas por links dedicados e telefonemas, entre fontes anônimas ou não. Ambas as agências dizem estar trabalhando em cima delas e descartando as pistas falsas.
No momento em que gravamos esse episódio, a investigação gira em torno do Hyundai Elantra branco, modelo dois mil e onze, visto perto da cena do crime momentos antes de a polícia chegar ao local. A placa do carro não foi divulgada e ainda não sabemos se as pessoas que estavam nele e foram captadas pelas câmeras de rua foram interrogadas oficialmente.
Hoje é dia 14 de dezembro e, até a presente data, a polícia NÃO divulgou QUEM FEZ a ligação para a emergência relatando ter visto um indivíduo inconsciente na casa dos estudantes, e também não há declaração oficial dos sobreviventes sobre como eles não viram ou ouviram nada e POR QUE não ligaram para a polícia por mais de NOVE HORAS, sendo a primeira e ÚNICA ligação para o nove, um, um uma provável mentira.
Ainda não sabemos QUEM matou Ethan, Xana, Kaylee e Madison, ou porquê, mas, CEM EPISÓDIOS do Casos Reais depois, eis uma coisa que a gente sabe: o ser humano pode ser o pior monstro que nossos pesadelos são capazes de criar – e eles podem estar dentro das pessoas de quem menos suspeitamos.
Roteiro: Lais Menini