Sabe quando você conhece uma pessoa, se apaixona e, eventualmente, diz que quer passar o resto de sua vida com ela, até que a morte os separe? Então. Tem gente que leva isso a sério ATÉ DEMAIS…
… e, não, não estamos falando de Casamento às Cegas! Mas de uma história de amor que pode te arrepiar e te fazer rever os limites aceitáveis para uma paixão avassaladora.

Bem, pra gente começar a falar do caso de hoje com propriedade, preciso te apresentar um homem chamado Carl Tanzler, que nasceu na Alemanha em mil oitocentos e setenta e sete. Ou seja, OUTROS tempos reais, quase duzentos anos atrás. Quando jovem, lutou na primeira guerra e era um rapaz viajado. Tinha ido à Austrália, à Índia e logo estava a caminho dos Estados Unidos.
Ele se casou com Doris Anna Shafer quando tinha por volta de quarenta e três anos, enquanto ela estava com aproximadamente trinta e um, e juntos eles tiveram duas filhas, Ayesha e Crystal. A família foi morar em Key West, no estado da Flórida, e tinha tudo para ser muito feliz, não fosse um pequeno detalhe: Doris não era a sua alma gêmea, Carl dizia, porque no passado uma espécie de aparição tinha dito para ele que as características físicas da mulher da sua vida eram diferentes das de Doris.
Carl dizia que a pessoa certa para ele tinha olhos escuros e cabelos pretos, e Doris era BEM diferente disso. Mas, mesmo assim, quarentão e imigrando para os Estados Unidos, ele se casou e, com Doris, formou a família, embora nunca tenha deixado de procurar a mulher que lhe foi prometida, no passado, por um fantasma.
Quando chegou à América, mais velho, Carl atuava como médico radiologista. Aos amigos e colegas de hospital ele dizia que era um conde, e se identificava como Carl Von Cosel. Ele, Doris e as filhas viviam muito bem, sem problemas financeiros, e ele se passava por uma pessoa rica, como se espera que um conde seja.

A profissão de radiologista acabou o levando para a linha de frente de algo que, na década de trinta, era tida como a doença do século: a tuberculose. Como os pacientes precisavam fazer chapas dos pulmões, tirar raio-x mesmo, para que os médicos acompanhassem a evolução da doença, e ficarem isolados o máximo possível, Carl era requerido nesse ambiente, pois sabia mexer nas máquinas e interpretar os resultados dos exames.
E foi precisamente aí que ele disse ter visto, pela primeira vez, a mulher da sua vida: em uma cama de hospital.
Maria Elena Milagro de Hoyos era uma jovem de vinte e dois anos, de origem cubana, que, apesar da pouca idade, já era casada, com Luis Mesa. Só que o casal não vivia junto desde que Elena sofreu um aborto espontâneo e foi abandonada por Luis, sem que um divórcio fosse formalizado.



Naquela época, essas coisas meio que não existiam, ou eram bem difíceis. E, pra completar, em um exame feito no Hospital Marítimo de Key West, o mesmo onde Carl trabalhava, ela descobriu que estava com tuberculose.
Essa era a doença do século e, naquela época, era fatal. Mesmo com tratamentos de ponta, incluindo a reclusão em ambientes com ar mais puro, o diagnóstico de tuberculose era uma sentença de morte. A maioria das pessoas não iria se curar e sabia disso.
Elena tinha a fama de ser muito bonita, uma das mais bonitas da cidade, e foi um choque geral quando ela recebeu a notícia na flor da idade e precisou, de imediato, se internar para tratamentos.
O radiologista Carl Tanzer, que na época já passava dos cinquenta anos, viu aquela mulher exótica e linda e concluiu, de imediato, que era dela que a aparição falava quando lhe disse sobre a mulher da sua vida, anos e anos atrás. Então, mesmo também estando casado com Anna, enquanto Elena era formalmente esposa de Luis, ele começou a cortejá-la. Enchia a moça de presentes, assumia algumas dívidas da família e disse que, com seu conhecimento médico, queria tentar curá-la.
Isso abriu brecha para que fizesse alguns tratamentos experimentais, sempre tentando fazer com que a jovem vivesse mais. Entre um exame e outro, ele sempre se declarava e chegou a deixar oficialmente sua esposa com o intuito de se casar, ao menos na intenção, já que no papel não podia, com Elena.
Só que não existe nenhuma prova de que esse sentimento era recíproco. O homem era mais de trinta anos mais velho e, embora a família estivesse agradecida pela dedicação de Carl, e ele tenha enchido a paciente de joias e outros presentes, Elena não tinha tempo e nem condições físicas de se apaixonar por quem quer que fosse, já que a tuberculose a tinha colocado, literalmente, em seu leito de morte.
Um ano e meio depois do encontro de Carl e Elena, aconteceu o esperado: ela faleceu por causa da tuberculose. Hora difícil pra todo mundo, inclusive para Carl, que estava certo de que aquela jovem era a mulher da sua vida. Os esforços não deram certo, os tratamentos alternativos que ele propôs falharam, e então era viver o luto, certo?
Para a família de Elena, sim. Certinho. Mas Carl não ia enterrar sua obsessão com a amada. Ou, melhor: ele iria sim, mas de um jeitinho bem… bizarro.
Primeiro, ele fez questão de bancar as despesas do funeral, incluindo a criação de um mausoléu para Elena, daquele estilo tipo de casinha, sabe? Que acaba virando uma capela, onde o corpo fica guardado e as pessoas podem ir ali, rezar… enfim. É um negócio caro, pensa, e ele disse que ia pagar.
Então ele construiu uma casinha ao redor do túmulo com uma portinha, e só ele tinha a chave. Como era ele que tava pagando, a família deixou por isso mesmo. Eles tinham visto que Carl se interessou muito por Elena e achavam que ele a amava de verdade. Sua morte foi um grande baque para o médico e, quando ele começou a ir rezar no mausoléu da paciente morta, ninguém achou de fato muito estranho.
Por dois anos, Carl ia todos os dias até o túmulo de Elena Hoyos, abria a portinha e entrava lá dentro, onde alegava ter diversas conversas com a alma dela. Na versão dele, ela também o amava e só não teve tempo de desfrutar deste amor. O comportamento era meio esquisito, as pessoas começaram a reparar, mas o luto é uma coisa muito peculiar, cada um vive o seu…
E aí você pergunta: ué, Erika, mas ele não tinha mulher e filhas? Onde elas estavam?
Pois então: quando conheceu Elena, Carl abandonou sua família porque tinha certeza de ter encontrado a alma gêmea. E como eu disse quando falei do casamento da jovem, naquela época ou não tinha muito jeito de divorciar ou dava trabalho, então ele e Doris continuaram casados, no papel, mas já viviam separados.
Nesses dois anos em que visitava diariamente o mausoléu da amada, ele quase não manteve contato com a esposa e as filhas, e se prendia cada vez mais naquele mundo de solidão dentro do cemitério, acreditando – ou, pelo menos, é o que dizia – estar conversando com a jovem morta.



Em uma dessas conversas imaginadas por ele, Elena pediu que ele a tirasse dali e a levasse para a casa. Aí, em vez de dizer algo como “não posso, fantasma, você já morreu, aqui é sua casa agora”, o que Carl fez foi montar uma carroça e, na calada da noite, tirar o corpo de Elena de lá e levá-lo, literalmente, para casa.
Nesse ponto, como já tinham dois anos que ela tinha falecido, ele fez o que pode para retardar a decomposição do corpo, com produtos químicos, tipo formol, que ele pegava escondido do estoque do hospital. Mas nem todo o estoque de formol do mundo iria impedir o tempo de agir, e, quando o cadáver de Elena chegou à casa de Carl, já estava caindo aos pedaços.
Literalmente.
Então, Carl começou a fazer algumas gambiarras para manter o corpo mais ou menos junto, colocando cabides e tecidos dentro de seu tórax, por exemplo. Ele passava uma coisa nos panos que deixava ela parecendo uma boneca de cera, bem bizarra mesmo. Até tirou os olhos de verdade e colocou olhos de vidro, a transformando em uma boneca macabra.


Ele fez uma peruca para ela, com os cabelos da própria Elena, dados a ele pela mãe dela, antes do enterro, e a vestia com roupas diferentes e joias. Para disfarçar o cheiro da decomposição, era perfume pra cá, desinfetante pra lá, e taca formol em tudo.
Como isso não iria passar batido, o pessoal do hospital acabou percebendo os roubos de material e, em dado momento, ele foi mandado embora. Sem dinheiro, sem família e morando em um barraco com uma espécie de noiva-cadáver, Carl recorreu à esposa, a sua esposa de verdade, e ela passou a lhe mandar algum dinheiro.
Mal sabia ela que o que estava bancando era roupas novas e joias para a falecida…
Assim foi: Carl tinha uma boneca de cera que, na realidade, era um cadáver, que ficava sempre de olhos abertos, que dormia junto a ele em sua cama, tão cheia de gambiarras que, quando foi descoberto, o corpo de Elena não tinha mais NADA a ver com suas verdadeiras feições. Nem as proporções eram as mesmas.
Ah, e quer saber de uma parte bem esquisita disso tudo? Isso, de descobrirem o corpo, só aconteceu SETE ANOS DEPOIS de Carl tirá-la do cemitério. Pior: por causa de uma fofoca.


Key West é uma ilha ao sul da Flórida que, de acordo com o último Censo, tem pouco menos de vinte e cinco mil habitantes. Se é quase deserta nos dias de hoje, imagina naquele tempo, mil, novecentos e quarenta! Como em qualquer boa cidade pequena do interior, rumores começaram a correr dizendo que o esquisito médico alemão estava morando com um cadáver.
O boato chegou aos ouvidos de Florinda, irmã de Elena e uma das únicas sobreviventes da família, que praticamente morreu toda por tuberculose, e lá foi a ex-quase-cunhada confrontar o alemão.
Eis que ela se depara com a bizarrice toda e descobre que o corpo de sua irmã já estava fora do túmulo há ANOS, sendo desrespeitado de todas as formas. Ninguém sabia exatamente o que Carl fazia com ela, mas dá pra imaginar, né? Com a obsessão que nutria, por uma mulher muito mais jovem e muito bonita, e com essa mania do patriarcado de achar que mulheres são objetos de prazer, tirar o corpo do cemitério para que ela fizesse companhia enquanto ele ouvisse rádio era que não foi.
Quem levantou as primeiras hipóteses de abuso de cadáver, a famosa necrofilia, foi a equipe médica que examinou o cadáver, depois que ele foi recuperado pelas autoridades, e viu que ela tinha um tubo de papel no lugar do que seria a sua vagina.
Tirem suas próprias conclusões…
E se você acha que a história termina com Carl Tanzler preso e Elena finalmente descansando em paz em seu túmulo, eu só te digo: senta. Porque senão você vai cair pra trás.
Uma audiência foi marcada e o médico alemão alegou o que te contei ao longo do episódio: que foi por amor e que a fantasma de Elena é que pediu para que ele a tirasse de lá. Nessa época, ele já era um idoso, com mais de sessenta anos, e as autoridades não viram nele uma ameaça, mas um homem bem lelé da cuca.
Então, ele não foi preso, não pagou multa nem nada. Apenas voltou para casa. Passou a morar perto de sua esposa, Doris, que sentiu uma espécie de pena do cara e ajudou ele financeiramente até o resto de sua vida.
Com todo respeito a Doris, mas como papel de trouxa é uma coisa que a gente gosta de fazer, lá estava ela, de novo, bancando um novo brinquedinho para o marido: ele fez uma esfinge, uma espécie de boneca, dessa vez boneca mesmo, em tamanho real, de Elena, para que ela continuasse morando com ele.
Bizarro? Escuta essa:
As autoridades recuperaram o cadáver de Elena Hoyos e, em vez de retorná-lo ao cemitério, dando ao corpo o descanso e a privacidade de que merecia desde o início, o que fizeram foi COLOCAR O CADÁVER EM EXIBIÇÃO.
Gente, não tem limites para o quanto a mulher é um objeto, né? Nem os papas que são mergulhados em formol e que tem os corpos conservados lá na basílica de São Pedro, no Vaticano, ficam à disposição do público, mas Elena foi vista por mais de SEIS MIL PESSOAS antes que a polícia achasse que era uma boa parar o showzinho.
Brincadeira, né?
Aí, quando finalmente Elena volta ao cemitério de Key West, o que fazem é colocá-la em um novo túmulo, sem marcação, para evitar que Carl ou qualquer outra pessoa mexesse novamente no cadáver. Com isso, quem sofreu foi Florinda, a irmã de Elena, e seus familiares vivos, que não poderiam mais ir até seu túmulo para prestar homenagens e conversar na forma de monólogo com a tumba, como pessoas normais fazem…
E, pra coroar tamanha falta de noção, algumas lendas urbanas surgiram quando o próprio Carl faleceu, em mil novecentos e cinquenta e dois, aos setenta e cinco anos de idade.
Ele morreu em casa, e seu corpo só foi encontrado cerca de três semanas depois. Uma versão da lenda urbana diz que ele morreu na cama, abraçado à boneca que imitava Elena. Outra, que ele foi encontrado no chão de sua sala, atrás do piano, e que a boneca estava ali também.
Contudo, a versão mais assombrosa não diz onde ele morreu ou se a boneca estava na cena, mas diz que, quando morreu, Carl Tanzler tinha posse dos verdadeiros restos mortais de Elena, que foram devolvidos a ele pelas mesmas autoridades que a expuseram ao público.
Nessa versão, ele teve ajuda para trocar o corpo enterrado pela boneca de cera e ficar, até o resto de seus dias, com o cadáver, que era a sua própria versão do amor de sua vida. E que, ao ser enterrado, o fizeram com os restos mortais dela, para que nunca mais se separassem.
Como Elena foi enterrada sem marcação, nunca saberemos se essa, a mais assustadora, é realmente a verdadeira…
Roteiro e pesquisa: Lais Menini