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“O crime cometido por Robinho, hoje um condenado pela Justiça, machucou de forma aguda meu coração santista. Amei em 2002, amei a volta em 2010 e, quando o crime veio à tona, fui obrigada a aprender a parar de amar. Robinho acabou para mim e, até hoje, é como se eu vivesse um processo de luto pela perda de alguém tão querido. Porque o futebol tem dessas, mexe com nossos sentimentos de forma tão profunda que um jogador parece alguém da família”.  Foram palavras de um torcedor do Santos que viu de perto Robinho jogar.

Eu ouvi, com muita tristeza, o podcast do Uol sobre os áudios de Robinho, e esses sentimentos não são sobre o programa, que é muito bem pesquisado e escrito pelos jornalistas do Uol, mas por causa dos próprios áudios.

Se você ainda não teve a oportunidade de ouvir os cinco episódios da série, eu vou tentar dar uma resumida no episodio de hoje. 

E a gente so teve a oportunidade de ouvir esses audios, graças à polícia da Itália, que conseguiu provar um caso dificílimo de abuso sexual e lutar por justiça por uma vítima de outro país, contra um algoz de outro país.

Eu só consigo imaginar que, se a polícia não tivesse feito seu trabalho e essa mulher tivesse sido deixada de lado, como acontece muitas vezes com muitas vítimas de abuso, de repente o caminho dela pudesse ter sido outro. Ainda bem que não é o caso. E, por falar nisso, vamos a ele.

Robson de Souza nasceu em vinte e cinco de janeiro de mil novecentos e oitenta e quatro, em São Vicente, São Paulo. Ele foi criado pelos pais, Marina da Silva Souza e Gilvan de Souza. Sua mãe era fornecedora de bufê, enquanto seu pai sempre ganhou a vida como vendedor.

Robinho já dava sinais de que amava o futebol desde a infância. Já nessa época, ele se tornou o líder de seu time de futebol de salão e marcou setenta e três gols em sua primeira temporada.

Um fato curioso sobre a família de Robinho foi um trágico episódio acontecido com sua mãe. Em 2004, no dia 6 de novembro, dona Marina estava em Praia Grande, num churrasco em família, e foi sequestrada. Depois de mais de um mês, a mãe do jogador foi libertada numa manhã de sexta-feira em Perus, bairro da zona norte de São Paulo. Os policiais encontraram Marina com os cabelos muito curtos e desidratada, e esse foi um episódio super traumático para toda a família. 

Nessa época, o jogador já estava ganhando fama, e era uma fama merecida, porque o cara era talentoso mesmo. 

Ainda criança, brincando com uns amigos, Robinho chamou a atenção de um olheiro de um clube de futsal da Baixada Santista, o Beira-Mar. O olheiro conversou com a família dele; e Robinho e seus pais gostaram da ideia e aceitaram o convite. E aí você já imagina, né. A criança que já se mostrava fera no futebol com os amigos entrou pro futsal e desenvolveu muito mais habilidades técnicas e o controle de bola.

Depois de alguns anos ele saiu desse time, o Beira-Mar, e foi para outro clube, já em Santos: o Portuários. Lá ele continuou se destacando. E aí, pouco tempo depois, surgiu uma oportunidade no futsal do Santos, um dos maiores e mais tradicionais clubes do país.

Em mil novecentos e noventa e seis, Robinho fez um teste na equipe infantil de futebol de campo do clube. Foi aprovado! E a gente encontrou uma informação aqui que é curiosa, hein. Acreditem se quiser, quando esse moleque tinha 15 anos ele chamou a atenção de ninguém mais, ninguém menos, que Pelé. É isso mesmo. Pelé foi um grande pontapé na carreira de Robinho e isso, claro, aumentou a visibilidade do jogador pra fechar um contrato definitivo com o Santos. 

Quando ele fez 18 anos, ele começou a jogar pelo time principal do clube.

Robinho jogou pela primeira vez no time profissional do Santos no Torneio Rio-São Paulo de dois mil e dois. Mas, naquele campeonato, o time não teve resultados muito bons e o técnico responsável naquela época, que era o Celso Roth, foi substituído por Emerson Leão. 

Aí, com Leão no comando do time, alguns jovens como Robinho, DiegoLéoElanoRenatoAlexAndré Luís e Maurinho foram misturados com jogadores mais experientes no campo e aquilo acabou funcionando muito bem. Não à toa, fez o time conquistar o Campeonato Brasileiro de 2002.

Foi um acontecimento que colocou no radar de todo o país a dupla Diego e Robinho, já que os dois foram muito responsáveis por ajudar a levar o clube ao título e acabar um jejum que já durava dezoito anos. Afinal, a última vez que o Santos levantou um caneco foi no Campeonato Paulista de mil novecentos e oitenta e quatro.

Época boa de Robinho e Diego, hein? Quem lembra?

Robinho também ajudou o Santos a chegar na final da Taça Libertadores de 2003, mas eles acabaram perdendo para o Boca Juniors na final. 

Depois dessa temporada brasileira, o jogador assinou por cinco anos com o Real Madrid. Ele participou de 43 partidas no total e teve boas atuações, ajudando o time a conquistar a La Liga de 2006–07 e 2007–08, na mesma época em que o time recebia o Bernd Schuster como técnico. Nessa época ele acabou assumindo a titularidade e foi um dos principais responsáveis pelo bom momento do Real Madrid.

Mas esse clima gostoso nos gramados e fora dele não durou muito tempo não! Pouco tempo depois, Robinho acaba entrando em conflito com o treinador e tenta forçar a sua saída do Real Madrid convocando uma coletiva de imprensa para abrir o jogo e mostrar que estava insatisfeito. 

A tentativa deu certo e ele acabou se transferindo para o Manchester City no dia primeiro de setembro de dois mil e oito, por quarenta milhões de euros (que na época eram equivalentes a noventa e seis milhões de reais). 

No Manchester, Robinho se destacou ainda mais e foi um dos artilheiros da Premier League, marcando quatorze gols. Além disso, foi o principal destaque dos Citizens na temporada 2008–09. 

Quando o novo técnico assumiu, Roberto Mancini, ele deu uma caída no rendimento e acabou saindo da equipe titular. Foi nessa época que foi emprestado ao Santos e teve, por lá, a segunda passagem vitoriosa, resultando em dois títulos: Campeonato Paulista e Copa do Brasil. Mas, em trinta e um de agosto de dois mil e dez, assinou contrato por quatro temporadas com o Milan, custando dezoito milhões de euros (quarenta milhões de reais) ao clube italiano, menos da metade do valor que o Manchester City havia pago para contratá-lo dois anos antes. 

Em setembro de dois mil e doze, o São Paulo começou a negociar com o jogador para que pudesse substituir o meia Lucas Moura, que havia sido vendido ao Paris Saint-Germain. Robinho tinha vontade de voltar ao Brasil na intenção de ter mais visibilidade do treinador da Seleção Brasileira, já sonhando com aquela vaga para a Copa do Mundo de dois mil e quatorze. Ele chegou a tentar algumas negociações com o Flamengo, que não deram muito certo, então ainda ficou por um tempo jogando na Europa.

No dia cinco de agosto de dois mil e quatorze, após várias negociações, ele foi anunciado oficialmente como jogador do Santos, no seu segundo empréstimo para o time, e o seu contrato terminou em trinta de junho de dois mil e quinze, quando ele acertou a sua ida para o Guangzhou Evergrande, da China, num contrato válido por seis meses. 

Depois desse período ele foi contratado pelo Atlético Mineiro, voltando ao Brasil em dois mil e dezessete. Entrou pro Sivasspor na Turquia, foi pro İstanbul Başakşehir e, em dois mil e vinte, retornou definitivamente pro Santos, onde em quatro de julho de 2022, aos trinta e oito anos, anunciou oficialmente sua aposentadoria do futebol. 

O currículo de Robinho no esporte mostra um menino de talento que se tornou um homem vitorioso, jogou em grandes clubes do Brasil e do mundo e encerraria a carreira às vésperas dos quarenta anos, como a maioria dos jogadores de futebol, de forma honrosa, como vemos acontecer com muitos ídolos por aí.

Só que a história não é apenas essa. Ele não foi apenas o atleta Robinho, brilhando em campo ou não, nas boas e nas más fases. Porque, fora do campo, ainda tinha o Robson, e ele foi envolvido em polêmicas que mancharam sua carreira para sempre. 

Enquanto Robinho ainda jogava no Manchester, em julho de dois mil e nove, ele casou com Vivian Juns Guglielmetti. Antes de casar, eles mantiveram um relacionamento longo, porque começaram a namorar quando ainda tinham quinze anos. A cerimônia aconteceu no Guarujá, litoral de São Paulo, e contou com a presença de estrelas do futebol, como o jogador Kaká, o técnico Dunga e outros companheiros do Santos. Vivian e Robinho tiveram dois filhos: Robson Júnior e Gianluca. 

Não é porque um cara é jogador de futebol e tem recurso financeiro que a gente vai presumir que a vida do casal é uma maravilha, porque não deve ser, mesmo, especialmente para a esposa. Geralmente é a mulher quem abre mão de seus sonhos e planos para acompanhar o marido em diversas cidades ou países. 

No caso de Vivian e Robinho, o relacionamento de tantos anos tem tudo pra ser cheio de altos e baixos, como todo relacionamento NORMAL. Só que, infelizmente, logo cedo começaram a surgir polêmicas que deixariam o casamento bem frágil. 

Em janeiro de dois mil e nove, no mesmo ano do casamento dos dois, os jornais britânicos The Sun e The Times publicaram uma denúncia de suposta agressão sexual contra Robinho, que teria ocorrido em um clube noturno de Leeds.

O jogador foi interrogado pela polícia de West Yorkshire e negou as acusações, ficando em liberdade sob fiança. Em abril daquele ano, a polícia local decidiu não dar continuidade ao caso e o jogador ficou livre dessa acusação.

E aqui já vale um parêntese: às vezes, uma pessoa é acusada de determinado crime ou comportamento, e todo mundo tem, ou pelo menos deveria ter, amplo direito de defesa para provar inocência. Quando acontece uma vez, pode ser que o público fique em dúvida… será que ele fez isso mesmo? O cara sai livre da acusação e fica subentendido que sua inocência foi comprovada. Mas, anos depois, quando outra coisa similar acontece… aí a gente já reflete sobre aquele primeiro caso e pensa:

é, talvez a justiça não tenha sido feita na primeira oportunidade…

E alguma coisa tinha, nessa história toda, porque em dois mil e onze o jogador divulgou, no Twitter, que estava se divorciando de Vivian. Isso causou muito burburinho, na época, porque quem via de fora achava que era um encontro de almas gêmeas, da adolescência para a vida.

E, para a alegria dos fãs do casal, logo Vivian e Robinho reataram o relacionamento. 

Só que, em dois mil e treze, ocorreria uma acusação que, Vivian ainda não sabia, mas poderia mudar para sempre não só o seu relacionamento, mas a forma como ela via Robinho como homem. Afinal, o que aconteceu há dez anos mudou a forma de muitas mulheres de verem Robinho como homem.

O que manchou a história de Robinho para sempre aconteceu em vinte e dois de janeiro de dois mil e treze, mas o mundo só ficou sabendo disso mais de um ano depois. Em outubro de dois mil e quatorze, o jornal italiano Corriere dello Sport divulgou uma reportagem sobre uma investigação da Justiça da Itália sobre um suposto caso de estupro coletivo envolvendo Robinho. 

O abuso teria acontecido em uma boate de Milão, quando ele ainda defendia o Milan. A informação inicial era de que a vítima era uma jovem de 18 anos de idade, de origem brasileira. Mas, na verdade, se tratava de uma mulher albanesa de vinte e dois anos.

Essa mulher, por motivos óbvios, não teve a identidade revelada. No podcast Uol Esportes – os grampos de Robinho, ela é tratada como HELENA, e aqui vou seguir com esse pseudônimo para ela, já que esse episódio é também meio que um react do que ouvi nessa série do UOL. 

Helena já conhecia Robinho e alguns de seus amigos. Eles estavam com um grupo de pessoas no Sio Café, em Milão, para a festa de aniversário de um deles, o Rudinei, que tinha feito trinta e quatro anos na noite anterior. A própria Helena estava lá para comemorar o aniversário de vinte e três anos, que seria no dia seguinte. 

Uma banda de pagode de um conhecido de Robinho, o Jairo, ia tocar, e Vivian, esposa de Robinho, fez uma decoração especial para o evento de aniversário, até porque o próprio jogador iria subir no palco para tocar uma música com a banda. O lugar era conhecido por ter festas brasileiras, com pagode, funk e tal, e funcionava meio que um ponto de encontro dos brasileiros na balada italiana. 

Nessa festa estavam, além de Vivian e Robinho, Jairo, o cara da banda, Rudinei Gomes, o amigo aniversariante, Cleiton Santos, o Cleitinho, Alexsandro da Silva, Fabio Galan e Ricardo Falco, que conhecia algumas meninas, em especial Helena. 

Num determinado momento da noite, algumas pessoas foram embora e parece que Robinho levou a sua esposa para casa, mas retornou logo depois para o Sio Café, essa boate. 

Todos os amigos que estavam com Robinho continuaram lá e estavam bebendo bastante. Helena também estava bebendo junto com todo mundo. Só que ela bebeu demais e deu o famoso PT que onze em cada dez pessoas que bebem já deram.

A diferença entre a história de Helena e a de muitas de nós, tanto mulheres quanto homens que já ficaram inconscientes por beberem além da conta, é que há pessoas que têm a sorte de ter amigos nesses momentos para tirar a gente do lugar, levar para um local seguro para que a gente se recupere da ressaca e siga a vida.

E há pessoas que estão sem os amigos nesses momentos, ficando em uma posição totalmente frágil, e há amigos que, na verdade, não são amigos nada. Essa terceira opção parecia ser, infelizmente, a realidade de Helena. Afinal, um dos motivos pelos quais ela se aproximou do grupo de Robinho, em primeiro lugar, foi porque ela considerava o tal do Falco como um AMIGO. 

Só que, com um amigo desses, ninguém precisa de inimigo.

Os homens perceberam o estado de embriaguez dela e a levaram para o guarda-volumes da boate, que era um lugar menos visado e, se aproveitando do estado em que ela estava, tiveram múltiplas e consecutivas relações sexuais sem o consentimento dela. Ou seja, a vítima foi coletivamente estuprada. 

Helena não estava em COMA alcoólico, por assim dizer, e se lembrava de flashes daquela noite. Logo no dia seguinte ela chegou a fazer contato com Falco dizendo para ele que os amigos dele tinham se aproveitado dela, e que ela não era esse tipo de moça, mas ele tentou convencê-la de que ela estava imaginando coisas, que os caras eram boa gente e que se realmente tinha rolado algo era porque ela tinha aceitado, sim.

Não importava o quanto Helena dissesse que, embora sem se lembrar de tudo, ela lembrava que não tinha consentido, Falco estava pronto para defender os amigos. E mal sabia ela que tinha sido vítima, também, do próprio Falco. Afinal, um dos materiais genéticos encontrados no vestido utilizado naquela noite, que ela entregou para a polícia, tempos depois, era DELE.

Mas, antes disso, Helena, certa de que tinha sido abusada sexualmente, procurou a polícia e deu seu depoimento. É aí que começa a história toda dos grampos do Robinho, porque ela deu certeza absoluta de que o jogador brasileiro era um de seus agressores. Tendo ele como norte, a polícia fez questão de investigar de forma incisiva.

Aqui no Brasil não é permitido utilizar grampos como prova em tribunal, porque eles constam como uma espécie de prova ilegal. Por isso temos a quebra dos sigilos telefônicos, porque aí, sim, com o pedido expedido pela justiça, os investigadores podem ouvir conversas e ler mensagens trocadas sem nenhum problema e incluir tudo isso nos autos do processo.

Mas, na Itália, os grampos NÃO são ilegais, no sentido do recolhimento de provas. Tanto que, por diversas vezes no passar dos anos, Robinho se mostrou desconfiado de que estava sendo grampeado pela polícia e evitou uma série de conversas telefônicas que poderiam incriminá-lo.

Ainda bem que a polícia italiana é bem esperta e paciente e, além do telefone, também grampeou o carro de Robinho. Foi no automóvel que a maioria das provas contra ele foi colhida.

Desde que a acusação veio à tona, a defesa de Robinho fez o que ela foi contratada para fazer: tentou criar uma linha de defesa para o acusado. Nela, os principais argumentos davam conta de que, primeiro, não havia nada nas câmeras de segurança da boate que comprovassem que o abuso de fato ocorreu.

Segundo, se ocorreu alguma relação sexual, não havia provas de que não tinha sido consentido, assim como não havia provas de que a mulher também estaria inconsciente. Nesse estado, além de obviamente não ter sido consensual, o ato sexual também se caracterizaria como estupro de vulnerável, porque a pessoa não conseguiria sequer tentar se defender do abuso.

E aí começa o nosso problema coletivo com o Robinho: nos primeiros grampos já dá pra ver que ele está muito tranquilo, e não porque não fez nada, mas porque não tinha como provar que ele fez alguma coisa.

Robinho, que se dizia inocente desde o começo, ao saber que estava envolvido numa acusação de abuso sexual, ele RIU. RIU e disse que a menina tava completamente bêbada. RIU e disse que ainda bem que ele não tinha nada a ver com isso.

As primeiras escutas e interceptações telefônicas revelaram uma conversa de três de janeiro de dois mil e quatorze, às 22h47, entre Jairo e Robinho. Jairo é um dos amigos envolvidos nas acusações, como testemunha dos fatos, e foi, desde a chegada do jogador em Milão, o contato dele para resolver questões profissionais e particulares, já que Robinho foi para o país sem falar italiano e recebeu essa indicação de contato por lá.

Foi Jairo quem deu a notícia de que a casa estava caindo, pois a menina tinha acusado e a polícia estava atrás de seis brasileiros que estavam aquela noite no Sio Caffé. Robinho era um deles. Mas o jogador foi enfático ao dizer, abre aspas, “os rapazes estão na merda, menos mal que existe Deus, porque eu não toquei naquela garota”

Sem saber que já estava sendo grampeado pela polícia italiana, nove dias depois, em doze de janeiro de dois mil e quatorze, Robinho diz que não se lembrava dessa mulher. Bom… se ele não se lembrava dessa mulher, como sabia, ou se lembrava, que não tinha tocado nela?

Esquisito demais, né?

E fica ainda pior quando, doze dias depois, em vinte e quatro de janeiro, com o mesmo Jairo, da primeira conversa, ele fala com todas as letras que não tinha transado com a mulher, mas tinha TENTADO. Jairo até chega a dizer pra ele que viu Robinho, abre aspas, colocar o pênis dentro da boca dela, fecha aspas.

UÉ, ROBINHO.

Se você não se lembra dessa mulher, como se lembra que não tinha colocado a mão nela, mas tinha tentado fazer sexo com ela? Quer dizer que colocar o pênis na boca de uma pessoa é diferente de colocar a mão nela?

Por mais absurdo que possa parecer, na cabeça do Robinho, SIM, essas coisas eram completamente diferentes. 

Uma coisa que fica muito clara nesses áudios do Robinho, além do crime flagrante que ele e seus amigos cometeram, é o desrespeito total à vítima. Por exemplo: quando quer dizer que viu fulano tendo relações sexuais com a vítima, usa a gíria RANGANDO, ou TIRAR O DOZE, provavelmente significando ter uma ereção e algo relacionado ao seu proprio orgao sexual. Quando a conversa é sobre a possibilidade de a menina ter engravidado de um deles, o termo utilizado para descrever filho é CARNÊ. E por aí vai.

E o mais incrível é que, sem saber que estava sendo ouvido pela polícia italiana, o que o jogador faz, aos poucos, é descrever o crime em todos os seus detalhes. 

.  A IMPUNIDADE   .

Os grampos do telefone e do carro de Robinho mostram que as preocupações dos seis envolvidos no estupro iam diminuindo cada vez que eles percebiam que era difícil para a polícia ter PROVAS do que aconteceu.

Isso, claro, porque eles não faziam a menor ideia de que estavam sendo ouvidos por todos os lados… mas quando discutiam, por exemplo, a falta de câmeras de segurança no local em que a vítima alegava ter sido estuprada, Eles achavam que se não tem câmera, como é que vai provar alguma coisa? 

Tirando a parte em que se contradiz, o que ocorre praticamente o tempo todo, Robinho é sempre muito enfático em dizer que Helena estava muito bêbada para saber o que estava fazendo ou de quem estava falando, e que ela nem o conhecia, e ele nem se lembrava quem era ele, que ele estava a salvo disso. E, que se fosse sobrar para os amigos…

… bem, nas palavras do próprio Robinho, abre aspas, “to nem ai”. 

Fecha aspas.

Pois, no fim, seria a palavra dele, um jogador famoso e rico, contra a dela, uma albanesa de vinte e dois anos que ninguém fazia nem ideia de quem era. 

Um deles chegou a dizer para a polícia: por que a gente abusaria de uma ALBANESA? Tanta mulher gostosa europeia e brasileira quer ficar com robinho e sua turma sem problemas?

Se a mulher é da Albânia, estava ali bêbada, dançando com os caras e provocando os caras, na cabeça dos caras é porque ela queria transar mesmo. E, cá entre nós, se fosse isso, tudo bem. Ela era maior de idade, eles eram todos adultos, se ela estivesse afim de transar com a boate inteira e a boate inteira consentisse, não haveria problema nenhum nisso.

Acontece que ela NÃO queria. Ela NÃO consentiu. 

No caso específico dos amigos de Robinho, ainda que estivessem assustados por terem sido incluídos na acusação de um crime, eles tentam se certificar, entre eles, de que não cometeram estupro, porque ela estava bêbada, ela estava provocando… O único que parece o tempo todo duvidar de que vai dar alguma coisa pra ele é Robinho. O famoso. O rico. O elo forte da corrente. Seria a palavra dela contra a dele.

Mas ele esqueceu de um detalhe que enfraquecia a palavra dele: uma polêmica anterior, uma acusação anterior de estupro. Mesmo que ele tenha sido inocentado dela, a mancha dessa acusação ficaria para sempre em seu currículo. 

O caso da Helena, que teve a dedicação da polícia e da justiça italiana a seu favor, serve como esperança de que, primeiro, os homens se sintam intimidados, se não pelo caráter, pela força da justiça e pela possibilidade de prisão, a não fazer mais isso. E, fazendo, é a esperança de que não vão sair livres para repetir o feito quantas vezes julgarem possível.

.  OS ELOS FRACOS   .

Jairo, o cara da banda, foi o primeiro a depor oficialmente. Ele conta para Robinho que recebeu a ligação de um número desconhecido, que era a polícia fazendo o chamado, e que ele disse que iria, mas não foi. Depois, o mesmo número volta a ligar. A polícia, sem paciência, pergunta se Jairo quer que eles o busquem em algum lugar para prestar depoimento.

Quando conta isso para Robinho, Jairo está apreensivo, enquanto Robinho ri. E ri. E ri.

Jairo fala que disse para a polícia que Helena estava feliz e dando risada, não estava bêbada de cair, não estava inconsciente, e que sabia o que estava fazendo. Ou seja, no depoimento ele contradiz o que o próprio Robinho diz nessa conversa, já que o jogador afirma para Jairo que ela estava, abre aspas, muito louca, fecha aspas.

A ligação de Jairo tinha um propósito: o de alertar Robinho para o que estava por vir. Mas ele, muito tranquilo, disse que não ia dar nada. Afinal, nas palavras dele, não fez sexo com a menina… 

Robinho diz para Jairo que quem teve relações com a menina foi Rudinei, Cleitinho, e talvez Alex, o Alexsandro, e Galan, como ele chama o Fabio Galan. Ele ainda diz uma frase muito emblemática para o amigo Jairo, abre aspas:

QUEM NÃO DEVE NÃO TEME, fecha aspas.

Um dos que mais temia, no entanto, era Ricardo Falco. De todos do grupo daquela noite, Falco era o amigo mais recente de Robinho. Eles se conheceram depois que Jairo, o pagodeiro que também trabalhava de motorista do jogador, indicou Ricardo para a vaga. 

Ricardo vivia na Itália há muito tempo, tinha passaporte italiano e tinha outras amizades, além de Robinho, e uma delas era Helena. O que ele não tinha era um emprego. Vivia de bicos e até contava com a indicação do amigo famoso para conseguir emprego nos Estados Unidos, para onde desejava ir em seguida.

Ele, que é conhecido pelo grupo com o apelido de Fala Pouco, justamente porque falava muito, é o único condenado à prisão ao lado de Robinho na conclusão do julgamento. E, assim como o jogador, está no Brasil.

Ele não fazia ideia de que estava sendo gravado pela polícia e nem que Helena deu como evidência do crime o vestido que usava naquela noite, e que tinha material biológico, ou esperma, de dois homens.

Ele era um deles.

Mas, até saber disso, ele e Robinho tentavam, por telefone, criar inúmeras narrativas diferentes que, na cabeça deles, funcionaria muito bem. 

No podcast do Uol Esportes, Falco diz coisas horríveis. Ele afirma nas ligações com Robinho que tentou, abre aspas, entrar na cabeça dela, fecha aspas, ou seja, da vítima, para fazê-la acreditar que ela estava enganada, que as coisas não tinham acontecido daquela forma. 

Ele descreve as tentativas de manipulação da narrativa assim que Helena busca amparo nele, que considerava um amigo, para contar que foi abusada pelos homens da festa para o qual ELE tinha a convidado.

Falco afirma ter conversado com Helena depois da festa, quando a viu chorando, e ela ainda cobrou dele: pô, nem pra me ajudar? E que ele teria dito pra ela: mas você tava lá com o cara, como eu ia te ajudar? Achei que estava lá porque queria.

E ele também diz que a vítima adicionou todo mundo no Facebook e ficou por um ano tentando tirar informações dos envolvidos, que já estavam no Brasil, mas não conseguia. Falco diz que ela foi, abre aspas, MALANDRA, fecha aspas.

Para ele, o que Helena queria era aparecer, ter fama e de repente ganhar uma grana às custas do jogador famoso. 

Essa seria, sim, uma possibilidade.… mas não era isso que Helena estava fazendo, e Robinho sabia. Tanto que, em vários áudios, ele demonstra um misto de apreensão e alívio quando fala com os amigos da falta de câmeras de segurança no local em que o abuso teria acontecido.

Uma pessoa inocente é inocente sendo gravada ou não por câmeras de segurança, e só os culpados ficam com a pulga atrás da orelha quando existe a mínima chance de que o crime tenha sido registrado em vídeo. 

Outro elo fraco da corrente do abuso é o amigo Cleitinho. É possível que tenha sido para ele que Helena blefou, no Facebook, dias depois do ocorrido, dizendo que estava grávida, para dar um susto e conseguir informações sobre o abuso a fim de levar o caso para a polícia. 

Foi Cleitinho, inclusive, quem deu os nomes completos de todos os envolvidos naquela noite, e foi assim que a justiça italiana tentou chegar em um por um dos acusados.

Ele é um dos parças em quem Robinho tenta colocar a culpa o tempo inteiro, nos áudios, em especial nas conversas com o personal trainer Fábio Galan, outro amigo que estava lá, no dia. Com ele, Robinho diz que a única certeza que tinha era que ele mesmo e Galan não tinham transado com a vítima – que Fábio trata como, abre aspas, piranha.

Fabio Galan e Robinho trocam altos papos rindo porque os dois teriam brochado e, portanto, não gozaram na vítima. Só essa conversa já demonstra que os dois estavam presentes e atuantes no cometimento do crime do qual querem se safar. Eles também mostram preocupação, mas não muita, com a possibilidade que o Sio Café seja fechado por não entregar as imagens de câmera de segurança. 

Eles também especulam muito sobre quem pode ter, abre aspas, gozado dentro, fecha aspas, quando ainda acham que Helena estava grávida. Além de Cleitinho, eles citam uma outra pessoa, que não aparece mais em nenhuma conversa e não foi colocada no processo, e Rudinei, o aniversariante da noite.

.  A VÍTIMA   .

No depoimento de Falco, ele disse para a polícia que Robinho nunca tinha visto a vítima antes. Mas Robinho não só viu Helena em outra balada, antes desse episódio, como fez com que ela passasse a mão em seu abdômen e lambeu um dos seios dela.

Ou seja.

Na verdade, eles tinham se conhecido em dois mil e onze, ela foi no aniversário dele de dois mil e doze e, no Sio Café, naquela noite de dois mil e treze, Robinho estava vendo Helena pela terceira vez na vida. 

Testemunhas que ela procurou no dia do seu aniversário, que era o dia seguinte à balada, disseram em depoimento que ela estava chorando muito, não se lembrava de muita coisa que tinha acontecido mas que tinha certeza de que tinha sido estuprada, e não por um homem, mas por vários. 

Os amigos que a acolheram nesse momento incentivaram que ela buscasse a polícia, mas, antes, ela fez a própria investigação particular, digamos assim, conversando com Cleitinho no Facebook e tentando entender tudo o que aconteceu naquela noite. Ela disse que iria prestar queixa, mas não deu detalhes do que tinha de evidências para entregar à polícia.

Chegou até a blefar sobre a gravidez, como já falamos, para assustar eles e fazer com que eles levassem a situação a sério.

Ela contou para a polícia o que se lembrava, quando foi junto com seu advogado prestar a queixa e entrar com o processo junto à procuradoria de Milão, e, grampo a grampo, Robinho foi descrevendo exatamente a mesma coisa que ela tinha contado, do pouco que se lembrava.

Vale dizer, também, que ela, a vítima, teve seu telefone grampeado, bem como o das suas amigas, que tinham prestado depoimento, porque o ministério público queria afastar qualquer possibilidade do tão dito golpe que os amigos de Robinho achavam que ela queria dar. 

Mas, ao contrário das escutas DELE, nas de Helena não acharam nada, absolutamente NADA, que demonstrasse que ela tinha criado uma mentira para tirar dinheiro de alguém. 

E, quando Robinho enfim admite, em uma conversa com Jairo, o pagodeiro, que tentou transar com ela, e Jairo diz que viu o jogador colocar o pênis na boca dela – momento em que Robinho ri e diz, abre aspas, mas isso aí não é transar, fecha aspas –, a justiça italiana tinha a palavra dela, Helena, e a palavra dele, Robinho, como comprovação de que o estupro realmente tinha acontecido.

Com o cerco se fechando, Robinho para de ficar rindo da situação para se preocupar com sua situação. Os medos, claro, eram egoístas: não conseguir jogar a copa, ficar com a carreira manchada… 

ele chegou até a fazer uma promessa a Deus, já que é um homem muito religioso, de que nunca mais se envolveria com nenhuma mulher além de sua esposa, Vivian, pedindo proteção para ele e sua família.

Não tem como saber, mas eu diria que essa história fez duas mulheres vítimas. A primeira, incontestável, é Helena. A segunda é Vivian, namorada de Robinho desde a adolescência e que, ao ser envolvida na confusão, sentiu profundamente a humilhação que não era DELA, mas do marido.

.  VIVIAN   .

Antes de saber que Robinho estava envolvido no crime, já que ele mesmo dizia a ela que eram os amigos que estavam sendo acusados e que o maior problema da família deles seria ter o nome do jogador envolvido em um crime que os amigos cometeram, Vivian foi com ele ao advogado para montar a estratégia de defesa.

Mas, depois de depor como testemunha, já que ela estava no Sio Café na noite em que tudo ocorreu, as coisas mudaram bastante. Vivian se sentiu humilhada. Nas palavras dela, parecia a esposa chifruda que não sabia de nada.

A verdade é que, do crime, ela não tinha como saber, mesmo, porque foi embora antes do marido e só sabia o que Robinho tinha contado para ela. Ou seja, praticamente nada. Então ela foi pega de surpresa quando, ao depor, ouviu da boca da investigadora que Robinho ERA UM dos acusados de estupro por Helena.

Em seus áudios dá pra sentir tanto a preocupação quanto a vergonha de ver o nome do marido ser envolvido pela segunda vez em um caso de estupro. Ela pede que Robinho diga a verdade para as autoridades, que diga a verdade para ELA, e ele continua negando que fez alguma coisa. Mas, nesse grampo, conversando com Vivian no carro, ele admite que viu tudo – e que foram os amigos que abusaram de Helena.

Vivian pede novamente que ele diga isso para as autoridades e que se afaste dos amigos. Ainda sugere, abre aspas, vai precisar ser preso, fecha aspas, como quem diz: vai precisar ser preso pra ver que essas amizades são ruins? 

Em outro momento ela diz que chegou a dizer para a investigadora algo do tipo: se for assim, eu não conheço o homem com quem eu durmo. E que a investigadora ofereceu nada menos que empatia a ela. Que sabia que ela não tinha nada a ver, e que sentia muito que Vivian estivesse sendo enganada daquela forma por um cara que ela conhecia desde os onze anos de idade.

A única vez em que o áudio capta Vivian chorando é quando ela pensa na possibilidade de Robinho ser preso. É uma mulher, que ama o marido, que tem dois filhos com ele, chorando por uma potencial prisão de um crime que ela não cometeu. 

Segundo notícias recentes veiculadas na imprensa, o casamento sobrevive mesmo depois de tanta confusão, mas Vivian merece um capítulo à parte nessa história de horror como o de mais uma vítima do homem que acredita na impunidade, e que é corajoso o suficiente até para sugerir que DARIA UM SOCO na cara da vítima, como capta outro áudio dele com Ricardo Falco, mas que é COVARDE para cometer o estupro e COVARDE para admitir para a esposa o que tinha feito, qual era a sua participação em tudo.

Porque, sim, com Jairo ele diz que brochou, que enfiou o pau não sei onde, mas para Vivian ele continuou até o final com a mentira. O cara que VIU tudo, mas nada fez. 

.  FALCO E ROBINHO ESPERAM PRISÃO   .

No podcast do Uol os apresentadores dizem que o apelido de Ricardo Falco é Fala Pouco porque, ironicamente, ele fala muito. E foi justamente nas conversas entre Falco e Robinho que a polícia entendeu toda a dinâmica do crime.

Eles perceberam que os telefones estavam grampeados e começaram a falar no carro, onde não sabiam que estavam sendo escutados, e eu só consigo imaginar o que eles não conversaram em lugares que não tinha como a polícia chegar, porque pelo amor de Deus… 

A vitima considerava Falco um amigo. Ele, ao contrário, dizia que não era amigo dela e tinha vários nomes peculiares para se referir a ela: vagabunda, piranha… ele sugere que ela é manipulável, porque, entre aspas, entrou na mente dela, fecha aspas, fez ela acreditar que estava viajando, que se ficou com alguém foi porque quis…

… mas na realidade ninguém caiu em nenhuma das conversas de Falco. Nenhuma. Nem Helena, nem a polícia. E, quando falava a verdade, com Robinho, sem saber que estava sendo ouvido, ele disse que a menina estava inconsciente, ele confirmou que participou do crime, ele fazia todo o possível para tirar da reta o amigo famoso que poderia lhe arranjar um bom emprego.

Chega a ser até engraçado quando a gente descobre, lá no penúltimo episódio da série do Uol, que Falco descobriu, pela polícia, que era um elo fraco da corrente com Robinho. Tipo, o jogador é famoso, tem dinheiro e o amigo que não é famoso e não tem dinheiro só por isso já não poderia se considerar a salvo, ainda que demonstrasse uma certa lealdade para tentar tirar o amigo disso tudo e, quem sabe, receber algo em troca por ser tão fiel. 

Foi na polícia que Falco descobriu que, enquanto ele tentava desenhar de maneira perfeita, na cabeça dele, o que teria acontecido naquela noite, e como Robinho não tinha absolutamente nada a ver com isso, que os advogados do jogador diziam que Robinho estava sendo uma grande vítima de golpe, que a menina queria armar pra cima dele e que provavelmente tinha a ajuda de algum dos amigos do cara, já que precisava de informações que apenas os amigos teriam – como, por exemplo, o nome completo de todos os envolvidos.

E aí a polícia pergunta, fingindo que não sabe de nada, de quem Robinho desconfia, e ele não pensa duas vezes antes de falar: Ricardo Falco.

Eu não sei você, que me ouve, mas, se eu participo de um esquema errado com uma amiga, faço de tudo para livrá-la do esquema e fico sabendo que ela me jogou aos leões pelas costas, aí é que dou a língua nos dentes, mesmo, e mesmo sabendo que existe a chance de eu me ferrar junto. Porque, afinal, é um ESQUEMA ERRADO. Pessoas que não fazem esquemas errados não precisam nem se acusar e nem acusar outros e nem temer nada. 

Mas não foi isso o que Falco fez: ele se manteve fiel até o fim a Robinho, que, a essa altura do campeonato, já queria colocar a culpa nos amigos que estavam no Brasil e não seriam julgados só por causa disso. Quando a justiça italiana procurou por eles, eles não estavam mais lá, e não poderiam ir a julgamento. Cleiton, Rudinei, Alex e Galan foram inocentados por não terem sido encontrados pela justiça italiana.

Já Falco e Robinho, como foram notificados oficialmente, foram a julgamento e responderam pelo crime do artigo meia zero nove do código penal italiano, que diz sobre violência sexual de grupo. Eles já foram julgados, condenados e esperam prisão – e é isso que nós, mulheres principalmente, esperamos que aconteça a partir da divulgação do podcast do Uol Esportes: que a justiça brasileira seja pressionada a entregar Robinho e Falco para cumprir a prisão na Itália ou arranjem um outro jeito de fazer com que eles paguem por seus crimes.

.  DEZ ANOS DEPOIS   .

Os grampos que a gente ouviu no podcast do Uol Esportes foram feitos pela polícia a pedido do Ministério Público italiano e anexados ao processo que foi concluído com a CONDENAÇÃO do ex-jogador a nove anos de prisão. Essa decisão foi tomada pela primeira instância, depois em segunda instância, pelo Tribunal de Apelo de Milão, na Itália, em dezembro de dois mil e vinte, e confirmada em TERCEIRA INSTÂNCIA, onde já não cabe mais recurso, em dezenove de janeiro de dois mil e vinte e dois.

Como dito anteriormente, apenas Robinho e Ricardo Falco foram condenados porque os outros quatro acusados não foram encontrados em residência pela justiça italiana, e só poderiam ser processados caso fossem notificados disso. 

Em outras palavras, como eles estavam de passagem pela Itália na época do crime e retornaram ao Brasil ou foram para qualquer outro lugar depois disso, não receberam a visita do Oficial de Justiça com a notificação e por isso não poderiam ser incluídos no processo.

Jairo, que reside na Itália até hoje, foi condenado a serviços comunitários por prestar falso testemunho, já pagou sua dívida com a sociedade italiana e recebeu documentos permitindo que ele seja um residente do país.

Em 19 de janeiro de 2022, a Corte de Cassação de Roma, a última instância da justiça italiana, rejeitou o recurso apresentado por Robinho. Em outubro de 2020, após a condenação em segunda instância, a defesa de Robinho havia apresentado uma nota dizendo que o jogador manteve relação sexual consensual com a mulher albanesa. “O jogador reitera que não cometeu o crime do qual é acusado e que sempre se relacionou sexualmente de maneira consentida. Taxativamente não houve violência sexual, tampouco admissão de culpa nas interceptações telefônicas, o que fica claro quando analisadas na integralidade e no contexto correto”, dizia o trecho do texto, que foi assinado pelos advogados Luciano Santoro e Marisa Alija. 

Bom, esse recurso foi negado e a corte manteve a sua decisão, mas como a Constituição Brasileira não permite a extradição de brasileiros, a justiça italiana solicitou que o jogador cumprisse a pena em uma penitenciária no Brasil.

Ricardo Falco, amigo do atleta, recebeu a mesma sentença. Os outros brasileiros foram acusados de abuso sexual em grupo pela garota, mas ainda não foram processados porque não estavam mais na Itália durante as investigações. 

É importante a gente falar disso porque especialmente em casos como o de Robinho, onde um dos criminosos tem um nome de peso, naturalmente existe uma culpabilização da vítima e a gente vê por aí muitos veículos de imprensa dizendo que a mulher devia estar se aproveitando, usando da fama e do dinheiro do outro, sem de fato saber e conhecer a história de vida da pessoa. 

No Brasil, a gente tem uma enorme culpabilização da mulher, nesse caso. Mas o que de novo se pode perceber, com a justiça italiana, é que o sistema de justiça opera de forma diferente, já que em nenhum momento eles culpabilizam a vítima. Existe sim, aqui no Brasil, uma tradição machista de os tribunais brasileiros protegerem os agressores. 

Por aqui, o crime cometido por Robinho encontra-se no artigo 217-A do código penal como estupro coletivo de vulnerável: manter conjunção carnal com alguém que, por qualquer causa, não pode oferecer resistência.  A pena é aumentada de 1/3 a 2/3 se o crime for praticado mediante o concurso de dois ou mais agentes.

Por causa disso, em função da gravidade do crime, a legislação o considera como hediondo. Mas como ele foi cometido em território italiano, ficou submetido ao regramento jurídico de lá. Mas Robinho não poderá ser extraditado para a Itália porque é brasileiro nato e a pena de prisão aplicada na Itália não poderá ser transferida e executada no Brasil. 

O processo, então, teve que ser reaberto no Brasil. Segundo alguns especialistas em direito internacional, Robinho deve ficar livre da cadeia caso não saia mais do Brasil. Enquanto isso, o primeiro jogador da história da Seleção Brasileira e do Santos a ser julgado e condenado por abuso sexual segue livre no Brasil.

O jogador só não pode sair do país, porque seu nome consta na lista da Interpol (Organização Criminal de Polícia Internacional). Na lista de mais de 181 países, o nome Robson de Souza consta como condenado a nove anos por estupro coletivo. Ou seja, se o ex-atacante da Seleção e do Santos for para um destes países, será preso.

De acordo com amigos do ex-jogador, Robinho pretende levar sua vida normalmente no Brasil. Ele inclusive está se dedicando à carreira do filho Robson de Souza Júnior, que tem 14 anos, e assinou contrato de formação com o Santos. 

Enquanto isso, Robinho aproveita sua vida, como se nada tivesse acontecido, graças ao seu patrimônio milionário que ganhou como jogador de destaque mundial. 

Isso pode começar a mudar na primeira semana de agosto de dois mil e vinte e três, quando o Superior Tribunal Federal vai começar as deliberações para definir se Robinho pode cumprir aqui, no Brasil, a pena pelo qual foi condenado na Itália. É uma pena que esse seja o fim trágico de uma carreira que teve tantos momentos promissores, mas, ao mesmo tempo, é o que esperamos de todos os homens que cometem abusos e violência contra as mulheres: que vejam o sol nascer quadrado pelo tempo necessário para que elas, as vítimas, possam TENTAR dormir tranquilas e seguir com a vida que merecem.

Roteiro: Lais Menini

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